segunda-feira, 29 de março de 2010

O que é melhor no mercado: o "timing" ou a tendência?

Alexandre E. Santo
Economista da Way Investimentos e diretor do curso de Relações Internacionais da ESPM-RJ
E-mail: aesanto@wayinvestimentos. com.br

29/03/2010

Ser professor universitário exige um comprometimento enorme! Tudo que dizemos em sala de aula é passível de cobrança a qualquer momento pelos alunos. Eles estão sempre atentos, muitas vezes querendo nos colocar em situações embaraçosas.

Assim sendo, é preciso ter muita responsabilidade com o que se diz, pois eles serão imperdoáveis com possíveis erros. A situação é ainda pior quando o professor possui experiência profissional na matéria em que leciona, o que é meu caso.

Recentemente, encontrei um ex-aluno, do semestre passado, que me questionou: "Professor, no dia 9 de outubro de 2009 fiz questão de anotar no meu caderno que o senhor sugeriu que a bolsa estava cara e era preciso cuidado. Naquele dia o Ibovespa estava em 64 mil pontos. Estamos, hoje, em torno de 70 mil (9% a mais). E agora?"

Primeiramente, meu ex-aluno está correto, pois em 64 mil pontos eu efetivamente acreditava que o mercado já estava bem precificado. O ponto é que, na maioria das vezes, os investidores estão de olho no "timing" e não nas tendências. Em outras palavras, querem comprar na mínima e vender na máxima, como se tivessem bola de cristal e a clarividência para entrar e sair no momento mais apropriado.

Daí, por exemplo, a escola gráfica ser tão cultuada pela grande maioria dos participantes do mercado. Nela, os investidores buscam acertar o melhor momento para operar determinada ação ou mesmo o mercado em geral, enquanto na escola fundamentalista está-se analisando as perspectivas futuras da empresa, seus números contábeis, múltiplos etc.

Evidentemente que o "timing" é importante, mas é dificílimo estar com ele do seu lado a todo o tempo. Quando o referido aluno cobrou pelo meu "erro", fui pesquisar o comportamento da bolsa nesse período. Sempre admitindo que estatisticamente a média é um bom estimador, constatei que do dia 09 de outubro de 2009, até o dia 18 de março (cinco meses), a média do Ibovespa diário médio foi de 67.068 pontos.

Nesse mesmo período o CDI rendeu 3,65%, sem risco algum. Igualmente no mesmo período, o Ibovespa oscilou entre uma mínima de 60.166 e uma máxima de 71.068, uma amplitude de variação de 18%.


Voltando um pouco no tempo, recordo que, em setembro de 2005, já alertava aos clientes da asset em que trabalhava que o mercado imobiliário americano tinha toda a característica de estar formando uma bolha de preços insustentável e que era preciso atenção, pois à hora em que as condições normais fossem restabelecidas as consequências sobre a economia global seriam imprevisíveis. Dois anos depois vieram os primeiros sinais da crise dos subprimes. Acertei a tendência, errei o "timing".

Em minha visão, buscar os movimentos mais longos (a tendência) é muito mais importante do que viver o estresse diário, o sobe e desce frenético das ações, especialmente para alguém que busca focar o mercado como investidor de longo prazo e não um especulador, que só está interessado em tirar proveito da volatilidade do curto prazo. Acredito que as chances de voltarmos a verificar novas quedas mais à frente nas bolsas não são desprezíveis, daí aconselhar muita cautela.

Sou da opinião de que não é interessante correr o risco da bolsa em troca de ganhos pouco expressivos, especialmente em horizontes temporais inferiores a três anos. Se fosse para mencionar um número, pelo menos 30% acima do CDI. Ou seja, se esse ano de 2010 espera-se uma Selic média de 10%, o Ibovespa teria de se valorizar pelo menos 13% para que o risco compense as possíveis noites insones. Lembremo-nos de que a teoria clássica das finanças defende a tese da relação risco x retorno. Assim sendo, não se deve avaliar um investimento somente pela rentabilidade proporcionada.

Minha resposta ao aluno é: se corrigirmos os 64 mil pontos do dia 09 de outubro pelo CDI de 3,65% encontraremos 66.330 pontos, muito próximo da média do Ibovespa nesse período (67.068 pontos). Em outras palavras, será que valeu a pena correr o risco de estar posicionado? Se formos analisar pelo ganho adicional (738 pontos) não me parece compensador ter passado pela montanha russa dos preços.

Se formos avaliar pelo "timing", talvez sim, talvez não, depende do momento de entrada e saída de cada um. Para alguns pode ter sido muito ruim, caso de quem vendeu nos 60 mil. Para outros, caso de quem comprou a 64 mil e vendeu a 71 mil pontos, certamente foi bom. Mas isso só deve ter ocorrido para aqueles que possuem dons mediúnicos...

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