quarta-feira, 17 de março de 2010

Galeazzi, discreta cresce 25% a cada ano

Do Pão de Açúcar, recebeu R$ 16,5 milhões em 2 anos

Claudia Facchini, de São Paulo
17/03/2010
Davilym Dourado/Valor

A consultoria Galeazzi & Associados, fundada há 15 anos por Claudio Galeazzi e Glauco Abdala, cresce a uma taxa anual de 25% desde 2007, percentual estimado também para este ano. O faturamento não é revelado, mas apenas do Pão de Açúcar, o maior grupo varejista do país, a firma embolsou cerca de R$ 16,5 milhões nos últimos dois anos.

O contrato com o Pão de Açúcar vai até dezembro, pelo menos, mas Claudio Galeazzi, que passou mais de dois anos reestruturando a varejista na mesma sala ocupada por Abilio Diniz, acionista e presidente do conselho de administração do Grupo Pão de Açúcar, volta agora à Galeazzi, instalada no bairro Brooklyn Novo, em São Paulo.

A decoração do escritório é simples e a sala dos sócios-diretores é ocupada por uma bancada, à qual os executivos se sentam lado a lado, entre eles o filho de Claudio Galeazzi, Luiz, hoje com 42 anos.

Uma sala ao lado está disponível para os outros 50 sócios e consultores, mas, na semana passada, estava quase vazia. "Ainda bem. Isso quer dizer que estão todos fora, nos nossos clientes", disse um dos sócios-diretores, André Pimentel, de 45 anos.

Abilio chamou Claudio para presidir a varejista após os positivos e rápidos resultados obtidos por sua consultoria na reestruturação da rede de supermercados Sendas, no Rio, que vinha dando dores de cabeça ao grupo desde 2004.

Antes de fundar sua própria consultoria, Galeazzi já havia comandado várias empresas em processo de reestruturação como a Artex, Mococa, Vila Romana, Cecrisa e Lojas Americanas. Abdala já havia sido executivo da Bristish American Tobacco (Souza Cruz), Xerox e General Electric. Atualmente são raros os casos de consultores assumindo o leme dos negócios dos clientes.

"A ideia é não nos perpetuarmos nas empresas em que realizamos projetos", diz Pimentel. Todos sabiam que o mandato de Galeazzi como presidente do Pão Açúcar tinha prazo para acabar. Esse prazo era o fim de 2009, mas, com o estouro da crise, foi ampliado em um ano. Passado o susto, Galeazzi decidiu em fevereiro que já era hora de ir embora. Apesar de não ser uma surpresa, ainda assim as ações do Pão de Açúcar caíram após a sua saída, no início de março, o que mostra a confiança dos investidores em seu trabalho.

No período em que esteve dentro do Pão de Açúcar, Galeazzi agiu como se fosse um cliente da Galeazzi & Associados, e um daqueles "chatos". Ele foi ainda mais exigente, diz Pimentel, que trabalha ao lado de Galeazzi no Pão de Açúcar desde 2007. Terminada sua gestão como presidente-executivo da varejista - cargo ocupado agora por Enéas Pestana - Galeazzi volta ao outro lado do balcão, aos 70 anos.

Mas os projetos da Galeazzi & Associados no Pão de Açúcar ainda não terminaram - a firma de consultoria, por exemplo, participará ao longo deste ano da integração da Casas Bahia e Ponto Frio, negócios recém-adquiridos. Até o fim do ano, pelo menos, Galeazzi e Pimentel estarão envolvidos com a varejista. Galeazzi foi ainda convidado por Diniz a participar das reuniões do conselho do Grupo Pão de Açúcar, para dar opiniões.

Em suas demonstrações financeiras, o Grupo Pão de Açúcar detalha as informações sobre o contrato com a Galeazzi & Associados. Segundo o relatório, a empresa pagou R$ 11,978 milhões em 2008 e R$ 4,599 milhões em 2009 à firma de consultoria pela "prestação de serviços de assessoria na gestão das operações no Rio de Janeiro (Sendas Distribuidora) e do Nordeste (Companhia Brasileira de Distribuição - CBD), bem como no processo de integração das operações entre a companhia e a Globex (Ponto Frio).

"Claro que o trabalho com o Grupo Pão de Açúcar trouxe visibilidade, mas o nosso número de clientes na área de varejo não é maior do que de outros setores. Essa é uma percepção errada sobre a Galeazzi ", disse Pimentel. Fontes próximas à empresa garantem, contudo, que o processo bem-sucedido de reestruturação do Pão de Açúcar transformou-se em uma vitrine para a firma de consultoria, que passou a ser mais procurada por outras varejistas.

Segundo Pimentel , a firma de consultoria já atendeu mais de 100 clientes nos últimos 15 anos - o Pão de Açúcar é um deles, como a Lojas Americanas, Avipal e grupo O Estado de S. Paulo.

Há três anos, a receita da Galeazzi & Associados cresce a uma taxa em torno de 25% ao ano. "Nada indica que 2010 será diferente", afirma Pimentel.

Quando Galeazzi anunciou que passaria o bastão da presidência do Pão de Açúcar para Enéas Pestana agora em março, e não apenas no fim deste ano como o previsto, houve quem especulasse que as relações com Diniz pudessem estar estremecidas. Não foi isso que ambos deixaram transparecer no encontro em que participaram juntos com a imprensa e analistas. Além dos elogios mútuos, havia um tom emocionado de despedida nas declarações de Diniz. "Não foi fácil aceitar que o Claudio não esteja esteja mais conosco todos os dias", disse o empresário.

E não se trata de velhos amigos. Até ser contratado para fazer a reestruturação da Sendas, há apenas três anos, Diniz e Galeazzi eram apenas conhecidos. Pessoas que conhecem Galeazzi duvidavam se ele não entraria em atrito com Diniz, já que ambos possuem personalidades e opiniões fortes. Sem negar a origem italiana, Galeazzi é, às vezes, "pavio curto", descreve uma fonte.

O seu entrosamento com Diniz, para a surpresa dos mais descrentes, não poderia ter sido melhor. Galeazzi e Diniz têm algumas características em comum - o bíceps bem trabalhado e musculoso é só uma delas. O consultor também gosta de levantar peso e de se manter em forma. Mas a maior qualidade de Galeazzi, na avaliação de um experiente executivo, foi a discrição. Ele não precisava se impor ou se sobrepor a Abilio Diniz, que gosta de falar o que pensa. O empresário já escreveu livros e mantém um site com conselhos e opiniões sobre os mais diferentes assuntos.

O histórico do grupo varejista também não era dos mais fáceis. Diniz entrou em confronto com os dois primeiros executivos que ocuparam a presidência executiva do Pão de Açúcar, Augusto Marques Cruz e Cassio Casseb. O empresário fez publicamente críticas a ambos, sem dissimular seu descontentamento.

"Iniciei a profissionalização [do Pão de Açúcar] em 2003. Enfrentei inúmeras dificuldades e cometi alguns erros", disse Diniz num encontro com a imprensa há duas semanas, em uma clara referência aos dois ex-presidentes da companhia.

Ao ser questionado se o sucessor de Galeazzi teria "carta branca", Diniz respondeu que "ninguém tem carta branca". "Nem eu. Isso não existe na vida", disse o empresário, dando a entender que sabia a que a pergunta se referia. Diniz é visto como alguém que não abre mão do comando. "Não abro mão da minha responsabilidade como presidente do conselho", rebateu Diniz, ao negar que alguma vez tivesse dito que voltaria para o dia-a-dia da empresa, que agora tem na presidência Enéas Pestana, ex-diretor-financeiro, e Claudio Galeazzi, como consultor e conselheiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário