quinta-feira, 25 de março de 2010

Boa perspectiva da economia ajuda na queda da inadimplência

Adriana Braz para o Valor, de São Paulo
25/03/2010

A inadimplência das empresas apresentou queda nos últimos meses, reflexo direto da melhora da atividade econômica e da menor taxa de desemprego. Dados da Serasa Experian mostram que o índice começou a cair em novembro, depois de 14 meses de elevação da inadimplência, entre setembro de 2008 e outubro de 2009, em função da crise financeira global.

Luiz Rabi, gerente de indicadores de mercado da Serasa Experian, lembra que esse foi um período adverso na inadimplência das empresas. "A partir do final de 2009, houve uma inversão no volume de registro inscrito na nossa base de dados, e uma trajetória de queda se estabeleceu", diz. O indicador Serasa Experian é formado por três blocos de dados: cheques devolvidos (considera a segunda devolução), protestos de títulos em cartórios e dívidas não pagas a bancos.

Em janeiro, o índice caiu 14,6% e, em fevereiro, 8,1%, em relação aos meses de 2009. Rabi ressalta que o fato de os bancos públicos terem suprido o mercado de crédito e de o governo ter reduzido o IPI de automóveis, motos e produtos da linha branca foram medidas fundamentais para permitir a recuperação da atividade econômica. "Isso tudo acabou favorecendo a geração de caixa das empresas, que começaram a pagar as dívidas e a colocar sua situação financeira em ordem", avalia. A tendência, segundo ele, é que a inadimplência continue em queda este ano. Se em 2009 houve forte alta na inadimplência, de 18,7% sobre 2008, este ano Rabi estima que o índice volte aos patamares do período pré-crise, entre 5% e 6% no ano.

Dados do Banco Central (BC) mostram que a inadimplência do segmento empresarial estava em 3,8% em janeiro de 2010, mesmo índice de dezembro do ano passado. Segundo Rabi, essa diferença existe porque a metodologia usada pelo BC considera as dívidas em atraso há 90 dias. No caso da Serasa Experian, os dados para os registros inscritos são passados pelos bancos, que enviam o CNPJ em débito, mas não informa há quanto tempo a dívida está atrasada.

Na avaliação de Andreas Suma, diretor sênior para a América Latina da FICO, especializada em aplicações de tecnologias analíticas para empresas financeiras, os principais fatores que permitiram a queda na inadimplência foram o menor desemprego e o crescimento econômico brasileiro, o que aumentou a renda dos consumidores e, consequentemente, o consumo. "Com o aumento, ou retomada, da renda, as pessoas passaram a voltar a pagar suas dívidas", constata.

Paralelamente, no fim do ano passado, grandes bancos, como Itaú e Bradesco, anunciaram a elevação de recursos destinados ao crédito ao consumidor. "Essas instituições esperam que a média de consumo de crédito no Brasil aumente cerca de 20% em 2010", afirma Suma. Com mais dinheiro disponível para empréstimos no mercado, a tendência é de que haja um aumento na inadimplência em reais em 2010, mesmo com a queda no percentual de contas inadimplentes. O executivo faz um alerta sobre os novos consumidores, que terão acesso ao crédito pela primeira vez. "É preciso educar esse consumidor iniciante a usar o crédito com bom senso, com consciência", pondera.

Suma aponta ainda outro fator que ajudou a reduzir as taxas de inadimplência: a melhora na capacidade de cobrança dos bancos brasileiros. "As instituições financeiras estão mais sofisticadas, identificam melhor os diferentes segmentos para atender a cada um mais adequadamente", avalia. Segundo ele, essa percepção não é só em relação ao Brasil, mas no mundo todo. "A cobrança é sempre uma balança, um equilíbrio, entre como fazer de modo mais eficiente, com o menor custo, e de que maneira as instituições podem melhor a comunicação com cada segmento de seus cliente."

João Leandro Bueno, diretor da consultoria AT Kearney, afirma que o panorama positivo para 2010 da economia faz com que as empresas tenham boas perspectivas e, assim, possam quitar as dívidas em atraso. Com isso, aumentam a sua capacidade de conseguir mais crédito. "Este ano, será de retomada dos investimentos", prevê. Por isso, Bueno estima que a tendência é de a inadimplência cair e apresentar índices próximos aos registrados em 2008, antes da crise internacional.

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