segunda-feira, 29 de março de 2010

O mundo agora pertence à geração do Facebook

Lucy Kellaway
29/03/2010

No café da manhã da última quarta-feira, minha geração descobriu que já era. Estava me inteirando do noticiário da terça-feira pelo computador, mas assim como a maior parte das pessoas da minha idade, nunca acredito totalmente em uma coisa enquanto não a vejo impressa em uma grande folha de papel, que de uma maneira antiquada é deixada na porta de minha casa pelo entregador. Portanto, para mim a ficha só foi cair na quarta-feira: o mundo agora pertence à geração que veio depois da minha.

No pé da primeira página do "Financial Times" estava um texto dizendo que o Facebook agora é maior que o Google. Nos Estados Unidos, mais pessoas visitam hoje o site de relacionamentos, para conversar umas com as outras e trocar fotografias e piadas de bêbados em festas, do que recorrem ao Google em busca de roteiros de viagens, averiguar a ortografia de uma palavra ou procurar pornografia na internet.

Para mim, as redes de relacionamentos são a coisa que mais separa os jovens dos não tão jovens. Na maior parte dos outros assuntos, não há tanto a escolher entre pessoas de 50 anos e as de 15, além de um pouco de experiência e muitas rugas. Todo mundo usa jeans. Mas os jovens de 15 anos vivem no Facebook, enquanto os cinquentões não o entendem.

Isso não é pouca coisa: é um gigantesco abismo de mentes entre duas gerações sobre o que é não só uma maneira diferente de se comunicar, como também uma maneira diferente de viver.

O Google é uma coisa natural para as pessoas mais velhas porque fomos ensinados a procurar as coisas no ensino primário. É como uma biblioteca, só que melhor: você não precisa entrar num ônibus e a coisa que você quer nunca está emprestada para outra pessoa. O e-mail também é uma coisa natural para nós. Podemos ainda brigar com os floreios estilísticos dessa mídia monótona, mas entendemos perfeitamente o princípio. Uma pessoa se comunica com outra, só que com uma rapidez muito maior com que o carteiro deposita uma carta sob nossa porta.

Minha geração pode até usar o Twitter, em último caso. Ele é um tipo de exibição, e somos tão bons nisso quando qualquer um nascido uma década ou duas depois.

Mas o Facebook continua sendo uma coisa muito estranha. Para nós, o sentido da comunicação é que ela é uma atividade consensual entre duas pessoas. Gosto de conversar com um amigo de cada vez, o que sempre nos permite variar o tom e o conteúdo para que eles se adequem à pessoa com quem estamos conversando. Quando lidamos com mais de um ou dois amigos de uma só vez, ficamos travados. Pense na perturbação que é decidir quem você vai convidar para ir com quem em um jantar.

Por outro lado, a ideia de que a comunicação se tornou uma transmissão aleatória para 500 "amigos", quando o assunto é o lugar onde você esteve na noite passada, é uma coisa completamente incompreensível. Assim como a ideia de você ficar parado horas e horas diante da tela do computador, pasmado com as mensagens aleatórias de um grupo de amigos tão grande que você não consegue dar conta de todos.

Esse abismo entre as gerações Facebook e a não-Facebook é maior que o que existia entre a minha geração e a de meus pais. Meu pai gostava de Verdi, eu gostava dos Rolling Stones. Ele achava que a minha música era apenas barulho, eu achava a dele esquisita. Mas no fim era a mesma bolacha de vinil de 12 polegadas que rodava no toca-discos, e ouvir a música envolvia sentar-se no mesmo sofá. Minha mãe nunca jogava comida fora, e embora eu não gostasse de ver uma batata comida pela metade dentro da geladeira, eu entendia que ela havia passado por racionamentos (durante a Segunda Guerra Mundial) e desse modo era constitucionalmente incapaz de jogar comida fora.

Pedi aos meus filhos que me explicassem o Facebook, mas não sou nada esperta. Eles não conseguem explicar porque não entendem o que estou perguntando. O tamanho da minha perplexidade não faz sentido para eles.

Quer ou não entendamos o significado disso, minha geração terá que aderir logo. Recentemente uma amiga de minha filha reclamou que uma vez que seu avô não está no Facebook, ela não conseguiu desejar feliz aniversário a ele. O pensamento de pegar um telefone -quanto mais comprar um cartão- não passou pela sua cabeça. A notícia da semana passada deixa a coisa clara. Se no futuro quisermos receber cartões de feliz aniversário (ou entrar em contato com qualquer pessoa com menos de 40 anos), teremos que entrar para o Facebook, quer o entendamos ou não.

Até onde consigo ver, há apenas um risco para o site. Na semana passada, li que 36 milhões de mães americanas aderiram ao site para ficar de olho nos filhos. Ter sua mãe como "amiga" no Facebook certamente é uma coisa tão deprimente quando era na nossa época ir a uma discoteca acompanhada pelo pai.

Lucy Kellaway é colunista do "Financial Times". Sua coluna é publicada às segundas-feiras na editoria de Carreira

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