terça-feira, 20 de abril de 2010

Fraude em fundos ' subprime ' deixa auditoria sem palavras

Jonathan Weil, de Nova York
Colunista da Bloomberg. As opiniões expressas neste artigo são pessoais.

19/04/2010

Agora que a Securities and Exchange Commission (SEC) acusou a Morgan Keegan de supervalorizar fraudulentamente títulos hipotecários de alto risco ( " subprime " ) em vários de seus fundos de investimento, há um ator importante nessa saga que ainda não deu um pio.

Trata-se da PricewaterhouseCoopers (PwC), uma das quatro grandes firmas de auditoria que abençoou as demonstrações financeiras dos fundos referentes ao ano fiscal de 2007. O engraçado é que, ao menos oficialmente, a PwC continua firme em sua posição de que nada havia de errado com os números dos fundos. Isso é muito mais difícil de acreditar, agora, do que poderia ter sido antes da semana retrasada.

A SEC não foi a única agência reguladora que apresentou uma denúncia acusando a Morgan Keegan de enganar investidores. O mesmo fez a Financial Industry Regulatory Authority, cujas alegações centraram-se nos materiais de marketing e de venda dos fundos. O mesmo também fizeram agências reguladoras de valores mobiliários nos Estados do Alabama, Kentucky, Mississippi e Carolina do Sul, que, juntas, estimaram em cerca de US$ 2 bilhões o total de prejuízos dos investidores.

Até agora, a PwC ainda não retirou sua chancela de quaisquer de seus pareceres de auditoria para 2007 sobre a contabilidade dos fundos. Um porta-voz da PwC, Steven Silber, não quis comentar. Os fundos, não estão mais sob gestão da Morgan Keegan, que cancelou seu contrato com a PwC em 2008.

As acusações da SEC, que também citam um ex e um atual funcionário da Morgan Keegan como réus, enfocam cinco fundos cujos valores despencaram depois que a crise das hipotecas ganhou força em 2007. Em um caso, os fatos descritos pela SEC sugerem que a PwC pode ter perdido uma possível oportunidade de identificar a suposta fraude durante seu trabalho de auditoria de fim de ano.

Entre outras coisas, a acusação da SEC diz que o gestor da carteira do fundo manipulou cotações que obteve de pelo menos uma corretora não identificada, ao mensurar o valor dos títulos em poder do fundo. Por vezes, o gestor persuadiu um funcionário da corretora a fornecer cotações que superavam os valores dos títulos. Outras vezes, ele conseguiu que o funcionário se certificasse de que sua firma se absteria de fornecer cotações inferiores aos valores inscritos na contabilidade dos fundos, disse a SEC.

Um episódio em que a acusação da SEC menciona o auditor externo dos fundos ocorreu em 30 de março de 2007, último dia de negócios no ano fiscal para a maioria dos fundos. Segundo a denúncia, o auditor solicitou da corretora cotações de uma série de títulos nas carteiras dos fundos para a auditoria final do ano, inclusive de uma obrigação de dívida colateralizada chamada Knollwood. A corretora respondeu enviando as cotações um mês depois, mas não forneceu a cotação da Knollwood.

" Em consequência, o título Knollwood continuou a ser mantido em US$ 92, um preço superior a seu valor justo, no item valor patrimonial " , disse a SEC. O valor patrimonial é o número que mais interessa a investidores em fundos. A cadeia de eventos, conforme descrita pela SEC, sugere que a PwC pode não ter cumprido seu dever de dar seguimento à solicitação de informações, deixando de questionar a ausência da cotação dos títulos Knollwood.

Sabe-se lá por que a PwC não se absteve de chancelar os pareceres de auditoria dos fundos para o ano fiscal de 2007. O dever dos auditores é firmar cartas de opinião favorável apenas se obtiverem um " elevado nível de segurança " de que as demonstrações financeiras de um cliente estão apresentadas de forma imparcial, isso é o que dizem as normas de auditoria americanas. É difícil imaginar como a PwC pode sentir-se tão confiante, hoje, considerando que a SEC recém acusou seu ex-cliente de fraude contábil.

Talvez a PwC esteja aguardando o resultado final do processo iniciado pela SEC, que pode levar anos até um desfecho. Embora a SEC não tenha citado a PwC como ré, a empresa é alvo de uma ação legal iniciada por investidores no fundo. Assim, a PwC tem evidente interesse em evitar reconhecer que alguma das conclusões de suas auditorias possa estar errada.

A Morgan Keegan, corretora controlada pela Regions Financial, negou as acusações das agências competentes, assim como as pessoas citadas como réus nas denúncias. Em carta de 12 de abril aos clientes, John Carson, executivo-chefe, disse que a companhia " contestará a posição da SEC, porque acreditamos que os fundos foram geridos de acordo com o prospecto e as leis aplicáveis " .

Essa não é a primeira ação desse tipo iniciada pela SEC envolvendo um cliente da PwC. Em 2006, a SEC acusou um ex-sócio da PwC, Lawrence Stoler, de má conduta profissional por seu papel na aprovação de resultados falsificados por três fundos de hedge sob gestão da Lipper Holdings. Stoler, que não admitiu nem negou as alegações, aceitou, perante a comissão, permanecer impedido de atuar durante um ano. Edward Strafaci, gerente de portfólio de Lipper, foi condenado a seis anos de prisão.

Auditores logo tentaram vender a ideia de que não se pode esperar que eles detectem fraudes. Essa ideia nunca foi aceita pelo público em geral. Afinal, se os auditores não conseguem detectar fraudes, para que servem? Segundo as normas de auditoria nos EUA, o trabalho do auditor é certificar-se de que " as demonstrações financeiras estão isentas de distorções importantes, quer causadas por erro ou por fraude " . Em outras palavras, eles pelo menos têm de tentar.

Ou, como o influente contador britânico Lawrence Dicksee escreveu em seu livro de 1892, " Auditing " , um dos primeiros manuais sobre o assunto: " O auditor que é capaz de detectar fraudes é - tudo o mais mantido constante - um homem melhor do que o auditor incapaz de fazê-lo " . Dele não discordariam os investidores que perderam dinheiro nos fundos de investimento da Morgan Keegan. Pena que os auditores atuais não tenham lido seu livro.

Cartão de crédito preocupa governo

Novos consumidores e abusos das empresas e bancos podem elevar endividamento

Juliano Basile, de Brasília
19/04/2010

O governo resolveu endurecer o jogo contra as operadores de cartão de crédito. A principal razão do descontentamento do governo é o registro crescente de abusos por parte de bancos e operadoras, ao mesmo tempo em que novos consumidores passam a utilizar cada vez mais os cartões de crédito. O governo verificou que existem mais 30 milhões de novos consumidores aptos a utilizar cartões de crédito. São 25,9 milhões de pessoas que migraram das classes D e E para a classe C, entre 2002 e 2008. E 5,3 milhões de consumidores que foram da classe C para a B, no mesmo período.

O problema é que essa migração coincide com abusos cada vez mais constantes pelos bancos e operadoras de cartões e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer medidas de proteção a esses novos consumidores. A avaliação é a de que são consumidores, em sua maioria, humildes e que estão pagando a mais pelos serviços, sem saber as razões das tarifas.

O Ministério da Justiça verificou que os cartões de crédito correspondem a 36,5% de todas as queixas que são registradas nos Procons envolvendo assuntos financeiros. Existe um número tão grande de tarifas que os técnicos da Justiça acreditam que, ao invés de consumir pelo cartão, as pessoas vão acabar pagando dívidas. E boa parte dessas dívidas vêm de cobranças abusivas. Há desde a bitarifação, como a cobrança de anuidade e a de manutenção de conta, até tarifas que o Ministério nem sabe identificar o que são, como " tarifa de saque emergencial " , " programa passaporte " , " pague cartão " ou " cash by phone " .

" A maioria dos consumidores não sabe as razões dessas cobranças, mas o pior é que nem as atendentes das empresas conseguem explicá-las " , advertiu Ricardo Morishita, diretor do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC) do Ministério da Justiça. " Nós chamamos essas tarifas de SPP, ou ' Se Pegar, Pegou ' . "

Para o ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, está havendo o enriquecimento ilícito de empresas, em detrimento do poder e dos direitos dos consumidores. " São máquinas de sugar dinheiro da população. Não podemos mais permitir que esse setor seja tão desregulamentado " , enfatizou o ministro. Ele contou que o presidente Lula ficou bastante preocupado com essa situação e determinou a adoção de providências imediatas. O temor do governo é que os novos consumidores se afundem em tarifas. Assim, o que seria a oportunidade de comprar e estimular a economia pode se transformar numa situação de superendividamento da população.

" O presidente quer evitar que a prosperidade se transforme numa crise pelo uso do crédito " , resumiu Barreto. " Está ocorrendo uma apropriação do dinheiro dos consumidores de maneira inadequada. " O Ministério da Justiça avaliou que o mínimo que o setor de cartões pode fazer é fixar regras claras para a adoção de tarifas. Morishita deu como exemplo o processo de regulação das tarifas bancárias pelo Banco Central. O Conselho Monetário Nacional (CMN) editou uma resolução e fixou o que pode e o que não pode ser cobrado.

Para o diretor do DPDC, falta uma norma para proibir o envio de cartão não solicitado. Isso está acontecendo em grandes redes do varejo, que oferecem cartões como se fossem da loja, mas, na verdade, há tarifas embutidas. Também não há regras claras para definir a cobrança de anuidade.

O refugiado que virou empresário

Patrick Lo fugiu da China de Mao para criar, no Vale do Silício, a fabricante Netgear

Cibelle Bouças, de São Paulo
19/04/2010

Carol Carquejeiro/Valor

Guanghzou, também conhecida como Cantão, é uma das cidades mais importantes da China, com um PIB de US$ 118 bilhões. Por séculos, sua pujança econômica foi alvo de disputas por persas, árabes, portugueses, ingleses, japoneses. Mas para Patrick Lo, fundador da Netgear, as lembranças da cidade são também de momentos difíceis.

Patrick Lo nasceu em Guanghzou no ano de 1955. Em 1962, seus pais decidiram fugir da China, então sob o regime maoísta, em busca de um lugar que oferecesse liberdade de expressão. Para ter mais chances de sucesso na fuga, eles decidiram se separar e Lo foi enviado para a casa de uma tia em Macau (colônia portuguesa reintegrada à China apenas em 1999).

Em Macau, onde passou o restante da infância e fez o ensino fundamental, o garoto teve contato com sua primeira paixão: o rádio. " Toda noite, às oito horas, a família se juntava diante do aparelho para ouvir a radionovela em português. Era impressionante ver como éramos felizes em Macau, enquanto na China não, porque não havia rádio, nem liberdade " , diz ao Valor o executivo-chefe da Netgear, especializada em dispositivos de conexão à internet.

Após essa fase, Lo passou mais três anos em Hong Kong, morando com os avós, enquanto fazia o ensino médio. Nessa época conheceu a TV, ainda em preto e branco. " Assistir TV era caro. Então, só na quinta-feira à noite juntávamos a família e vizinhos para ver a programação. Era um evento " , diz.

Para muitas pessoas, vivências desse tipo tornam-se lembranças queridas, mas para Patrick Lo esses momentos determinaram sua escolha profissional. " Desde muito cedo percebi que só a tecnologia era capaz de influenciar a vida de milhões de pessoas. Meu objetivo sempre foi criar tecnologias que pudessem mudar a vida das pessoas, sobretudo as mais simples. "

O interesse levou Lo a estudar engenharia eletrônica nos Estados Unidos. No fim do colegial, ele conseguiu uma bolsa para estudar na Universidade Brown, em Rhode Island, em 1975. As condições financeiras eram precárias, mas ele conseguiu se formar e voltar para Hong Kong, com uma meta específica: reencontrar a namorada do colegial, com quem está unido até hoje. " Voltei para me casar, claro " , ri. Em Hong Kong, obteve o primeiro emprego como engenheiro, na Hewlett-Packard (HP), mas logo foi convidado para integrar a equipe da companhia no Vale do Silício, nos EUA, onde permaneceu até 1995.

Em seguida, começou a trabalhar na Bay Networks, onde, com apoio da direção da companhia, criou a Netgear, especializada inicialmente na produção de roteadores. " A Nortel comprou a Bay em 1998 e não demonstrou muito interesse pela Netgear, então busquei recursos e comprei a empresa " , conta Lo.

Ao longo dos anos, a companhia ampliou o portfólio com a produção de switches (equipamentos que encaminham o tráfego das informações na rede), placas de rede, pontos de acesso e controladores sem fio. No início do ano, a empresa lançou nos Estados Unidos um adaptador sem fio para conectar o computador à TV, produto cujo lançamento no Brasil está previsto para este semestre.

Hoje, a Netgear é uma das maiores companhias do segmento, com presença em 65 países. Listada na Nasdaq desde 2003, a empresa encerrou 2009 com receita líquida de US$ 686 milhões, queda de 8% em relação ao ano anterior, e lucro líquido de US$ 23,7 milhões, ante US$ 33 milhões em 2008.

No Brasil, a Netgear iniciou as vendas em 2007. No ano passado, vendeu no país em torno de 150 mil roteadores. A expectativa é de que o volume dobre neste ano. " O Brasil, assim como a Índia e a China, deve apresentar um forte crescimento de demanda por tecnologia " , afirma Lo. Para as vendas globais, o executivo estima um crescimento de 40%, retomando a média de crescimento anual observada antes da crise financeira global.

De acordo com o executivo, a expansão de vendas no Brasil, acima da média global, também se deve à ausência de competidores locais. " Na China, por exemplo, a concorrência é forte e o volume de vendas é muito mais alto, o que justifica a existência de uma fábrica no país " , diz. Ele observa também que há uma diferença significativa nos preços. Enquanto no Brasil um roteador é vendido por um valor próximo a R$ 90, na China o equipamento custa o equivalente a R$ 50.

Mas não foram só as vendas crescentes e a um patamar de preço mais alto que estimularam Patrick Lo a fazer sua primeira visita ao Brasil. O empresário avalia a instalação de uma fábrica no país para atender o mercado latino-americano. " Vamos dar um passo de cada vez. Primeiro, vamos melhorar a logística de vendas para, em seguida, instalar a fábrica, se as vendas mantiverem o ritmo previsto " , observa. Hoje, os produtos vendidos no Brasil são importados da China, onde a empresa possui fábrica desde 2003.

Além do Brasil, o executivo avalia a possibilidade de reforçar os investimentos na Índia. Entre os países do BRIC, diz, o único mercado sobre o qual continua reticente é a Rússia. " Nasci na China e conheço aquele país. Também entendo a Índia porque tem semelhanças com Macau " . No caso do Brasil, há um carinho especial devido ao português. " Já a Rússia, para mim, é um país estranho " , afirma.

Embora tenha tido contato com a língua portuguesa na infância, Lo não lembra do idioma. " Falo mandarim, cantonês, inglês e japonês. Mas português é muito difícil " , afirma. O executivo continua a visitar regularmente os países onde já viveu, por conta dos negócios. Em relação à terra natal, vê pouca possibilidade de um retorno definitivo. " Existe muita censura no país. Não tenho vontade de viver lá na condição atual. Ainda devo morar nos EUA, com minha família, durante um bom tempo. "

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Carrefour planeja aquisições no Brasil

Daniele Madureira, Ladka Bauerova e Andrew Roberts, de São Paulo e Paris
16/04/2010

O Brasil aumentou sua participação na receita global do Carrefour no primeiro trimestre, para 11,3%, ante 8,5% no mesmo período do ano passado. As vendas no país cresceram 16% até março e somaram € 2,7 bilhões (R$ 6,5 bilhões), de acordo com o balanço divulgado pela varejista ontem na França. Em conferência, o diretor de finanças, Pierre Bouchut, disse que o grupo pretende promover aquisições nos mercados brasileiro, chinês e espanhol.

Mesmo com o bom desempenho, a filial brasileira perdeu a liderança em 2009 para o Pão de Açúcar no ranking da Associação Brasileira de Supermercados (Abras). O grupo controlado por Abilio Diniz somou vendas de R$ 26,2 bilhões, contra R$ 25,2 bilhões da filial da varejista francesa.

"Eles [Pão de Açúcar] só passaram ao primeiro lugar por causa do Ponto Frio [adquirido em junho]. Mas nós temos a maior operação no segmento alimentício", afirma o diretor de finanças e gestão do Carrefour Brasil, Daniel Magalhães.

Dono de 114 hipermercados, 49 supermercados, 61 lojas do Atacadão e 376 do Dia, o Carrefour Brasil prevê abertura de 70 lojas este ano, de todas as bandeiras, com foco maior no Norte e Nordeste. "Nossa posição no Sul e Sudeste já está consolidada", diz Magalhães. As inaugurações devem consumir parte dos investimentos de R$ 2,5 bilhões anunciados para 2010 e 2011 no Brasil, acima da cifra de R$ 1,8 bilhão do biênio anterior. Na conta, além das lojas, estão incluídos novos investimentos na operação on-line (que teve início mês passado) e também em infraestrutura, logística e prospecção de terrenos. Aquisições, como mencionou o executivo francês, também estão previstas, mas serão à parte desse valor. E, sobre isso, Magalhães não comenta.

No mundo, as vendas do Carrefour aumentaram para € 24 bilhões no primeiro trimestre, em relação aos 22,7 bilhões obtidos em igual intervalo de 2009. A receita na França, que representa cerca de metade do total, subiu pela primeira vez em seis trimestres.

O grupo anunciou ainda planos de recomprar ações pela primeira vez desde 2007. A ideia é adquirir 6% de seus papéis. Pela cotação de ontem, o movimento custaria € 1,6 bilhão.

"Foi um conjunto positivo de resultados", diz o analista Fabio Fazzari, da Equita Sim, em Milão. "A recompra e a tendência nos mercados emergentes, especialmente na América Latina e Brasil, foram boas notícias." Na América Latina, as vendas em lojas existentes há um ano cresceram 10%.

Especialistas apontam redes do Nordeste como foco da empresa para reconquistar espaço perdido

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Magazine Luiza não quer cobra nem lagarto

Daniele Madureira, de São Paulo
16/04/2010
Davilym Dourado/Valor

Depois de perder o Ponto Frio para o Pão de Açúcar e a Insinuante para a Ricardo Eletro, ao Magazine Luiza restou crescer organicamente, o que pode ser bem demorado, ou buscar novos alvos. Partir para uma fusão ou ser comprada não são alternativas para a terceira maior rede de móveis, eletrodomésticos e eletroeletrônicos do país, afirma o seu superintendente, Marcelo Silva, que passou pelo Bompreço e pela Pernambucanas.

"Eu não acredito nesse negócio de juntar cobra com jacaré, isso não dá certo", diz o pernambucano de Palmares, 58 anos, que assumiu a empresa há exatamente um ano. Ser vendido, muito menos. "Jamais! O Magazine Luiza é a última virgem do mercado e não se deixará arrebatar por qualquer um". O qualquer um, no caso, poderia ser o Grupo Pão de Açúcar, um dos poucos no país com cacife para levar a empresa de R$ 2,8 bilhões de receita líquida em 2009, que reverteu o prejuízo de R$ 47,5 milhões de 2008 para um lucro líquido de R$ 50,4 milhões. O Pão de Açúcar vem dizendo informalmente que, se o negócio com a Casas Bahia for cancelado, a Máquina de Vendas e o Magazine seriam candidatos a uma nova associação.

Para Silva - que falou ao Valor pouco antes do anúncio, feito nesta semana, de revisão do acordo entre Pão de Açúcar e Casas Bahia -, quem se associa perde a identidade. "Eu fui do Bompreço, sei da força que esse nome tinha no Nordeste. Depois chegou o Walmart e o nome virou nada. Quando dois se juntam há sempre conflito de valores", diz. O Magazine não é um alvo fácil de levar, reconhece um executivo do varejo. "A Luiza [Trajano, presidente da empresa] tem muita personalidade e não iria se adaptar a uma associação", diz.

Silva sabe, é claro, que uma compra é diferente. "Numa aquisição eu imponho os meus valores sobre quem comprei, não preciso negociar", diz o superintendente, que pretende abrir 30 lojas este ano, para se somar aos atuais 456 pontos de venda presentes em sete Estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país. A questão é para onde voltar as baterias neste momento. Na opinião de especialistas e de fornecedores do varejo, o caminho natural para Magazine é o Nordeste, região que puxou as vendas de eletrodomésticos em 2009 e onde estão concentradas mais da metade das lojas da vice-líder Máquina de Vendas, resultado da fusão entre Ricardo Eletro e Insinuante.

Lá, varejistas como a paraibana Lojas Maia (140 lojas em nove Estados) e a pernambucana Credimóveis Novolar (39 lojas em três Estados) se destacam. Os competidores nordestinos estão a todo vapor: em março, a pernambucana Eletroshopping comprou a Hermol e passou a deter 140 lojas em seis Estados da região. A conterrânea Laser Eletro adquiriu a piauiense Armazém Nordestino para somar 146 pontos de venda no Nordeste.

Mas existem alvos atraentes no Sudeste, mercado original da Luiza e da Ricardo Eletro. A mineira Eletrozema, com 240 lojas, opera em Minas Gerais, São Paulo, Bahia e Goiás. A Edmil, dona de 54 lojas no sul de Minas, também poderia ser alvo. "A proposta deles [da Edmil] é ser a primeira loja de eletroeletrônicos de pequenas cidades", diz uma fonte.

No interior de São Paulo resiste a J. Mahfuz, criada em 1955 e dona de 38 lojas. Mas a joia da coroa do interior paulista e capital é a Lojas Cem, fundada em 1952, e que soma 170 lojas em São Paulo, Rio, Minas e Paraná. Sua controladora, a família Dalla Vechia não mostrou, até hoje, disposição de vender o negócio. "Estão bem consolidados, não têm problema de fluxo de caixa e conseguem ser competitivos", diz uma fonte da indústria.

Para um especialista em varejo, a gaúcha Colombo, dona de cerca de 360 lojas no Sul do país, em São Paulo e Minas, seria outro diferencial de peso. "É bem possível que a empresa caminhe para a venda, uma vez que o fundador, Adelino Colombo, não tem sucessores preparados para assumir e a rede vem se mostrando apática", diz uma fonte. "Qualquer administrador poderia, em pouco tempo, fazer crescer as vendas em até 15% lá".

No Rio, onde o Magazine Luiza não compete e a Máquina de Vendas pretende investir R$ 50 milhões para chegar a 100 lojas neste ano, existem outras oportunidades: Tele-Rio, dona de 28 lojas, e Casa & Vídeo, em recuperação judicial, mas dona de uma rede de mais de 70 lojas no Rio, em Minas e no Espírito Santo.

Um negócio fechado com qualquer uma dessas empresas seria mais um passo no movimento de quebra de paradigmas no varejo - um terreno tradicionalmente formado por empreendedores e marcado por estampar "a cara do dono", fosse ele Samuel Klein, Abilio Diniz ou Luiza Trajano. "Com as fusões, deixou-se um pouco de lado o ego, para se valorizar o crescimento do negócio", diz um consultor. Mas nem sempre essa conta fecha, como mostra a disputa entre Pão de Açúcar e Casas Bahia.

De qualquer forma, Ricardo Nunes e Luiz Carlos Batista, controladores da Ricardo Eletro e da Insinuante, respectivamente, dão mostras de que sempre é possível negociar. "São personalidades completamente diferentes que, por isso mesmo, mostraram maior capacidade de sinergia", diz o consultor. E a família Klein e Abilio Diniz? "Eles são diferentes, mas têm a mesma vontade de levar vantagem pessoal, o que sempre atrapalha".

Mesada e finanças da família são as duas noções básicas

A hora certa para falar de dinheiro com as crianças é quando ela começam a pedir "coisas"

Jacilio Saraiva, para o Valor, de São Paulo
16/04/2010

Davilym Dourado/Valor

Silvia Alambert: mesada a partir dos cinco anos, com valor pequeno que aumenta à medida que a criança cresce
Como criar filhos mais conscientes em relação ao dinheiro? A administração de uma mesada pode ajudar as crianças a cuidarem melhor das finanças no futuro? Quatro especialistas em educação financeira garantem que a mesada é uma iniciativa positiva, mas deve ser pontual e apresentada aos filhos a partir dos cinco anos de idade. Para manter o equilíbrio monetário no ambiente doméstico, os pais também devem evitar dívidas, planejar investimentos em poupança e previdência privada, além de manter conversas frequentes com os filhos sobre a real condição financeira da família. "É necessário quebrar o tabu de que não se conversa com criança sobre dinheiro", afirma a educadora financeira Silvia Alambert.

Para a especialista, a hora certa para falar de finanças com as crianças é quando elas começam a pedir "coisas". "A partir dos cinco anos, a criança vai ter uma percepção inicial sobre o dinheiro e já consegue realizar escolhas", diz. "Estará mais aberta a receber informações que poderão ser valiosas para o resto da vida."

Sílvia, que é diretora do The Money Camp Brasil, um programa de educação financeira que treinou mais de 2 mil jovens e crianças nos últimos quatros anos, acredita que o pagamento de mesada para os filhos é importante - mas a decisão depende de cada família.

"É uma ação positiva desde que os pais consigam transmitir conceitos de educação financeira e orientem as crianças sobre o uso do dinheiro", afirma. "A mesada permite que as crianças tenham contato com valores e sintam-se confortáveis com o seu manuseio, pois, ao crescerem, terão de lidar com esse assunto todos os dias."

De acordo com Sílvia, a mesada pode ser dada a partir dos cinco anos, com valores pequenos que aumentam à medida que a criança cresce. "Dessa forma, ela se sentirá responsável pelas próprias economias", diz. "A quantia não pode ser muito baixa a ponto de excluir a criança do seu grupo social, nem tão alta que o jovem não consiga realizar um esforço de planejamento para garantir objetivos maiores."

O importante, segundo ela, é que a oferta "caiba dentro do bolso da família" e passe a ser tratada como um acordo entre pais e filhos, com um dia marcado para o recebimento. "Caso contrário, se os pais quebrarem o trato, as crianças poderão entender as pessoas e o dinheiro como não confiáveis."

Segundo Reinaldo Domingos, presidente do Instituto de Educação Financeira (Disop) e autor dos livros Terapia Financeira e O Menino do Dinheiro, escrito para crianças, os benefícios da mesada valem o sacrifício. "Além de desenvolver o senso de responsabilidade, a administração de um pagamento mensal pode ensinar o quanto pode ser difícil fazer o dinheiro render quando não se tem controle sobre os impulsos de consumo", ensina. "Muitos adolescentes gastam além da conta e recorrem aos pais para conseguirem mais. Se a família ceder aos pedidos, os filhos acham que poderão gastar sem limites. Quando isso acontece, a mesada perde a função educativa."

Silvia diz que para criar filhos mais econômicos, deve-se mostrar a verdade sobre a condição financeira da família, conversar sobre como uma escolha poderá se refletir no futuro de todos e ainda apresentar a "logística" do dinheiro dentro de casa. Ela lembra que não é preciso que os pais digam quanto ganham, mas é importante não criar cenários falsos em relação à situação econômica familiar.

"Há pais que fazem contorcionismos para esconder momentos de dificuldade econômica ou, pior, só abrem o jogo quando a situação está à beira do precipício". Quando isso acontece, os filhos sentem-se enganados por terem sido excluídos de uma situação doméstica. "É necessário conversar sobre dinheiro. Os jovens têm uma percepção muito maior sobre o assunto do que os pais imaginam."

Além da mesada, os especialistas garantem que há outras formas de iniciar as crianças no caminho da educação financeira. "O uso dos cofrinhos para moedas também ajuda a criança a economizar", diz Domingos. "Os filhos precisam entender que, com o dinheiro guardado, poderão atingir objetivos da mesma forma que os adultos poupam para realizar seus planos."

Para o consultor de investimentos Márcio Nobre, os pais devem compartilhar com os filhos o orçamento da casa. "Esse assunto pode ser discutido e, se possível, até com a ajuda de uma planilha que mostre os gastos de energia, água e telefone", diz. "A economia é incentivada e deve ser explicado que, se as despesas continuarem altas, a mesada pode não ser mensal."

Os chefes da família precisam se organizar para pavimentar o futuro do casal e dos filhos. "O casal deve poupar parte dos ganhos para garantir despesas com estudos e com a aposentadoria". É recomendável, segundo ele, contribuir mensalmente com um plano de previdência privada, além de reservar uma economia para investir em renda fixa e variável - se o orçamento permitir. "Se não está sobrando nada para poupar, deve-se rever o orçamento doméstico para que sobre alguma coisa."

Para Nobre, entre as causas mais comuns de endividamento das famílias estão o hábito de não poupar e o incentivo desenfreado ao consumo. "Com a facilidade de crédito, o ato de gastar sem necessidade, apenas por causa de uma promoção ou pela facilidade de pagar em suaves prestações, leva ao acúmulo de contas", diz.

Quando a dívida for feita, é preciso eliminar primeiro as contas que cobram as taxas de juros maiores. Segundo pesquisa da Confederação Nacional do Comércio (CNC), a dívida mais comum é o cartão de crédito, com 72,5% do total das obrigações, seguido de carnês (27,4%) e financiamento de veículos (12,5%). "Por conta dos juros, as dívidas de cheque especial e de cartão de crédito devem ser evitadas a todo custo", diz Luiz Simões, professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi).

Educação financeira na grade curricular brasileira é uma forma de inclusão social

Para o mercado, inserir a educação financeira na grade curricular brasileira é uma forma de inclusão social.

Lições em família

Por Denise Bueno, para o Valor, de São Paulo
16/04/2010

Maria Beatriz tem apenas 4 anos. Ela acaba de fazer aniversário. Ganhou dezenas de presentes. Mas ficou faltando a Barbie Vida de Sereia. Como toda criança, pediu com jeitinho, com choro e com aquela insistência típica dos pequenos. Kelly Lubiato e Paulo Viana encerraram o assunto com uma séria conversa. "Dinheiro não nasce em árvore. Vem do trabalho e precisa ser bem usado", diz a mãe, que se prepara para receber a segunda filha, Heloisa, nos próximos dias.

A pequena Mabi, como é chamada, tem duas opções: esperar até o dia da criança, data mais próxima para presentes, ou juntar as moedinhas em seu cofrinho. Ansiosa como qualquer outra pessoa que tem um objeto de desejo em mente, Mabi corre para pegar todas as moedas que vê pela frente. E encontra outra regra. "Só pode juntar as moedas de casa, sem pedir para avós, tios ou amigos", ensina o pai.

Logo ela percebeu que seu sonho de consumo vai demorar um pouco para se realizar. "Mamãe disse que tenho de fazer oito montinhos de dez reais", diz, curiosa com a lógica matemática. Mal sabe ela que já tem um bom patrimônio num plano de previdência privada desde que nasceu, onde os juros compostos já começam a fazer uma grande diferença. "Na hora certa ela saberá que essa poupança tem um objetivo diferente do dia a dia. É de longo prazo e não pode mexer. Servirá para pagar a faculdade ou um curso no exterior. Se não precisar, melhor. Fica para a aposentadoria", planeja Kelly.

É exatamente isso que governos e entidades de todo o mundo querem ensinar para a população. Para desenhar esse destino para o Brasil, que caminha para ser a quinta maior economia do mundo nos próximos anos, o governo priorizou a educação financeira. Um dos primeiros passos para tornar realidade o que vinha sendo falado há tempos, desde 2007, foi a criação, por meio de um decreto, do Comitê de Regulação e Fiscalização dos Mercados Financeiro (Coremec). Fazem parte desse comitê de fiscalização financeira o Ministério da Educação, o Banco Central, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Superintendência de Seguros Privados (Susep), a Secretaria de Previdência Complementar (SPC) e a recém-criada Previc.

André Saito, pesquisador e professor do Laboratório de Finanças (Labfin) da Fundação Instituto de Administração (FIA), diz que o processo de educação financeira no Brasil tem melhorado ano a ano. Porém, ainda está muito atrás do existente em países desenvolvidos. Nos Estados Unidos, por exemplo, o tema educação financeira é obrigatório e faz parte da grade escolar. No Reino Unido é facultativo e entra como tema transversal, ou seja, em matérias tradicionais como matemática, a partir da educação infantil.

Apesar do atraso, os programas brasileiros procuram pular etapas, como, por exemplo, ouvir a opinião da sociedade. O que não foi feito pelos Estados Unidos quando implementou a educação financeira já em 2006.

No ápice do tsunami financeiro desencadeado a partir do fim de 2008, o então secretário do Tesouro americano chegou a declarar que o país demorou para investir em educação financeira. Segundo Henry Paulson, se isso tivesse sido feito antes, a oferta de produtos inadequados por parte dos bancos não teria encontrado tanta demanda na sociedade americana.

Apesar do baixo desempenho do Brasil no que se refere ao assunto, o país se destaca na América Latina por estar trabalhando para incluir o tema nas escolas, diz Saito. A ideia inicial do projeto de lei 3401/2004, já aprovado e encaminhado para discussão no Senado, era inserir a educação financeira no currículo escolar da quinta à oitava série do ensino fundamental e do ensino médio. Mas o debate por enquanto aguarda definições.

Mas o grande desafio é formar o educador, que precisa entender melhor como organizar suas finanças pessoais e usar os produtos financeiros como aliados no crescimento . "Além disso, as escolas já têm desafios demais no dia a dia", diz José Alexandre Vasco superintendente de proteção e orientação a investidores da CVM.

Segundo Vasco, o treinamento de professores universitários está a todo vapor. São formados grupos de 50 a 70 pessoas, que ficam por uma semana imersos em palestras promovidas pelos integrantes do Comitê Consultivo de Educação, formado pela CVM e um conjunto de instituições atuantes no mercado de capitais. "Sem conhecimento, o investidor pode tomar decisões erradas, o que é ruim para todos", diz Vasco. Segundo ele, os pequenos investidores mais atuantes e portanto aliados no desenvolvimento do mercado de capitais, principalmente no que diz respeito a denunciar fatos que geram perdas aos acionistas.

Com o objetivo de deixar os cidadãos mais conscientes dos riscos que correm ao entrar na ciranda financeira e desta forma poderem fazer opções mais adequadas, as instituições financeiras se uniram para apoiar um amplo programa de educação financeira. O tema entrou na ordem do dia principalmente depois da estabilidade econômica. "Em menos de uma década a participação do crédito no PIB era de 20%, e hoje é 45% e com viés de alta", afirma Oswaldo de Assis, diretor executivo da Febraban, que acaba de lançar o portal www.meubolsoemdia. "Sem falar na diversidade de produtos financeiros e no boom do crédito imobiliário previsto para estes anos."

O acesso aos serviços bancários, principalmente ao crédito, tem se mostrado uma forte ferramenta de inclusão social. "O fato de a pessoa ter condições de acessar o banco, e de o crédito estar chegando a muito mais gente, torna necessário um investimento maciço em educação financeira", afirma o diretor da Febraban. Nilton Pelegrino, diretor de crédito do Bradesco, é mais enfático. "Costumo dizer que o crédito para a sociedade é como o sangue. Irriga e renova por onde passa. Mas um litro a mais pode levar à morte."

Na visão da Febraban, que busca levar conceitos gerais de finanças pessoais para a sociedade, a orientação financeira é fundamental nesta nova realidade brasileira. "Temos 23 milhões de pessoas entrando na classe média nos últimos cinco anos. E eles têm muita ansiedade de trazer o futuro para o presente, o que pode causar desequilíbrio no orçamento". Além do projeto da Febraban, cada banco tem suas próprias iniciativas, bem como investimentos pesados em treinar profissionais que multipliquem o conhecimento financeiro nesta nova realidade brasileira, de taxas de juros mais baixas.

O programa de educação financeira das entidades pode ser dividido em ações para a nova classe média, que começa agora a ter acesso aos produtos financeiros e necessita de esclarecimentos para fazer a melhor opção; para os jovens, numa tentativa de ensiná-lo a poupar um pouco do que ganha; para os aposentados, muitas vezes tentados a fazer sacrifícios para ajudar a família; e para aqueles que já têm um "pé de meia" e que precisam saber investir para garantir rendimentos robustos num cenário de taxas de juros reduzidas e mercado de capitais mais atrativo.

"Uma diferença de R$ 20 pode comprometer um percentual significativo do salário mínimo", diz Antonio Cássio Seguro, gerente executivo da diretoria de varejo do Banco do Brasil, que lançará um portal de educação financeira em junho. "Ter o nome sujo afeta a saúde, o casamento, o emprego", afirma Eduardo Jurcevic, diretor de investimentos do Santander, que já realizou 2.120 palestras sobre o tema com 101.230 participantes desde 2003, em sua grande maioria empresas e escolas.

Segundo Roseli Garcia, superintendente do atendimento ao consumidor da Associação Comercial de São Paulo, a educação financeira é uma prioridade da entidade desde 1995. "Os comerciantes querem o consumidor com finanças saudáveis para continuarem sempre clientes", diz a executiva, que faz mais de 100 palestras por ano.

O primeiro trabalho da associação foi ajudar o consumidor a limpar o nome na praça para poder voltar a comprar a prazo. Agora, o principal trabalho de Roseli é ajudar a população a usar o crédito de forma inteligente. "Meu objetivo é mostrar a eles que não precisa entender de matemática ou de planilha Excel. Basta marcar na caderneta os gastos", diz Roseli, da ACSP, por onde passam 2 mil pessoas por dia, na maioria dos casos pedindo ajuda para gerir o orçamento familiar. Além dos milhares de internautas atendidos pelo portal www.apoioaoconsumidor.com.br.

Uma das novidades é o treinamento de militares. Para isso, o Banco Central criou um programa básico e simples sobre como organizar o orçamento pessoal e fazer a gestão das despesas e receitas da família. Os primeiros a serem qualificados para multiplicar o conhecimento são os militares da Aeronáutica. O programa, num segundo momento, será levado para a tropa do Exército e da Marinha. Também está em andamento um treinamento aos beneficiários do programa social Bolsa Família.

Na área de seguro, o Sindicato dos Corretores (Sincor-SP) e o Sindicato das Seguradoras do Estado de São Paulo (Sindseg-SP) lançaram o programa Cultura do Seguro em 1992. Um dos principais programas para divulgar o seguro nas escolas é o "Educar para Proteger". Em 2009 foram apresentadas 3.242 palestras, que reuniram 94.287 alunos. Em 2010, doze palestras foram proferidas para 382 alunos. "O objetivo é sensibilizar jovens sobre a importância do planejamento pessoal e familiar, desde cedo, para a proteção da vida e do patrimônio", explica Leôncio de Arruda, presidente do Sincor-SP.

As armadilhas da "contabilidade mental" para o investidor

Rodrigo Constantino
16/04/2010

"Sempre pense no seu ponto de entrada como o fechamento da noite anterior." (Paul Tudor Jones)

Se alguém vai ao cinema e, no momento de comprar o ingresso percebe ter perdido o dinheiro que estava no bolso, provavelmente irá comprá-lo assim mesmo, usando alguma outra fonte (talvez pegando emprestado).

No entanto, se esta mesma pessoa já havia comprado o ingresso e descobre que o perdeu dificilmente irá comprá-lo uma segunda vez. Em ambos os casos o custo para ver o filme seria o mesmo: o dobro do normal. O que mudou de um caso para o outro, então?

Dinheiro não tem carimbo. Trata-se de um meio de troca válido para obter qualquer produto demandado. Todavia, no momento em que "carimbamos" aquele dinheiro, comprando algum ativo específico, realizamos uma espécie de "contabilidade mental", registrando a operação em um balancete no cérebro.

É justamente isso que ocorre quando o ingresso do cinema já foi comprado. Ao verificar que ele foi perdido, comprar um novo ingresso significaria registrar mentalmente o dobro do preço normal para aquele bem. O filme parece caro de repente.

Por outro lado, tendo perdido o dinheiro ainda não carimbado, a pessoa não associa que a compra do ingresso custa o dobro. Para ela, o dinheiro perdido servia para inúmeras coisas, e não necessariamente era o dinheiro do ingresso. Não havia ainda um registro contábil na mente.

Essa percepção foi chamada de "mental accounting" pelo economista de Chicago Richard Thaler, na tentativa de descrever o processo de categorizar e agrupar resultados econômicos em diferentes contas na mente.

A aplicação desse conceito pode ser útil no campo dos investimentos também. Muita gente compra ações e carimba aquele dinheiro, gravando na memória o preço pago pelo ativo. Com as oscilações de preço, o investidor então começa a analisar seu desempenho e tomar medidas sempre com base naquele preço antigo pago no momento da compra.

Essa postura pode ser bastante perigosa, principalmente em mercados com tendência de baixa. Quando o preço da ação começa a cair em queda livre, o investidor fica paralisado, e evita vender porque espera recuperar o prejuízo.

Ele está decidindo o que fazer com base na memória do preço de entrada, e não se concentrando no que deve ocorrer com o ativo em si. Entretanto, os mercados não ligam para o seu preço de compra. O racional não é fazer contas de quanto falta para recuperar as perdas passadas, e sim refletir sobre qual deve ser a tendência do ativo agora, independente dos seus registros contábeis.

O que importa não é o passado, mas o que está por vir. Saber reconhecer erros e realizar prejuízos é fundamental para a sobrevivência nos mercados. Tomar decisões emocionais, se negando a vender apenas porque isso significaria assumir um erro, pode ser o caminho mais rápido para a bancarrota. O ego não deve ficar acima da razão.

O preço pago pela ação é totalmente irrelevante para a decisão de quando vendê-la. Tal medida deve levar em conta apenas as expectativas em relação ao futuro da ação. Afinal, o dinheiro da compra das ações pode ter sido "carimbado" na memória, mas deve-se lembrar sempre que os ativos podem ser transformados novamente em dinheiro "sem carimbo" a qualquer momento, principalmente em se tratando de ativos com alta liquidez.

O apego emocional ao preço de entrada na ação deve ser evitado a todo custo. O preço de entrada é sempre o atual. E o relevante é para onde deve ir esse preço de agora em diante.

Para concluir, acrescento outro exemplo de "mental accounting" para reforçar a mensagem. Um jogador que ganha R$ 500 na roleta de um cassino tende a continuar jogando e colocando o dinheiro todo no risco, mesmo que antes ele não estivesse disposto a arriscar a mesma quantia do próprio bolso.

Isso ocorre porque ele não considera esse dinheiro como sendo seu ainda. Não houve um registro mental, pois ele está usando apenas seu lucro em fichas. Acontece que o lucro não realizado poderia ser transformado a qualquer momento em dinheiro.

Na prática, o resultado objetivo é exatamente o mesmo, ainda que o jogador possa se sentir diferente. O mesmo ocorre com todos os investidores que não sentem estar perdendo dinheiro na baixa apenas porque estão entregando lucros "não realizados". Um mecanismo razoável de proteção contra este auto-engano pode ser uma constante marcação a mercado dos ativos. Nunca é demais repetir: não importa o preço de antes; apenas o esperado para o futuro. O que passou, passou!

Rodrigo Constantino é economista e gestor de recursos

E-mail: constantino.rodrigo@ gmail.com

Nutrin negocia terceira aquisição e estuda entrada de sócio com capital

Galeazzi avalia alternativas para que companhia cresça mais rápido

Luciana Marinelli, de São Paulo
16/04/2010

Gustavo Lourenção/Valor

Aderbal Nogueira, diretor-geral da Nutrin, espera fechar no mês que vem a compra de um concorrente em São Paulo que fatura R$ 18 milhões ao ano
A Nutrin se prepara para se firmar como consolidadora no setor de refeições coletivas. A empresa, com sede em Americana (SP), negocia sua terceira aquisição e conversa com a Galeazzi & Associados para a contratação de um trabalho de consultoria que a deixaria pronta para a entrada de um sócio financeiro capaz de dar suporte a sua expansão.

Segundo seu diretor-geral, Aderbal Nogueira, a companhia vai investir cerca de R$ 3 milhões na aquisição de uma concorrente de São Paulo que fatura perto de R$ 18 milhões ao ano e tem ao redor de 40 clientes. A negociação deve ser concluída em maio e Nogueira mantém o nome da empresa em sigilo. No fim de dezembro, a Nutrin teve a liberação de um financiamento de R$ 7 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

No ano passado, a empresa, que tem sede em Americana (SP) e pertence aos empresários paulistas Vasco Ferraz da Costa Júnior e Sérgio Siqueira Campos, fechou duas compras: de 50% da mineira Gran Vittoria em julho e da Nutrimiza, de Caxias do Sul (RS), em dezembro. Com os negócios e o aumento das vendas a partir do segundo semestre, a Nutrin encerrou 2009 com um faturamento de R$ 144,5 milhões - uma alta de 25,6% sobre o ano anterior.

Mais aquisições estão no radar da companhia, principalmente considerando o ambicioso plano de crescimento que começou a ser delineado no fim de 2009. "Queremos ser uma empresa de R$ 1 bilhão de faturamento em 2014", diz Nogueira. Isso significa mais que quintuplicar de tamanho - a expectativa para 2010 é faturar R$ 180 milhões. Glauco Abdala, sócio da Galeazzi, com quem a companhia vem mantendo conversas desde dezembro, diz que a meta é factível se a companhia tiver capital, por meio de um sócio investidor, para se expandir comprando concorrentes e enquadrando-os em um padrão de qualidade e atendimento. "Esse é um mercado fácil de crescer via aquisições", diz Abdala. "Como as margens do negócio são baixas, é difícil para os pequenos se sustentarem. É preciso ter escala. A agregação de valor desse tipo de empresa é pelo faturamento", afirma o consultor.

Com cerca de 900 empresas em atividade, o setor de refeições coletivas é bastante pulverizado no Brasil e trabalha com uma margem líquida de 4%. Entre 80% e 90% do seu faturamento, que no ano passado somou R$ 9,8 bilhões, vem de aproximadamente 100 companhias. A maior é a GRSA, da inglesa Compass, com 16% do mercado - as outras três grandes são as brasileiras Gran Sapore e Puras e a francesa Sodexo. Para Rogério da Costa Vieira, presidente da Federação Nacional das Empresas de Refeições Coletivas (Fenerc), a consolidação é uma tendência e só não houve mais negócios em 2009, além dos feitos pela Nutrin, por conta da crise financeira. "Quem viu seu ativo perder valor deve ter esperado para negociar em melhores condições", diz. "Mas a tendência permanece, porque é melhor se juntar com empresas de outras regiões para crescer do que entrar em novos mercados por meio de guerra de preços."

Além de ir às compras, a Nutrin aposta no crescimento orgânico, a partir da retomada da economia, e das oportunidades de fornecimento que devem surgir para o setor petroleiro, com as descobertas do pré-sal. "O primeiro trimestre foi totalmente atípico. Em geral perdemos receita com o ritmo de atividade menor e férias coletivas nas empresas, mas este ano abrimos mais de 30 restaurantes ", diz.

Outra aposta para ganhar mercado são acordos com marcas conhecidas nas praças de alimentação para oferecer pratos "com grife" nos restaurantes das companhias. O primeiro foi firmado com a Vivenda do Camarão, que fornecerá os ingredientes e treinou funcionários da Nutrin para preparo e apresentação das refeições.

A companhia também está cortando custos e planeja criar uma marca própria de sucos - a ideia é comprar a produção de um único fornecedor para todos os seus 305 restaurantes corporativos no país. O projeto deve reduzir entre 20% e 30% os gastos com a bebida.

Falta de latas ameaça refrigerantes na Copa

De São Paulo
16/04/2010

A falta de latinhas no mercado e as vendas em alta de bebidas poderão resultar na falta de refrigerantes, segundo o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes (Abir), Hoche Pulchério.

"A capacidade de produção está no topo. Todas as grandes fabricantes já anunciaram investimentos para ampliar a produção. Mas o ritmo desse investimento é bem mais lento que o do crescimento da demanda", afirmou. "Por isso, há risco de haver faltas pontuais de produto embalado em latas."

Com a alta inesperada no consumo de bebidas (cervejas, enregáticos e refrigerantes) ocorrida no final do ano passado e durante o verão, criou-se um déficit de 1,5 bilhão de latas, conforme cálculos da Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alta Reciclabilidade (Abralatas).

"O atenuante é que até o início do próximo verão o fornecimento já deverá estar normalizado", diz Pulchério. Outro fator que atenua a situação é o fato de que a falta de latas coincide com a estação de temperaturas mais amenas, quando o consumo de bebidas e refrigerantes é menor.

O problema continua sendo a Copa do Mundo de Futebol, que acontece entre junho e julho. Normalmente, o evento esportivo catalisa o consumo. "Mas para este ano a Copa ainda é uma incógnita", diz Pulchério.

A saída para a indústria de refrigerantes vai ser investir em embalagens alternativas. É o que está fazendo a Coca-Cola, com sua nova garrafa pet de 600 ml, a chamada "plantbottle", ou garrafa vegetal, feita com 30% de pet originário da cana-de-açúcar.

Além disso, a empresa anunciou investimentos de R$ 11 bilhões até 2016 no país. A AmBev , que engarrafa e distribui os refrigerantes da Pepsi, além de sua própria linha, está aumentando a capacidade de produção de suas fábricas. (L.C.)

Indústria do "refri" reage à taxação

Lílian Cunha, do Rio
16/04/2010

Na guerra contra a obesidade, o açúcar tornou-se o inimigo público do século XXI. Chamuscados no tiroteio contra as calorias, estão os fabricantes de refrigerantes, que agora resolveram se unir. Nesta semana, executivos das duas maiores companhias do setor, Coca-Cola e Pepsico , e de produtores de vários países como Estados Unidos, do Brasil, da China, Japão, Austrália e Europa reuniram-se, a portas fechadas em um hotel no Rio de Janeiro, para debater o assunto.

Na pauta do encontro, pelo menos dois assuntos tinham tudo a ver com açúcar: a venda de refrigerantes para crianças e a ideia, lançada nos EUA, de taxar as bebidas calóricas - isso já ocorre nos Estados americanos de Arkansas e West Virginia. A 37ª reunião do Conselho Internacional de Associações de Indústrias de Refrigerantes (ICBA, na sigla em inglês) durou dois dias.

A preocupação é tanta que a Pepsico anunciou em março que vai deixar de vender refrigerantes com alto teor de açúcar a escolas primárias e secundárias no Brasil e no restante do mundo até 2012.

Agora é a vez da Coca-Cola. Segundo fontes ligadas à empresa, a maior fabricante de refrigerantes do mundo vai parar de vender suas bebidas com açúcar para crianças menores de 12 anos em todos os países em que atua. A The Coca-Cola Company no Brasil não confirma a informação, mas no mercado comenta-se que o anúncio oficial da decisão será feito em maio.

A decisão da Pepsico, assim como a da Coca-Cola, têm a mesma meta: melhorar a imagem das duas companhias e de seus produtos, que muitos consideram calóricos demais. Não é para menos.

No Brasil, maior produtor mundial de açúcar, quase um terço do açúcar destinado ao consumo industrial (60% do consumo total) é comprado pelos fabricantes de refrigerantes. "O açúcar é o novo vilão do mundo porque a obesidade é um problema de grande visibilidade e apelo", disse, ao Valor, Patricia M. Vaughan, presidente da ICBA e vice-presidente para assuntos legais e regulatórios da "American Bevereage Association" (ABA), entidade que representa as indústrias de refrigerantes dos EUA.

"Mas a causa da obesidade não é uma só. É um conjunto de fatores. Por isso os refrigerantes não podem ser condenados", acrescentou ela, que lidera um movimento de oposição contra projetos de taxação sobre bebidas com açúcar.

"Esse tipo de taxa não tem nenhum propósito a não ser arrecadar mais dinheiro para os governos", disse. Vários Estados americanos estudam implementar o imposto, assim como acontece em países europeus, como Suécia. O estado de Nova York, por exemplo, analisa implementar uma taxa de 50% sobre o preço final de bebidas que contenham calorias demais. Embora venha ganhando a simpatia de outros governos internacionalmente, no Brasil ainda não há notícia de projetos semelhantes.

"Taxar as bebidas com açúcar não é solução para a obesidade em nenhum lugar do planeta. É na verdade a criação de um problema maior, uma onda de desemprego no setor", afirmou Patricia.

Os que são favoráveis a essa taxa - geralmente políticos e organizações não governamentais - baseiam seus argumentos em estatísticas como as que constam de um levantamento da Food and Agriculture Organization (FAO), órgão das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação. Segundo a FAO, entre 1961 e 1963 a disponibilidade global de açúcar para consumo equivalia a 193 calorias por pessoa ao dia - valor que saltou para 243 calorias entre 2001 e 2003.

Uma das resoluções tomadas no encontro do Rio é uniformizar como os açúcares são listados nos rótulos dos refrigerantes e outras bebidas. A indicação da ICBA é listar os açúcares apenas como "açúcares totais", sem distinguir o que é adicionado e o que é açúcar natural encontrado no produto. Mas esta orientação não está acima das leis de cada país. No Brasil, por exemplo, o Ministério da Agricultura determina a diferenciação entre os dois tipos de açúcar. Mas na tabela que informa o valor energético ou calórico do produto, o total de calorias pode ser somado.

Pão de Açúcar e Casas Bahia buscam solução rápida, mas há um plano B

Os Klein recusaram mudanças propostas por equipe de Abilio na política de preçosPão de Açúcar e Casas Bahia buscam solução rápida, mas há um plano B

Adriana Mattos, de São Paulo
16/04/2010

No encontro que acontecerá hoje pela manhã entre os advogados que representam o grupo Pão de Açúcar e a Casas Bahia haverá um esforço para uma solução "rápida e o mais indolor possível" por parte da rede supermercadista. Abilio Diniz tem a carta branca do sócio francês Casino para colocar ponto final na pendenga com a família Klein, dona da Casas Bahia, ainda nesta semana.

Abilio deixou explícito aos advogados do Barbosa, Mussnich e Aragão, que representa o Pão de Açúcar, que é preciso costurar soluções para as questões mais polêmicas agora. "Nunca vi Abilio tão aberto para negociar", disse ontem uma fonte próxima às negociações. Mas um plano B vem sendo desenhado e comunicado, de maneira informal, ao mercado: a possibilidade de fechamento de uma associação ou compra das operações de Ricardo Eletro/Insinuante ou Magazine Luiza.

"Seria uma forma de pensar um pouco à frente, caso tudo azede mesmo. Mas ninguém ligou para ninguém. Há uma ordem clara de não meter os pés pelas mãos e priorizar o assunto Casas Bahia", afirmou esse executivo.

Até o final do dia de ontem, o mal-estar entre as partes, no entanto, se mantinha. "Os advogados deles (da Casas Bahia) informaram oficialmente que querem rever o contrato na semana passada, mas até agora não temos nas mãos detalhes do que gostariam de mudar", desabafa um dos negociadores. Exatamente por isso há pouca esperança de que, mesmo com uma postura "flexível" de Abilio, as partes se entendam ainda hoje.

As insatisfações dos Klein já manifestadas, ainda que superficialmente, se relacionam à forma como eles podem se desfazer das ações da nova empresa criada com a associação ao Pão de Açúcar há quatro meses, além das regras de governança corporativa firmadas para a nova companhia.

No acordo assinado em 4 de dezembro, o Pão de Açúcar tem cinco cadeiras no conselho de administração da nova empresa e a Casas Bahia, quatro. Os Klein não gostaram dessa divisão desde o início das tratativas, pois sempre seriam voto vencido. Até hoje, não há indicação para os cargos de ambas as partes. Segundo o Valor apurou, já começa a ficar claro as razões que teriam levado a Casas Bahia a aceitar um acordo considerado "desequilibrado" para a rede .

"O seu Samuel [Samuel Klein, o fundador] era muito favorável à parceria com Abilio. Ele andava muito deprimido porque buscava um caminho para a empresa após a saída do outro filho, Saul Klein, do comando da rede", diz um amigo próximo da família. "Por isso aceitou a proposta de Abilio e decidiu rever os pontos discordantes depois". Saul Klein tem acompanhado passo a passo as negociações com o Pão de Açúcar.

Uma delas, e que afeta diretamente a antiga diretoria de Saul na Casas Bahia, refere-se à política comercial das redes. As duas empresas foram autorizadas pelo Cade a unir a área de compras - aí, os ruídos começaram a aparecer. As duas têm políticas comerciais diferentes e o Pão de Açúcar - como acionista controlador do negócio - quer repetir na Casas Bahia a sua cartilha.

Em vez de promoções pesadas com preços baixos, e ganhos de margem de lucro no volume vendido, o Pão de Açúcar teria defendido a prática de preços médios de mercado ao consumidor, para garantir maiores margens de rentabilidade, sem abrir mão do volume. Foi algo que irritou os Klein.

Depois de queda de 4,97% das ações do Pão de Açúcar negociadas na última terça-feira na Bovespa, o papel recuperou parte da queda e subiu ontem 0,89%.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Como recuperar o entusiasmo e a paixão pelo meu trabalho?

Como recuperar o entusiasmo e a paixão pelo meu trabalho?
Vicky Bloch é professora do programa de educação continuada da FGV, do MBA de recursos humanos da FIA e sócia-fundadora da Vicky Bloch Associados
14/04/2010

Estou no mesmo emprego há sete anos e nos últimos dois tenho me sentido cansado, entediado e estressado. A paixão que eu costumava ter pelos desafios e tarefas do dia a dia já não existe mais e aos poucos tenho me tornado cínico e desinteressado em relação aos meus pares e a minha equipe. Sinto que o problema é interno e que, se eu mudar de emprego, vou acabar levando isso para a nova empresa. Não cogito me aposentar, pois meus filhos ainda estão na escola e não posso abrir mão do salário. Como recuperar o entusiasmo pela minha carreira novamente ou, pelo menos, fazer com que o trabalho fique mais tolerável?

Diretor de indústria têxtil, de 49 anos de idade

Resposta:

Entusiasmo, na origem grega da palavra, significa "transporte divino". Num sentido mais místico, também quer dizer entrar em contato com Deus ou "sentir a presença" d'Ele em si. Aos que preferem uma acepção puramente racional, isso equivale a estar conectado com a nossa essência e com a do ambiente em que estamos. Por fim, segundo os dicionários, entusiasmo ainda pode ser definido como paixão, inspiração, veemência, vigor, ímpeto, prazer, admiração, arrebatamento ou alegria intensa. São esses sentimentos que movem carreiras, empresas e toda forma de desenvolvimento. O salário justo (no sentido de adequado e não de "apertado") é o reconhecimento a quem dá o melhor de si. É, portanto, a consequência e não o motivador de uma realização. Ou, pelo menos, devemos buscar que seja assim. A demissão, por outro lado, é o efeito - na maior parte das vezes - de um desligamento entre as causas que unem o indivíduo e a organização. Ela pode ser voluntária ou inconsciente, mas sempre segue uma lógica.

Aconselho você a pesquisar e a refletir sobre as razões que o levaram a mudar a forma como vê o seu trabalho. Você quer recuperar a "paixão" que teve pelos "desafios" dos primeiros cinco anos no emprego atual. Em seguida, reconhece que o problema não está na empresa, mas em você mesmo. Essa autocrítica (não culpar os outros pelas suas insatisfações) já é um bom ponto de partida. O que mudou não foi sua paixão pelos desafios, mas sim a falta destes. Pode parecer óbvio, mas vale esclarecer: quando uma missão é executada com sucesso, as próximas, se forem de nível equivalente, deixam de ser um desafio e se tornam rotina.

Por mais que o instinto de sobrevivência leve todo (ou quase todo) ser humano a buscar segurança e estabilidade, a mesmice de uma rotina desmotiva qualquer um. E nos dias de hoje, em que as mudanças rápidas passaram a ser, paradoxalmente, uma constante no mundo dos negócios, se acomodar é um veneno. Portanto, é o caso de se questionar: onde e por que eu me acomodei? Será que descuidei de minha atualização profissional e, com isso, deixei de ser considerado pela empresa para projetos novos?

Sugiro que você converse com as pessoas com quais mais se relaciona no trabalho; do chefe aos subordinados, passando pelos pares, e peça que eles digam, sinceramente, como lhe veem. Evite julgar os outros ou a si com rigor por conta das opiniões críticas, bem como se envaidecer com elogios. Concentre-se em entender seus pontos fortes e o ainda que pode desenvolver. Esse retrato pode deixar mais claro quais são as causas de sua desmotivação e como combatê-las. E, por favor, jamais pense em tornar seu trabalho apenas "tolerável". Busque recuperar aquilo que havia, e ainda há, de "divino" e apaixonante dentro de você.

Ricardo/Insinuantes - Varejistas unem compras, marketing e logística

Varejistas unem compras, marketing e logística

De São Paulo
14/04/2010

Se o casamento entre o grupo Pão de Açúcar e Casas Bahia ainda não foi consumado, quatro meses depois do anúncio de fusão, a união entre as varejistas Ricardo Eletro e Insinuante, celebrada oficialmente há pouco mais de duas semanas, já "chegou aos finalmentes". Quem garante é Ricardo Nunes, fundador da Ricardo Eletro que se tornou o presidente da nova Máquina de Vendas, a holding resultante da fusão entre as duas varejistas.

"Já integramos compras, logística e marketing", afirma. "Já temos quase 50 pessoas da Insinuante trabalhando aqui, em Belo Horizonte [sede da Ricardo Eletro] e outras 50 pessoas da Ricardo lá na Bahia [sede da Insinuante]", diz.

As compras em conjunto começaram no dia 5, afirma. Na segunda, foi realizada a primeira convenção integrada da área comercial, com 1,1 mil gerentes, em Mata de São João, na Bahia. "Já foram definidos os gerentes regionais de toda a empresa e suas respectivas lojas", diz. Não por acaso, Nunes estava rouco na tarde do dia 12.

O comando da área comercial ficou com a Ricardo Eletro. Foram designados três diretores e seis gerentes de compras, todos trabalhando em Belo Horizonte. Há um gerente de compras para cada categoria de produto: linha branca, linha marrom, telefonia, informática e portáteis. De todos os executivos, apenas um gerente da Insinuante, que estava trabalhando em Salvador, mudou-se para a capital mineira. A empresa acredita que seja possível gerar R$ 150 milhões ao ano no curto prazo. (DM)

Cade deve aprovar Máquina de Vendas

Juliano Basile, de Brasília
14/04/2010

Caso se mantenha a união entre Pão de Açúcar e Casas Bahia, a fusão entre Ricardo Eletro e Insinuante vai chegar ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) com ampla possibilidade de aprovação. A expectativa inicial no órgão antitruste é a de que o negócio entre a Ricardo e a Insinuante deve garantir a competição contra a união entre os dois grandes grupos do varejo.

Hoje, o Cade fará um sorteio para definir o conselheiro-relator do processo Ricardo-Insinuante. Nos casos de grandes fusões, é o relator quem convoca as empresas para discutir a assinatura de um acordo para suspender temporariamente a fusão, enquanto o negócio é avaliado. Isso aconteceu no caso da compra do Ponto Frio e das Casas Bahia pelo grupo Pão de Açúcar.

Após rodadas de negociações entre conselheiros e advogados das empresas, o Cade assinou, em fevereiro, um termo com o Pão de Açúcar pelo qual as companhias envolvidas na fusão não podem fechar lojas nem centros de distribuição. Por outro lado, o órgão antitruste permitiu a realização de aportes financeiros e societários entre as empresas e autorizou a realização de compras conjuntas delas com fornecedores.

No caso da fusão entre Ricardo Eletro e Insinuante, que formaram a holding Máquina de Vendas, os integrantes do Cade acham que é grande a chances de nem ser necessário um acordo desse tipo. Isso porque o aumento de concentração de mercado em termos regionais é quase inexistente. Enquanto a Insinuante atua mais no Nordeste, a Ricardo foca-se no Sudeste. Não haveria motivos para determinar a separação total das redes, a não ser em cidades em que ambas tenham lojas. Nesses casos, o órgão pode achar prudente manter bandeiras distintas até o julgamento final das fusões no varejo.

Segundo um integrante do Cade, se um acordo for assinado, as condições seriam mínimas, só para garantir a separação em cidades onde ambas as redes possuem lojas. Mas, por enquanto, os conselheiros ainda não dispõem de informações claras sobre quais seriam esses locais.

As compras conjuntas da Ricardo Eletro e da Insinuante com fornecedores devem ser autorizadas antes do julgamento final pelo Cade, pois o Pão de Açúcar recebeu aval para esse tipo de operação com as Casas Bahia e o Ponto Frio.

O fato de a fusão entre Ricardo Eletro e Insinuante ter sido anunciada após as aquisições do Pão de Açúcar levam a uma situação curiosa do ponto de vista antitruste. Se o Cade impuser restrições às compras do Pão de Açúcar, Ricardo e Insinuante também podem ter problemas no futuro. Ou seja, se o órgão desenvolver a tese de que as uniões no varejo prejudicam o consumidor, esse entendimento afetará todos os negócios no setor. Por outro lado, se aprovar as aquisições do Pão de Açúcar, a tendência será de sinal verde para Ricardo-Insinuante.

Ainda não há prazo para o julgamento dessas fusões. As compras do Pão de Açúcar estão sob a análise da Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae) do Ministério da Fazenda, que fará um parecer para auxiliar o Cade no julgamento. A união Ricardo-Insinuante sequer foi notificada. Pela lei, as empresas têm 15 dias após o anúncio para informar o Cade. O negócio foi anunciado em 29 de março e deve chegar formalmente para análise nos próximos dias.

Casas Bahia e Pão de Açucar, nova avaliação...

Nova conversa entre o Pão de Açúcar e os Klein para rever acordo deve ocorrer até o fim da semana

Sem avanços, Diniz vai se reunir com Casino

Adriana Mattos e Daniele Madureira, de São Paulo
14/04/2010

Os comandos do grupo Pão de Açúcar e da Casas Bahia estiveram ontem em reuniões fechadas, cada um em sua própria sede, na tentativa de avaliar pontos do acordo de fusão das companhias, para a criação da maior rede de varejo nacional. Não houve nenhum avanço. O acordo foi colocado em banho-maria até amanhã. Abilio Diniz, presidente do Conselho de Administração do grupo Pão de Açúcar, foi para a França na noite de segunda-feira, para uma reunião com o comando da rede francesa Casino, sócio da varejista com 50% das ações da varejista. Abilio aproveitou o encontro fechado da cúpula do Casino, que deve divulgar dados financeiros ao mercado hoje, para discutir o assunto com os sócios, segundo apurou o Valor.

Ontem, o Pão de Açúcar admitiu em comunicado ao mercado que as redes estão renegociando as cláusulas do contrato. "CBD e Globex consideram que o acordo de associação celebrado é válido e perfeitamente eficaz, tendo se manifestado no sentido de continuar em discussões com vistas a um entendimento de forma a assegurar a implementação da associação", relatou em nota. Procurada pelo Valor, a Casas Bahia informou que está "mantendo tratativas amigavelmente com o Pão de Açúcar".


Abilio Diniz deve deixar Paris amanhã e com o seu retorno, há uma expectativa dentro do grupo de que alguns dos pontos pendentes possam avançar após o encontro com os franceses. Uma nova reunião entre o comando do Pão de Açúcar, em São Paulo, e a família Klein deve acontecer até o fim dessa semana, na sede da Casas Bahia, em São Caetano do Sul (SP).

O anúncio oficial de revisão do plano de fusão entre Pão de Açúcar e Casas Bahia feito ontem foi o ápice de uma relação que já mostrava sinais de desgaste há pelo menos dois meses. No início de fevereiro, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) deu o sinal verde para o prosseguimento da operação entre as varejistas, depois de celebrar com as duas um Acordo Provisório de Reversibilidade da Operação (Apro). A partir daí, consultores contratados pelo Pão de Açúcar procuraram aprofundar os estudos de sinergia entre as empresas, que proporcionariam economias superiores a R$ 2 bilhões.

Mas há mais de dois meses a Casas Bahia mostra sinais claros de sua insatisfação. As redes discordavam em alterar pontos como a reavaliação do valor dos ativos da Casas Bahia, a serem integrados na nova empresa criada com a fusão. A Casas Bahia não aceita receber R$ 130 milhões em aluguel pelas mais de 500 lojas que farão parte da nova companhia. Além disso, a cadeia quer se desfazer de parcela maior das ações da nova empresa que tem em mãos. Pelo acordo original, ela só pode começar a fazê-lo em 2011.

Por outro lado, o Pão de Açúcar já deixou claro aos Klein que a situação não é tão simples. A rede terá que integrar a Casas Bahia à sua estrutura e isso vai levar tempo e dinheiro. As duas redes têm formas contábeis diferentes de calcular indicadores, como provisão de débitos e atraso de pagamentos. A taxa de inadimplência na Casas Bahia chega a 12% em algumas regiões do País e, na média, está em 10%. No grupo Pão de Açúcar essa taxa não passaria de 5%. Além disso, o Pão de Açúcar já ressaltou que será preciso investir na integração das redes, e essa conta é alta.

"A integração das redes foi sendo desenhada ao mesmo tempo em que os comandos das duas redes tratavam dos pontos do acordo que a Casas Bahia queria rever", conta um executivo próximo às negociações. "Mas não era possível avançar em questões operacionais, como a unificação do sistema de logística e distribuição, por exemplo, se a Casas Bahia fazia corpo mole na hora de contribuir com as informações necessárias para a fusão avançar", diz uma fonte que está acompanhando o acordo. Uma das mais importantes sinergias que já deveria estar funcionando ou, pelo menos, ter sido definida diz respeito ao sistema de logística e distribuição. Embora tenha havido a mudança de executivos do Ponto Frio e do Pão de Açúcar para São Caetano do Sul, sede da Casas Bahia, as operações de compra e logística, por exemplo, permanecem separadas. "Ninguém assinou contrato no escuro e a briga não é boa para nenhum dos dois", afirma um executivo que acompanha o acordo. "Abilio não é uma pessoa muito flexível, mas tem se mostrado propenso a escutar o que a outra parte tem a dizer."

Analistas acreditam que a Casas Bahia tem menos a perder com o possível fim da união do que o Pão de Açúcar. Foi por isso que a Ativa retirou o papel do Pão de Açúcar (PCAR5) da carteira da corretora. "Não temos certeza dos pontos do contrato que podem ter ajustes e vamos manter a recomendação 'neutra' para o papel até termos maiores informações", diz a analista Juliana Campos, da Ativa. As ações do Pão de Açúcar tiveram ontem a maior queda (4, 97%) entre os papéis do Ibovespa.

Daniela Bretthauer, responsável pela área de varejo da Raymond James Brasil, diz que não se surpreendeu com a notícia. "Fomos a única corretora a rebaixar a recomendação para a compra do papel Pão de Açúcar na época do anúncio de fusão", diz. Para ela, os termos não estavam claros o suficiente e a fusão foi fechada às pressas, sem demostrativo financeiro ou laudo de avaliação para o mercado. "Estava muito estranho: a família Klein, de repente, cede tudo para o Pão de Açúcar. Não faz sentido".

Depósito judicial fica com o Tesouro

Juliano Basile, de Brasília
15/04/2010

O Supremo Tribunal Federal (STF) permitiu ao Tesouro Nacional continuar administrando bilhões de reais em depósitos judiciais. A decisão foi tomada, por unanimidade, em um julgamento curtíssimo. Em menos de dez minutos, os ministros resolveram uma ação que tramitava desde o fim de 1998 no Supremo.

Até 1998, boa parte desses depósitos ficava na conta da Caixa Econômica Federal (CEF). Naquele ano, o governo conseguiu aprovar no Congresso a Lei nº 9.703, que destinou essa verba para o Tesouro. O objetivo era garantir mais recursos para os cofres da União e cumprir as metas de superávit primário.

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) entrou com ação contra a lei, alegando que a transferência para o Tesouro afetaria a atividade dos juízes, que teriam maiores dificuldades para ordenar os saques. Na prática, o temor da entidade era o de que fosse mais difícil para os advogados obter dinheiro em causas ganhas na Justiça se os valores estivessem na conta do Tesouro.

Em maio de 2001, o Supremo negou liminar para a OAB e manteve os bilhões de reais em depósitos na conta do Tesouro. Ontem, o tribunal decidiu o mérito da ação. Os ministros concluíram que basta o juiz determinar o saque para o Tesouro liberar a verba devida em ação judicial. Com isso, a lei de 1998 não teria prejudicado a função fiscalizadora do magistrado.

O valor desses depósitos varia mês a mês, mas costuma ser sempre alto. No ano passado, a CEF chegou a ter mais de R$ 30 bilhões em caixa e o governo baixou medida provisória para agilizar a transferência desses montantes ao Tesouro de modo a reforçar os cofres públicos e ajudar no cumprimento das metas de superávit.

Tribunal facilita restituição de contribuição previdenciária

Luiza de Carvalho, de Brasília
15/04/2010

A 1ª Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu, por meio de um recurso repetitivo, que para obter a restituição da contribuição previdenciária recolhida indevidamente não é necessário provar que não ocorreu a transferência do tributo para o consumidor. O caso analisado envolve a Fazenda Nacional e uma empresa do setor de alimentação. Os ministros do STJ já haviam sinalizado esse entendimento em decisões proferidas anteriormente. A votação do recurso repetitivo foi unânime.

O artigo 166 do Código Tributário Nacional (CTN) determina que a restituição de tributos que são transferidos para o consumidor só será feita a quem provar que assumiu o pagamento do encargo em questão. Ou seja, de acordo com a norma, o Fisco não pode restituir o contribuinte que repassou o encargo ao custo final do produto, pois, neste caso, quem arca com o tributo é, na realidade, o consumidor. Este é o caso, por exemplo, do ICMS.

No entanto, restituições envolvendo as contribuições previdenciárias deram margem a entendimentos diferentes no Poder Judiciário. Isso porque o artigo 89 da Lei nº 8.212, de 1991, que já foi revogado, previa que, nesse caso, a restituição só poderia ser feita mediante a demonstração de que não houve repasse dos custos ao consumidor.

Na opinião da advogada Thais Rebouças Gouvêa Coni, do escritório Gaudêncio, McNaughton & Prado Advogados, não há sentido exigir a prova, pois quem arca com o pagamento da contribuição previdenciária, que incide sobre a folha de salários, é somente a empresa. De acordo com ela, a prova imposta pela Fazenda Nacional para a restituição do tributo é feita por meio dos documentos contábeis da empresa. "O entendimento da 1ª Seção do STJ vai facilitar os pedidos de restituição, pois o contribuinte não precisará mais provar que não repassou o tributo ao consumidor", diz Thais.

Confaz autoriza perdão de dívidas

Convênios permitem anistia e redução de multas e juros sobre débitos do ICMS
Laura Ignacio, de São Paulo
15/04/2010

Contribuintes de 23 Estados serão beneficiados com o que se tem chamado de "Refis da crise estadual", numa alusão ao parcelamento concedido pelo governo federal. O Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) publicou uma série de convênios que autoriza desde a redução de multas e juros sobre débitos do ICMS a até mesmo o perdão das dívidas inferiores a R$ 10 mil - caso do Mato Grosso, Rio Grande do Sul e do Distrito Federal, por exemplo. O conselho, que reúne secretários de Fazenda de todos os Estados do país, publicou os atos no dia 1º de abril.

Goiás é o único Estado que já regulamentou o parcelamento. A Lei nº 16.943, de 2010, foi aprovada pela Assembleia Legislativa antes mesmo do convênio ter sido publicado. A norma foi assinada pelo ex-secretário da Fazenda do Estado, Jorcelino José Braga, que saiu do cargo no dia 31 - prazo para a chamada desemcompatibilização - em razão da possibilidade dele ser candidato a vice-governador do Estado.

A lei goiana permite que os inadimplentes do ICMS quitem suas dívidas à vista, com redução de até 96% do valor da multas e juros de mora. Essa hipótese é possível se o pagamento tiver sido efetuado até o dia 30 de abril. Até agora, o Estado já levantou uma receita adicional de R$ 65 milhões em razão do benefício fiscal. Na lista dos 500 maiores contribuintes do imposto estadual de 2009, lideram a Petrobras e a Celg Distribuição (Celg D). Somente a companhia de energia, segundo a secretaria, teria um débito aproximado de R$ 600 milhões.

Desde 2007, o Estado não concedia anistia fiscal. "Protelamos o máximo possível. O motivo principal é a falta de recursos para o Tesouro em razão da crise econômica internacional", explica o secretário da Fazenda, Célio Campos Júnior. Sua expectativa é que o Estado arrecade pelo menos R$ 150 milhões.

Para a advogada Mary Elbe Queiroz, do escritório Queiroz Advogados Associados, o Confaz faz grandes concessões em ano eleitoral, autorizando de uma única vez inúmeros benefícios para diversos Estados. O Convênio ICMS nº 66, por exemplo, autoriza o Mato Grosso a perdoar débitos fiscais do ICMS vencidos até 31 de outubro de 2009, inscritos ou não em dívida ativa, ainda que ajuizada a sua cobrança, cujos valores atualizados, naquela data, sejam iguais ou inferiores a R$ 10 mil.

A advogada lembra que antes os Estados argumentavam que lançar programas de incentivo do gênero do "Refis da Crise" seria uma injustiça em relação aos contribuintes que pagam seus tributos em dia. "É uma concessão muito grande num ano eleitoral dar esses benefícios todos. Não é todo ano que isso acontece", afirma. Para ela, é uma grande coincidência Estados que resistiam ao parcelamento mesmo com a crise internacional aprovar isso em pleno ano eleitoral.

Na Bahia, o Convênio ICMS nº 59 autoriza o Estado a instituir a redução de até 100% das multas e juros, e de até 60% dos demais acréscimos e encargos, para a empresa que quitar o débito e ICMS em parcela única. Um projeto de lei tramita na Assembleia Legislativa do Estado e a expectativa, segundo a Secretaria da Fazenda baiana, é arrecadar cerca de R$ 500 milhões com o programa. Segundo Carlos Martins Marques de Santana, coordenador dos secretários no Confaz e secretário da Fazenda da Bahia, se o governador Jaques Wagner (PT) for reeleito, tais benefícios fiscais terão resultado em impacto político. "Mas a intenção é beneficiar o contribuinte e as finanças do Estado", afirma.

A motivação de todos os convênios recém-publicados é a queda na arrecadação em razão da crise econômica internacional. "Assim como o governo federal instituiu o Refis da Crise, os Estados ratificaram esses convênios", diz Santana. O coordenador do Confaz explica que os convênios só foram publicados agora porque estavam travados em razão da disputa entre Rondônia, Pará e São Paulo. O governo paulista se recusava a assinar o convênio que permitia aos Estados de Rondônia e do Pará a instituir anistia fiscal que já tinha sido julgada ilegal pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Somente em janeiro, o governo paulista cedeu.

Os frutos desses convênios favorecerão os governos eleitos. É o que afirma o consultor tributário José Luiz de Ramos, do escritório Martinelli Advocacia Empresarial. "O governo que assumir o próximo mandato já vai entrar com dinheiro líquido e certo no caixa", comenta. "Basta que cada Estado aprove legislação com base no convênio."

Há tributaristas que entendem que se os motivos para as concessões fossem eleitoreiros, os governos não esperariam a aprovação do Confaz para concedê-las. Essa é a opinião, por exemplo, do advogado Marcelo Jabour, da Lex Legis. Já o tributarista Sérgio Presta, do escritório do Azevedo Rios, Camargo, Seragini e Presta Advogados e Consultores Associados, defende que o Confaz é um órgão político. "Mas só no sentido de que são feitas negociações entre os governos para a aprovação ou não do convênio de interesse de um Estado ou de outro", afirma.

Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro não foram beneficiados por esses convênios. Mas Santa Catarina, por exemplo, já havia aprovado no ano passado parcelamento do gênero.

Prazo final de convergência contábil está sob ameaça

Rachel Sanderson, Financial Times, de Londres
15/04/2010

Os formuladores de padrões contábeis informaram que poderão não conseguir cumprir o cronograma da criação de um conjunto único global de regras contábeis, porque até agora eles não conseguiram chegar a um acordo sobre como avaliar os instrumentos financeiros, uma das questões mais controvertidas da crise.

Em setembro, o G-20, grupo das 20 nações mais industrializadas do planeta, prometeu apoiar um plano global de normas contábeis para melhorar os fluxos de capitais e reduzir as arbitragens internacionais. Eles estabeleceram para isso o prazo de junho de 2011.

Fundamental para esse objetivo é a convergência dos dois mais importantes sistemas contábeis do mundo, o modelo americano, conhecido como US Gaap, e o padrão internacional, chamado de IFRS [ também adotado no Brasil].

No entanto, chegar a um consenso sobre algumas questões está se mostrando cada vez mais difícil, especialmente em torno da questão da avaliação dos instrumentos financeiros pelo ajuste diário de perdas de ganhos (marcação a mercado), ou valor justo.

A contabilidade pelo valor justo vem se mostrando um dos pontos de maior discórdia. Os defensores, que incluem grandes investidores dos EUA, afirmam que ele proporciona o exato do valor de uma companhia, necessário para a tomada de decisões de investimentos. Todavia, autoridades reguladoras e formuladores de políticas, particularmente da Europa, vêm afirmando que a prática de se avaliar instrumentos financeiros como os derivativos pelo valor justo foi algo que agravou a queda dos valores dos ativos durante a crise.

Em um comunicado conjunto divulgado ontem, o Conselho de Normas Internacionais de Contabilidade (Iasb) e seu congênere norte-americano Fasb disseram que, embora caminhem para chegar a um acordo sobre cinco pontos principais, eles não conseguiram chegar à mesma conclusão nas questões que envolvem contratos de seguros e a avaliação dos instrumentos financeiros.

No caso dos instrumentos financeiros, o impasse se deve ao fato de o Fasb apoiar mais que o Iasb o uso mais disseminado do valor justo, segundo informaram várias pessoas a par da situação. O Fasb deve anunciar sua proposta sobre como avaliar instrumentos financeiros em maio.

A proposta do Iasb - que permite que empréstimos ou instrumentos semelhantes sejam avaliados pelo custo e tudo mais pelo valor justo - já se mostrou controvertida na Europa porque alguns formuladores de políticas da União Europeia acreditam que ele não vai longe o suficiente para conter o uso do valor justo.

Os dois órgãos disseram que "não há garantias" de que eles conseguirão resolver todas as suas diferenças em relação aos instrumentos financeiro. Eles disseram que abordar as diferenças sobre os dois projetos "de maneira que isso estimule a convergência poderá afetar os cronogramas do projeto".

O prazo final estabelecido é importante porque vários países estão cogitando a possibilidade de mudar para os IFRS depois de junho de 2011 e gostariam de poder fazer isso em uma "plataforma estável" de normas.

A Securities and Exchange Commission (SEC), dos EUA, que supervisiona o Fasb, também decidirá em junho de 2011 se a convergência foi longe o suficiente para tornar obrigatória a adoção do IFRS nos Estados Unidos.

Seguro erra na comunicação com cliente

Novo presidente da CNSeg vai promover estudos e pesquisas para descobrir as deficiências do setor

Janes Rocha, do Rio
15/04/2010
Leo Pinheiro/Valor

Falta ou falha de comunicação, linguagem pouco adequada, vendas mal feitas. É muito provável que estes sejam os motivos para que o mercado de seguros seja tão pequeno no Brasil, na opinião do advogado Jorge Hilário Gouvêa Vieira.

Novo presidente da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNSeg), Vieira assume nesta quinta-feira o comando da entidade tendo como uma de suas principais missões ajudar as seguradoras a convencer os brasileiros a fazer seguro.

Em entrevista ao Valor na sede de seu escritório no Centro do Rio, o Gouvêa Vieira Advogados, Vieira lembrou que, apesar do forte crescimento nos últimos 15 anos, e de estar beirando os R$ 100 bilhões em faturamento anual, o mercado segurador brasileiro representa apenas 3% do Produto Interno Bruto (PIB), contra 6% no Chile e 10% nos Estados Unidos, por exemplo. "Quando há uma tragédia como as (recentes) inundações no Rio, vemos que, mesmo nas classes médias, as pessoas não estão cobertas por seguro", afirma. "Talvez porque seja caro, talvez porque seja mal vendido, a linguagem não seja adequada", pondera.

Vieira acha que parte da solução é institucional, por isso pretende promover "estudos e pesquisas" para descobrir quais são as reais deficiências do setor. Mas além disso, ele quer discutir uma revisão das novas regras de solvência implementadas em 2009 e as taxas de fiscalização cobradas pela Superintendência de Seguros Privados (Susep).

"As atuais regras de solvência privilegiam as grandes seguradoras em relação às pequenas. É preciso estudar com as autoridades uma modificação das regras para que contemplem não apenas o capital patrimonial mas também a assunção de riscos por ramos", disse Vieira.

Sobre a criação de uma seguradora estatal para garantir as obras de infraestrutura do PAC, Copa do Mundo de 2014 e Olimpíada 2016, ideia aventada nos gabinetes do Palácio do Planalto para compensar uma suposta falta de capacidade do mercado local, Vieira é contrário.

Ele acha, como outros empresários e executivos do setor, que não faltará capacidade no mercado interno e externo para futuras obras de infraestrutura. Mas se o governo se preocupa com essa possibilidade, afirma, deveria deixar às empresas privadas a formação de um fundo de estabilidade para estas operações. "Se (o fundo) for administrado pelo governo, haverá um claro conflito de interesses porque o beneficiário é o próprio governo."

Criada em 2008 como herdeira da Fenaseg, a CNSeg representa 181 seguradoras, sendo 65 de seguros gerais, 81 de previdência e vida, 22 de saúde suplementar e 13 de capitalização. O novo presidente da CNSeg, assume o posto que, na prática, ficou os últimos 18 anos com o ex-presidente da Bamerindus Seguros, João Elíseo Ferraz Campos.

Aos 67 anos, advogado formado pela PUC/RJ com doutorado pela Universidade da Califórnia Berkeley, Jorge Hilário Gouvêa Vieira tem uma longa história com o mercado segurador e de capitais. Foi presidente do Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) e do IRB Brasil Re concomitantemente (1985-1987).

Também presidiu a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no final dos anos 70 e ocupou cargos importantes no governo do Estado do Rio de Janeiro.

Foi secretário de Finanças (1987 - 1990) e presidente do Banerj e de sua seguradora (1987-1989). Por mais de dez anos desde 1996 ocupou uma cadeira no conselho de administração da SulAmérica Seguros.

Vieira é parte de uma das mais tradicionais famílias de empresários cariocas, os Gouvêa Vieira, descendentes do senador do império José Tomás Nabuco de Araújo Filho, pai do político e diplomata Joaquim Nabuco (1849-1910). É um dos sete filhos do empresário João Pedro Gouvêa Vieira, fundador do que por mais de 60 anos foi um dos maiores complexos industriais nacionais e o principal negócio da família: o grupo Ipiranga de petróleo e petroquímica, vendido em 2007 para a Petrobras, Braskem e Grupo Ultra.

Mobilidade ainda é desafio para grandes companhias

Entre os 500 maiores grupos, apenas 5% usam os novos recursos

Ana Luiza Mahlmeister, de São Paulo
15/04/2010

O uso de mensagens de texto (SMS), ter um site específico para telefone móvel e oferecer aplicativos para telefones inteligentes (smartphones), ainda é uma realidade distante para as 500 maiores empresas brasileiras: apenas 5% delas usam esses três canais para comunicação com o cliente. Estes foram os três critérios usados em uma pesquisa da Mowa, empresa especializada em sistemas móveis, para aferir o nível de mobilidade entre os grandes grupos brasileiros segundo o ranking da revista "Exame" (que exclui companhias do setor financeiro). "Na área móvel estamos nos primórdios, como a internet há dez anos, quando quase nenhuma empresa tinha site", afirma o sócio-diretor da Mowa, Guilherme Santa Rosa.

Para a maioria das companhias, basta a presença na internet. A mobilidade ainda não faz parte da estratégia. "A pesquisa mostra que não há uma percepção de valor em alcançar o cliente onde quer que ele esteja. E hoje não é só o telefone celular, mas também os leitores digitais, tablets, palmtops etc", afirma.

O setor com maior presença móvel é o de telecomunicações: 31,25% das companhias usam os três canais, seguido pelo segmento eletroeletrônico (26,32%), farmacêutico (10%), indústria digital (9%) e automotiva (7,7%).

O SMS é o recurso mais usado pelas companhias para se comunicar com seus clientes: 22% já realizaram ações empresariais com a ferramenta. Isso se deve principalmente porque a mensagem de texto pode ser transmitida para qualquer modelo de celular, até os mais simples. O uso de aplicativos para smartphones (como notícias, informações, lista de compras, etc) é o segundo canal móvel mais popular para comunicação com o cliente com a adesão de 14% das empresas. Esse recurso se popularizou com o lançamento do iPhone, da Apple, que oferece junto com o aparelho as lojas de aplicativos (iTunes e App Store). Para efeito de comparação, das 2 mil empresas do ranking da "Fortune", 10% lançaram aplicativos para telefones inteligentes, segundo a Research2Guidance.

Quanto aos sites móveis, apenas 12% das 500 maiores companhias têm um. As empresas dão pouca importância em formatar uma comunicação específica para o aparelho móvel. "Se esquecem que existem mais celulares que computadores e que estes estão sempre junto aos consumidores", diz Santa Rosa. Outro erro comum é fazer um site para celular similar ao da internet fixa. Segundo o executivo, esse site deve ser formatado para o aparelho, com informações específicas para esse formato como o endereço de lojas, apresentação de promoções e oferecer recurso de "click to call" (com um clic o assinante se conecta com a companhia).

Segundo a pesquisa da Mowa, entre os 5% das companhias que usam os três canais móveis (SMS, site e aplicativo), apenas 4% delas pertencem ao varejo, 20% são da área de telecomunicações, 20% do setor eletroeletrônico e 16% de bens de consumo. Dos setores que usam pelo menos um canal, a indústria digital sai na frente com quase 60% e 36,36% usa pelo menos dois canais. Do ponto de vista dos aplicativos criados especialmente para os celulares (iPhone, Blackberry e smartphones) apenas 14% encomendaram esses produtos para levar informações e serviços aos seus consumidores. O setor de telecomunicações é o que mais usa aplicativos (56,25%), vindo em seguida o eletroeletrônico (52,63%) que também é o segmento que mais tem site móvel (42,11%).

Zaffari fatura R$ 2,1 bi e só fica atrás do Walmart

Sérgio Bueno, de Porto Alegre
15/04/2010

Mesmo com a crise econômica, a rede supermercadista Zaffari, com sede em Porto Alegre, alcançou faturamento bruto de R$ 2,110 bilhões em 2009, com alta de 17,4% sobre o ano anterior. Os dados fazem parte do ranking da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), divulgado ontem, e incluem a loja em São Paulo.

Procurada pelo Valor, a rede não se pronunciou. No fim de março, quando apresentou a construção de um novo shopping center com a bandeira Bourbon, em Porto Alegre, o diretor de expansão Cláudio Luiz Zaffari informou que a previsão de crescimento das vendas em 2010 é semelhante à que foi registrada em 2009. Se a projeção se confirmar, o Zaffari chegará a uma receita bruta de quase R$ 2,5 bilhões neste ano. Em março o diretor também anunciou investimentos de R$ 250 milhões para este ano, com alta de 25% sobre 2009. A maior parte será aportada no novo shopping, além de ampliações e melhorias nas lojas da rede.

Conforme a Agas, não houve alteração nas dez primeiras posições no ranking de 2009. O Zaffari é a segunda maior rede em operação no Estado. A primeira é o Walmart, que faturou R$ 3,907 bilhões no Rio Grande do Sul, 11,5% a mais do que em 2008. O Carrefour aparece em terceiro lugar, com expansão de 20,5% na receita, para R$ 883,3 milhões no período.

A Agas informou ainda que o Walmart fechou 2009 com 101 lojas e 18,4 mil funcionários no Estado. O Zaffari tem 29 lojas (incluindo São Paulo) e 8,8 mil empregados, enquanto o Carrefour soma oito pontos de venda e 2,4 mil funcionários no Rio Grande do Sul.

A entidade fez o levantamento com 208 empresas, que representam cerca de 85% do setor e tiveram faturamento total de R$ 11,861 bilhões no Estado em 2009, um crescimento de 15,9% sobre o ano anterior. Segundo o presidente da associação, Antônio Cesa Longo, o desempenho deveu-se a fatores como o aumento do nível de emprego e a migração de 700 mil gaúchos das classes D e E para a C.

Advogados do Pão de Açúcar e da Casas Bahia negociam acordo

Advogados do Pão de Açúcar e da Casas Bahia negociam acordo
Casino ganha com Ponto Frio, mas perde Venezuela

Ladka Bauerova* e Daniele Madureira, de Paris e São Paulo
15/04/2010

A rede brasileira de eletroeletrônicos Ponto Frio despontou de maneira positiva no balanço do primeiro trimestre do grupo francês Casino, a maior rede de supermercados de Paris, sócia do Grupo Pão de Açúcar no Brasil. Com a incorporação do Ponto Frio pelo Pão de Açúcar, em julho, as vendas reportadas pelo sócio brasileiro cresceram mais que 50% no período. O desempenho gerou impactos sobre as vendas do Casino na América do Sul, que aumentaram 10,5% entre janeiro março deste ano, sobre igual período do ano anterior, quando haviam avançado 4,4%.

No total, as vendas da varejista francesa cresceram 5,6% no primeiro trimestre, lideradas pelos ganhos na América Latina e Ásia. A receita operacional subiu para € 6,26 bilhões. O resultado superou a estimativa de sete analistas consultados pela Bloomberg, que esperavam receita de € 6,55 bilhões. As operações internacionais representaram 36% das vendas totais no período, contra 32,7% no mesmo trimestre do ano passado.

As vendas da Casino nas lojas abertas há pelo menos um ano cresceram 11% na América do Sul e 5,3% na Ásia. Segundo a companhia, Colômbia e Argentina também contribuíram para o bom desempenho. O resultado poderia ter sido ainda melhor na América do Sul, não fosse a decisão do presidente venezuelano Hugo Chávez de nacionalizar a rede de hipermercados Exito no início deste ano, o que levou o Casino a não considerar a operação no país no balanço desde 1º de janeiro.

"Acreditamos que os negócios continuarão bons no Brasil, com um crescimento de dois dígitos de trimestre sobre trimestre", disse Jaime Vazquez, analista do JP Morgan & Chase em Londres, em uma análise divulgada antes da publicação dos resultados.

Os resultados do sócio francês são divulgados em meio à iniciativa da Casas Bahia de pedir a revisão da sua associação com o Pão de Açúcar, apenas quatro meses depois do acordo, que havia criado uma companhia de R$ 40 bilhões. Hoje, o presidente do conselho de administração do Pão de Açúcar, Abilio Diniz, volta da França, onde já tinha uma reunião agendada com o Casino. Enquanto isso, os advogados de ambas as empresas - Pinheiro Neto, da Casas Bahia, e Barbosa, Müsnich & Aragão, do Pão de Açúcar - seguem negociando. Há expectativa de que um novo acordo saia até sexta-feira.

No Casino, as vendas pelo critério "mesmas lojas" da divisão de superlojas Geant na França caíram 4,7% porque os consumidores reduziram as compras de produtos mais caros e de itens não alimentícios, como eletrônicos. A receita dos pontos de venda abertos há pelo menos um ano caiu 1% na rede de supermercados Casino e 11% na rede de lojas de descontos Leader Price, mas cresceu 2,3% na Monoprix, sua unidade de lojas de conveniência. Excluindo-se aquisições e as variações cambiais, a receita da companhia na França, que responde por cerca de dois terços das vendas totais, caiu 0,9%, uma vez que os franceses reduziram seus gastos por causa da recessão.

No ano passado, o Casino vendeu sua fatia de 57% no grupo varejista holandês Super de Boer, para a Jumbo Holding, de Veghel, Holanda, por cerca de € 550 milhões. As lojas Exito do grupo varejista na Venezuela foram confiscadas e nacionalizadas pelo governo no começo de 2010. (*Bloomberg)

terça-feira, 13 de abril de 2010

Infarto de cliente

A Brasil Telecom foi condenada a pagar R$ 20,4 mil de indenização por danos morais pela morte de cliente que sofreu infarto enquanto tentava cancelar um serviço por meio de call center da empresa. A decisão foi tomada pela 3ª Turma Recursal Cível dos Juizados Especiais do Estado, por unanimidade, reformando decisão de primeira instância, onde o processo havia sido extinto sem julgamento do mérito. A ação foi ajuizada na comarca de Uruguaiana pela viúva do cliente, que era titular de linha telefônica a qual estava vinculado o serviço de banda larga BR Turbo. A viúva sustentou que, devido ao mau atendimento, a pressão arterial do marido aumentou e ele sofreu infarto agudo durante o contato com o call center, depois de aproximadamente 45 minutos de permanência ao telefone. O óbito ocorreu dois dias após a internação hospitalar. No entendimento do relator do recurso, juiz Carlos Eduardo Richinitti, "o histórico de problemas que o cliente vinha enfrentando com a empresa, conhecida pelo mau atendimento aos clientes, permite conclusão de que houve nexo de causalidade entre a morte e o procedimento da companhia".

"Os 100 Melhores Livros de Negócios de Todos os Tempos"

Uma galeria de respeito, do longinquo Dale Carnegie a Seth Godin.

Ideias que contam na hora de decidir

Por Edson Pinto de Almeida, para o Valor, de São Paulo
13/04/2010
"Os 100 Melhores Livros de Negócios de Todos os Tempos" - Jack Covert e Todd Sattersten.

É difícil resistir a uma lista dos melhores de todos os tempos, seja do que for: música, filme ou livros. A ideia não é nova, mas ganhou originalidade nas mãos de Jack Covert e Todd Sattersten. Os dois comandam um dos negócios mais bem-sucedidos do ramo editorial nos Estados Unidos, o 800-CEO-Read, especializado na venda de títulos voltados para todos os segmentos da área de negócios. Não se trata apenas de um site comum de vendas pela internet. Ali se oferecem serviços de marketing, distribuição e divulgação, inclusive por meio de um blog, newsletter e particularmente bem trabalhadas resenhas - nada parecidas com poucas linhas tiradas da orelha dos livros. Vem daí a matéria-prima acumulada durante vários anos e agora empregada na produção de "Os 100 Melhores Livros de Negócios de Todos os Tempos", lançado nos Estados Unidos no ano passado.

A compilação é dividida em 12 seções organizadas por categorias: Você, Liderança, Estratégia, Vendas e marketing, Sistemas de pontuação, Gestão, Biografias, Empreendedorismo, Narrativas, Inovação e criatividade, Grandes ideias e Lições aprendidas. Abrange pelo menos 70 anos de produção do ramo editorial de negócios. De Dale Carnegie ("Como fazer Amigos e Influenciar Pessoas") a obras mais recentes como "A Vaca Roxa", de Seth Godin, que defende a propaganda boca a boca como a mais eficaz ferramenta de marketing. Obviamente, não poderiam faltar entre "Os 100 Melhores" os grandes gurus, como Peter Drucker, Michael Porter, Tom Peters, Phillip Kotter, Jim Collins, C.K. Prahalad e W. Edwards Deming.

Os próprios autores reconhecem que, como qualquer outra, a lista de "Os 100 Melhores" está sujeita a discordâncias. Por isso, deixam claros seus critérios. Foram descartados livros com teorias datadas ou em desuso e casos de sucesso de empresas que não existem mais. O objetivo deles foi eleger obras mais contemporâneas, acessíveis e de conteúdo aplicável. Alguns clássicos, como "A Riqueza das Nações", de Adam Smith, "A Origem das Espécies", de Charles Darwin, "O Príncipe", de Niccolò Machiavelli, e "A Arte da Guerra", de Sun Tzu, são mencionados em complementos que acompanham cada capítulo.

Como bons vendedores que são, Covert e Sattersten fizeram um produto para agradar, tanto na forma como no conteúdo. O estilo está mais próximo de uma revista. As resenhas são intercaladas por quadros independentes de textos com sugestões de filmes, romances e até de literatura infantil. Mas também se destacam os "14 princípios de gestão" de W. Edwards Deming, que acompanham a análise do livro "Saia da Crise", e uma seleção de "insights" de Peter Drucker (de sua autoria, são citados "O Gerente Eficaz", de 1990; "Administrando para Obter Resultados", de 1998; e "O melhor de Peter Drucker" (de 2002).

Covert e Sattersten trabalham com a certeza de que livros sobre negócios são uma importante fonte de inspiração para os executivos em toda parte do mundo. Aqui no Brasil, por exemplo, segundo Luiz Carlos Cabrera, consultor e professor de gestão de carreiras da FGV-EAESP, esse tipo de leitura tem cada vez mais um viés pragmático. "Percebo que os executivos das regiões mais afastadas dos centros culturais preferem as biografias", diz. "Acredito que buscam mais a experiência vivida do que conceitos, muitas vezes complexos." Nos grandes centros, como Rio e São Paulo, Cabrera vê uma preferência por livros que analisam as questões ligadas ao desempenho das empresas. Entre as biografias listadas em "Os 100 Melhores" estão as de John D. Rockefeller, David Packard (da HP), Alfred Sloan (da GM), Sam Walton (Walmart), Katherine Graham ("Washington Post") e Richard Branson (Virgin).

As obras resenhadas em "Os 100 Melhores" contemplam todas as tendências. Mesmo livros de autoajuda não ficam de fora. Aparecem logo no primeiro capítulo, intitulado "Você". Entre eles está "Os Sete Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes", de Stephen Covey, que há tempos frequenta a lista de mais vendidos aqui no Brasil. Covert e Saterstten estão menos preocupados com o desempenho das vendas do que em extrair de cada obra qual é a ideia principal, sua importância e como ela pode ajudar o homem de negócios. Uma lacuna que fica para quem não lê inglês é o livro "The Smartest Guys in the Room", de Bethany Mclean e Peter Elkind, que trata do caso Enron, a empresa que foi do céu ao inferno - "uma história da fraqueza humana, de arrogância, ganância e delírio desenfreado".

Em tempos de grandes redes de livrarias e muita impessoalidade, Covert e Sattersten conseguem criar um clima amigável, de quem joga conversa fora na mesa de um café. Essa informalidade é uma extensão daquilo que fazem melhor: vender livros. E, como ensina Drucker, criar clientes, explorando as duas funções básicas de uma empresa: marketing e inovação.

Das dez recomendações extraídas de "Os 100 Melhores", Covert e Sattersten revisitam conceitos que se tornaram clássicos da literatura de negócios, como ser o primeiro na mente do consumidor (de Al Ries e Jack Trout, em "Posionamento: a Batalha por sua Mente"). Contra o clichê de que a mudança é a única constante em um mundo imprevisível, eles rebatem com Charles Handy, autor de "A Era da Irracionalidade: A Melhor Maneira de Enfrentar a Mudança: Comece Mudando a si Mesmo". Há também a lição que Luiz Carlos Cabrera endossa, de aplicação universal: leia tudo de Peter Drucker. "E faça com que seja seu livro de cabeceira".