segunda-feira, 29 de março de 2010

Na favela, seguro para casa de tijolo

Bradesco identificou imóveis legalizados e de alvenaria que podem ser segurados

Janes Rocha, do Rio
29/03/2010

Claudio Belli/Valor

O seguro residencial está chegando às favelas. A Bradesco Seguros começou este mês a vender apólices de seguros residenciais nas comunidades de Heliópolis, em São Paulo, e da Rocinha, no Rio de Janeiro.

As seguradoras que operam seguro residencial têm se mantido distante das favelas. Além do risco alto no sentido da precariedade das construções, instalações e infraestrutura, a própria legislação e a burocracia da regulamentação impedem o seguro de casas instaladas em áreas de risco, ocupações ilegais e sem um mínimo de proteção contra danos.

Mas a Bradesco identificou muitas residências que poderiam ser seguradas naqueles locais. "Podemos fazer o seguro desde que a casa seja de alvenaria, legalizada e tenha um endereço definido", explica Marco Antonio Rossi, presidente do grupo de seguros e previdência do Bradesco. A agência de Heliópolis é a segunda do Bradesco em uma favela. A primeira foi a da Rocinha, onde o Bradesco já tem 2.500 clientes, sendo 15% de empresas.

Rossi informa que a companhia atingiu um milhão de seguros residenciais vendidos. Mas diz que isso não é nada perto do potencial percebido pela empresa: só na própria "casa" - ou seja, entre os 20 milhões de correntistas do banco - há oito milhões de pessoas identificadas como potenciais clientes do seguro residencial. Além disso, no Brasil existem 51 milhões de residências, das quais só 10% têm seguro, lembra Marco Antonio Gonçalves, diretor da área de ramos elementares da companhia.

O seguro residencial é um dos produtos de um pacote que a Bradesco Seguros preparou e já está vendendo para o público com renda de até três salários mínimos, nos moldes do microsseguro que aguarda regulamentação do Congresso (veja texto abaixo). Outros são seguro de vida, auxílio funeral, acidentes pessoais e títulos de capitalização. "Estamos apostando muito no microsseguro", diz Rossi.

Segundo o executivo, a seguradora já oferece seguros a R$ 3,70 por mês, valor que está permitindo acessar um público que nunca havia comprado seguros antes. "Podemos oferecer auxílio funeral mais acidentes pessoais e sorteio de prêmios (capitalização) a R$ 9,90 com cobertura (indenização) de R$ 5 mil a R$ 25 mil, dependendo da idade do segurado."

Em seguros de tão baixo valor, o custo operacional e de distribuição é "crítico" na definição de Rossi. "Tem que ter um agente (de venda) e não pode ser muito burocrático." Para ele, nesse ponto a Bradesco leva vantagem sobre seus concorrentes porque pode aproveitar a capilaridade do banco, com seus 35 mil pontos de atendimento em todos os 5.564 municípios brasileiros.

Impulsionada pela base de clientes do banco, a massa de segurados de vida saiu de cinco milhões para 18 milhões nos últimos cinco anos. "De outubro para cá, entraram 60 mil novos CPF (Cadastro de Pessoa Física na Receita Federal) na nossa carteira", afirma Rossi.

Questionado se a estratégia de expansão inclui aquisição de outras empresas, Rossi responde que a companhia está satisfeita com os resultados da última compra (parte do capital da Odontoprev) e muito focada no crescimento orgânico, já que a carteira de apólices residenciais mostra como há um enorme espaço para crescer internamente. "Temos uma Bradesco Seguros dentro do Bradesco para crescer", costuma dizer. No entanto, garantiu que "estamos abertos a qualquer bom negócio que apareça."

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