quarta-feira, 24 de março de 2010

Como a tecnologia avança nos MBAs

Novas ferramentas estão mudando a forma de ensinar e aprender sobre o mundo dos negócios.

Por Della Bradshaw, do Financial Times
24/03/2010

É difícil lembrar uma ocasião em que os avanços na tecnologia tenham mudado tanto a maneira de como as pessoas interagem e aprendem. Kindle, iPhone, YouTube, Skype, Twitter... todas essas ferramentas vêm ajudando a transformar a maneira como as pessoas estudam, do mais humilde universitário ao executivo graduado. Esses avanços também estão permitindo às escolas de negócios mudarem a maneira como operam.

O surpreendente é que algumas das instituições de ensino mais antigas estão na dianteira desses acontecimentos. A Darden School da Universidade da Virgínia, por exemplo, foi pioneira no uso do Kindle, enquanto a Stanford Graduate School of Business vem usando o Facebook há vários anos para manter contato com candidatos a MBA. Mark Zupan, reitor da Simon School da Universidade de Rochester nos Estados Unidos, diz que a escola está experimentando as mídias sociais para fornecer material para possíveis alunos e ex-alunos.

Mas é nas escolas que fornecem programas à distância que as maiores mudanças estão ocorrendo. James Fleck, reitor da Open University Business School, diz que para esse tipo de instituição não é a tecnologia que importa, e sim o aprendizado. "A tecnologia é simplesmente um meio para se atingir um fim". O fim, diz ele, é "a pedagogia e a qualidade da experiência de aprendizado." A Open University, baseada no Reino Unido, vem sendo um dos maiores expoentes do podcasting como meio de fornecer material educacional, com cerca de 10 milhões de downloads até agora - 84% feitos por estudantes dos EUA.

Os avanços nas principais tecnologias da computação e das comunicações melhoraram muito a acessibilidade e a experiência dos estudantes nos últimos anos, afirma Nigel Banister, superintendente global da Manchester Business School. "Quando comecei a trabalhar com a tecnologia da informação, tudo envolvia o apoio administrativo", afirma. "Mas, há cerca de um ano, veio a Web 2.0, que significa basicamente que todo estudante vai criar seu próprio espaço personalizado."

Os livros escolares personalizados também estão ficando cada vez mais populares. Em vez de pedir aos alunos que comprem determinado material para um curso, os professores estão trabalhando com editoras para desenvolver textos específicos, incorporando capítulos de uma série de livros. O vídeo também está voltando, diz Banister, na medida que serviços como o Skype permitem a interação entre os participantes dos cursos. "Quando os alunos estão fora do campus, fica mais fácil para eles a comunicação em uma base regular." Em especial, isso sustenta a relação entre orientadores e alunos em programas de doutorado. A Manchester Business School também transmite vídeo usando a tecnologia de sistema de aprendizado da Blackboard, de modo que os alunos podem voltar para uma aula mesmo que tenham participado dela na classe. A tecnologia de vídeo também pode ajudar as escolas a estabelecerem salas de aula virtuais. Com os avanços tecnológicos, as escolas de negócios poderão ampliar rapidamente seus programas. A U21Global, uma faculdade online de Cingapura, foi estabelecida em 2001 e conseguiu os primeiros alunos em 2003. Este ano, ela matriculou quase 7.500 estudantes, incluindo cerca de 4.800 alunos de MBA de 72 países. A Open University Business School ensina alunos de 107 países.

Na Athabasca University do Canadá, no momento apenas 5% dos alunos de MBA são estrangeiros, mas o recém-nomeado reitor Alex Kondra tem planos para mudar isso. "Estamos desenvolvendo relações com instituições de outros países." Como a faculdade fornece programas para todo o Canadá, ela já trabalha em sete fusos horários. "Acrescentar mais alguns não é problema", garante Kondra.

Nick Hutton, executivo-chefe da U21 Global, diz que sua organização está representando cada vez mais uma concorrência para as escolas de negócios tradicionais baseadas em campi. A dificuldade, na opinião dele, é convencer os gerentes de recursos humanos a tentarem o aprendizado online. "Uma vez que eles experimentam, acabam ficando satisfeitos. Mas trata-se de mudar um paradigma."

A U21 Global está trabalhando com a Euromed Marseille da França e com a Indira Gandhi National Open University da Índia no desenvolvimento de programas. "Poder entregar nossos produtos junto com outras instituições acadêmicas é muito animador", diz Hutton, acrescentando que esse tipo de cooperação floresceu ao longo dos últimos 12 meses.

Um dos fatos indiscutíveis sobre o aprendizado online é que, numa era em que existe uma falta significativa de corpos docentes qualificados nas escolas de negócios, isso permite às instituições de ensino ministrarem seus programas usando menos professores. A U21, por exemplo, tem apenas um corpo docente "full-time" de 13 pessoas, com 110 adjuntos. Mas há outras vantagens. As escolas informam que as discussões não sincronizadas permitem a muitos estudantes uma participação maior. Alguns atribuem isso a diferenças culturais- nas aulas presenciais, as discussões sempre são dominadas por um punhado de alunos dos EUA ou do Reino Unido, que têm o inglês como idioma natal. Mas em uma discussão não sincronizada, todas as nacionalidades têm oportunidade de se manifestar ao seu próprio tempo.

No entanto, os avanços tecnológicos criam alguns problemas para as escolas de negócios. Em especial, há o desafio para os acadêmicos mais velhos, segundo diz Banister da Manchester Business School. "Nem todos têm 20 e poucos anos e intimidade com a tecnologia." E é bom ressaltar que nem todo mundo defende a implementação rápida da tecnologia. Na Athabasca University, Kondra se diz que quando se tem vários fusos, o trabalho sincronizado não é necessariamente o mais apropriado. "No momento, a capacidade de se trabalhar offline é a coisa mais importante - é a capacidade de ser colaborativo." Já na Durham Business School do Reino Unido, Alison Bell, gerente editorial dos programas de aprendizado a distância, relata que uma pesquisa recente entre alunos matriculados mostrou que 86% ainda prefere fazer seus trabalhos no papel, em vez de no computador. (Tradução de Mario Zamarin)

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