terça-feira, 16 de março de 2010

DDA Sistemas integrados

Atrair boletos do setor de serviços para a cobrança eletrônica é o novo desafio dos bancos.

Por Denise Bueno, para o Valor, de São Paulo
16/03/2010

Quem imaginaria ter um banco executando uma das funções do porteiro do prédio? Com o lançamento do DDA, Débito Direto Autorizado, que acaba de completar quatro meses, as contas passaram a ser entregues pelo banco no endereço eletrônico do cliente, e não mais pelo funcionário do condomínio ou pelo carteiro. Pelos números da Câmara Interbancária de Pagamentos (CIP), cerca de 58,8 milhões de boletos já estão cadastrados e passaram a ser enviados eletronicamente. A meta é eliminar a emissão de 50% dos 5 bilhões de boletos que circulam anualmente no Brasil no prazo de três anos.

"Todos ganham. O novo serviço permite que as empresas e toda a sociedade tenham mais produtividade e eficiência na utilização dos serviços e produtos bancários", afirma Sandra Boteguim, diretora de produtos do Itaú Unibanco.

O DDA também contribuirá para aumentar a segurança das transações e reduzir o tempo médio de envio de boletos registrados, de seis para apenas um dia. "O banco lucra ao agradar o correntista com a comodidade de efetuar uma operação online", diz Altair Antonio Sousa, do Bradesco, que já conta com 700 mil clientes cadastrados.

Joaquim Kavakama, superintendente geral da CIP, conta que um dos funcionários que participaram do desenvolvimento do DDA cadastrou-se como sacado eletrônico. O primeiro boleto que ele recebeu era relativo à mensalidade de uma operadora de tevê a cabo. "Porém, ele não tinha tevê a cabo. Além disso, a assinatura referia-se à prestação do serviço em Curitiba. Só que ele mora em São Paulo", conta Kavakama. Resumo: por causa do DDA, o funcionário acabou descobrindo que seu CPF estava sendo utilizado indevidamente.

A partir deste mês, começa a fase dois do projeto do sistema bancário brasileiro, o único no mundo a ter um sistema de cobrança tão sofisticado, segundo os especialistas. Afinal, digitar os dados, imprimir a fatura e colocá-la no correio são procedimentos considerados ultrapassados diante da possibilidade de mandar tudo pelo correio eletrônico. "No Brasil, o departamento de contas a pagar de grandes corporações abre o computador já com a posição de cobrança há anos", destaca Leonardo Ribeiro, diretor de produtos do Santander e membro do grupo da Febraban responsável pela criação do DDA, projeto desenvolvido em parceria com Associação Brasileira de Bancos (ABBC), Associação Brasileira de Bancos Internacionais (ABBI) e Associação Nacional de Bancos (Asbace).

O projeto DDA já foi apresentado pela Febraban em eventos na Europa, EUA e América Latina. "O fato de o país ter inflação elevada no passado estimulou a criatividade do brasileiro, viabilizando a criação de um sistema financeiro considerado um dos mais modernos do mundo", acrescenta Sandra. A parte mais difícil do projeto foi fazer os bancos sentarem-se à mesma mesa para negociar. Afinal, os dados sobre clientes são compartilhados no DDA.

A saída foi criar vários códigos de conduta e de autorregulamentação para inibir e punir qualquer atitude fora dos padrões éticos.

A adesão de 99% dos bancos fez o DDA ser considerado um sucesso entre as empresas e usuários que acessam o banco pela internet. Dos 2,8 milhões de usuários (sacados) que entraram no DDA, 80% referem-se a registros de CPF. O Santander totaliza 423 mil cadastros, 15% do mercado. "Esperamos ter a rede bem treinada para depois lançar o produto e, assim, evitar ruídos na comunicação com o cliente", diz Leonardo Ribeiro. Dos 420 mil novos cadastros de boletos do primeiro bimestre, o Santander foi responsável por 247 mil. "Representa 54% do obtido por todo o mercado em janeiro e fevereiro", comemora.

O Banco do Brasil contabilizou 1,2 milhão de sacados eletrônicos até o início de março. "Temos quase 40% do mercado. Isso mostra que fizemos um bom trabalho de divulgação", diz Sidney Passeri, gerente executivo da diretoria comercial. Dos 58,8 milhões de boletos apresentados, 17 milhões são do BB, sendo 95% referentes a pessoa jurídica e 5% a pessoa física.

Mesmo com o processo de integração no ano passado, o Itaú Unibanco preparou toda a tecnologia necessária para disponibilizar o serviço aos clientes a partir de outubro. Cerca de 600 mil clientes, da carteira de 1 milhão de empresas, aderiram ao DDA. "Quase 80% dos clientes que faziam pagamento eletrônico aderiram ao DDA, com alto índice de satisfação", conta Sandra Boteguim.

Apesar de os números parecerem grandiosos, são pequenos considerando-se que há algo próximo de 100 milhões de contas correntes ativas no país e mais de 5 bilhões de boletos emitidos anualmente. "Concluímos a primeira fase. Começa agora a segunda parte do ambicioso projeto do DDA", dizem os executivos. Há dois grandes desafios nesta nova etapa. O primeiro é trazer para a chamada cobrança registrada o universo de boletos que hoje são impressos e postados pelos próprios cedentes, em geral no segmento de serviços.

Segundo a Febraban, 70% dos 5 bilhões de documentos de cobrança que circulam no mercado não são emitidos pelas instituições financeiras e sim pelos clientes.

As cobranças sem registro acabam por frustrar os clientes. Apesar de estarem cadastrados no DDA, eles continuam recebendo boletos. No caso da cobrança simples, feita pela própria empresa, o banco só toma conhecimento dos pagamentos quando eles batem na sua compensação. Somente boletos emitidos dentro do sistema de cobrança registrada - aquela feita pelo banco - são "reconhecidos" pelo DDA.

Por isso, registrar a cobrança de tributos, serviços, como luz, água, telefone, seguros, escolas, condomínios, fatura do cartão de crédito, entre outros que emitem o boleto diretamente ao consumidor, é parte prioritária da segunda fase do projeto DDA.

Os bancos têm uma série de benefícios para convencer os clientes a registrar a cobrança. "Aderir ao registro conta pontos positivos na avaliação da taxa de juros nas linhas de financiamento, por contar pontos no relacionamento com o banco", lembra Sandra.

Um ponto importante é a diferença entre DDA e débito automático, que conseguiu uma adesão considerada pequena até hoje, em torno de 35% das contas de concessionárias de serviços. A principal justificativa das pessoas é o medo de pagar uma conta que pode não estar correta. "Os boletos ficarão disponíveis para consulta, mas o pagamento continuará sendo uma opção do cliente", ressalta o diretor do Bradesco.

Estimular o uso do canal eletrônico para se relacionar com o banco é outro desafio dessa nova fase da DDA. Sem valores consolidados, estima-se que os bancos investiram R$ 6,5 bilhões em tecnologia para ampliar o acesso. Dados informais apontam que 30% da base de correntistas usam a internet para movimentação financeira. Cerca de 10% dos usuários da internet banking usam o celular para fazer operações bancárias.

A divulgação do serviço nessa segunda fase do projeto lembra aquela campanha publicitária da Caloi, que virou caso de sucesso na década de 80, onde havia um bilhete do filho para lembrar o pai de comprar a bicicleta em todos os lugares. No caso do cliente cadastrado no DDA, o aviso chega por torpedo e e-mail. Se o pagamento permanece sem ser aberto, os avisos se espalham. Abriu o internet banking, lá vem a "pop up" de alerta. Passou o cartão no caixa eletrônico para consultar saldo, extrato ou saque, novamente receberá um lembrete caso não tenha aberto o aviso de cobrança. Tudo para que o cliente não se esqueça de programar o pagamento. Ou seja, se estiver viajando, o cliente não precisa mais se preocupar com as contas que geralmente ficam embaixo da porta. Estarão todas lá na caixa postal.

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