sexta-feira, 26 de março de 2010

Copom vê riscos para estabilidade de preços e indica elevação da Selic

Fernando Travaglini, de Brasília
26/03/2010

Os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central chegaram a um "consenso" quanto à necessidade de se implementar um ajuste na taxa básica de juros, segundo informou a ata da última reunião, divulgada ontem. Segundo o Copom, "aumentaram os riscos" para a estabilidade dos preços, fruto do aquecimento da economia e da recente deterioração das expectativas de inflação, que se encontram "sensivelmente acima do valor central da meta" para este ano (4,5%).

"O Copom avalia que, diante dos sinais de robustez da demanda doméstica, ocasionando redução da margem de ociosidade dos fatores de produção, evidenciada por indicadores de utilização da capacidade na indústria e do mercado de trabalho, e do comportamento recente das expectativas de inflação, aumentaram os riscos para a concretização de um cenário inflacionário benigno."




Desde a última reunião do Copom, a mediana das expectativas de mercado para a variação do IPCA em 2010 elevou-se de 4,60% para 5,03%. Para 2011, a mediana passou de 4,50% para 4,60%. Já o nível de utilização da capacidade instalada na indústria de transformação da Fundação Getúlio Vargas (FGV) atingiu 83,1% em fevereiro, 6,1 pontos percentuais acima do mesmo mês de 2009.

A maior parte dos membros do Copom, no entanto, decidiu por "monitorar atentamente", nas palavras do texto da ata, a evolução do cenário enquanto aguarda o processo de retirada dos estímulos dados pelo governo durante a crise.

"Os efeitos desses estímulos serão parte importante do contexto no qual decisões futuras de política monetária, que devem assegurar a manutenção da convergência da inflação para a trajetória de metas em 2010 e 2011, serão tomadas."

Por causa disso, foi mantida a Selic em 8,75% ao ano, com 5 votos a favor e 3 pela elevação de 0,5 ponto - o que levaria o juro básico a 9,25% anuais. A próxima reunião será em 27 de abril.

O Copom, no entanto, ressalta que "também houve consenso entre os membros do comitê quanto à necessidade de se adequar o ritmo do ajuste da taxa básica de juros à evolução do cenário inflacionário prospectivo, bem como ao correspondente balanço de riscos, de forma a limitar os impactos causados pelo comportamento da inflação corrente sobre a dinâmica subjacente dos preços".

Na interpretação do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, o comitê entende que a intensidade da elevação dos juros terá que ser adequada para o caso em que o balanço de riscos mais desfavorável se manifeste.

"Em outras palavras, se houver deterioração significativa do cenário inflacionário e do descompasso entre oferta e demanda, o Banco Central poderá acelerar o ritmo de subida de juros em relação ao originalmente planejado ou em relação ao esperado pelo mercado", diz o Bradesco em relatório.

Também em relatório, a equipe econômica do Santander avalia que o Copom já tinha bastante certeza, na reunião de março, do ritmo de recuperação da atividade econômica e do impacto sobre inflação. Essa sinalização, expressa na ata, reforça a expectativa de alta de 50 pontos bases na reunião de abril. O banco projeta ciclo de alta de 300 pontos ao longo deste ano, elevando a taxa Selic para 11,75% ao ano no final de 2010.

Já a LCA Consultores espera alta menor, de 250 pontos base no ano. "O conteúdo da ata do Copom não confronta esse diagnóstico. A autoridade monetária sinaliza, no documento, que irá agir de modo a 'zelar para que as pressões inflacionárias sejam contidas', mas não chega a pintar um quadro em que a dinâmica inflacionária esteja sob risco imediato de descontrole - de forma que a atuação a política monetária tenderá a ser mais preventiva do que combativa", diz a análise.

Ainda de acordo com a LCA Consultores, a recente evolução doméstica da atividade econômica e da inflação tende a reafirmar esse cenário de elevação moderada no juro primário. "A atividade tem mostrado sinais de moderação do seu ritmo marginal de expansão, ao passo que a inflação corrente vem sofrendo relevante desaceleração (tanto no atacado industrial como ao consumidor)."

Também na ata, o Banco Central elevou a projeção de reajustes dos itens administrados por contrato e monitorados para 2011. O índice esperado passou de 4,1% para 4,4%.

Para este ano, o patamar foi mantido em 4% para o conjunto dos preços administrados por contrato - como as tarifas de serviços. O Copom manteve ainda a expectativa de reajuste zero para a gasolina e para o gás de botijão neste ano.

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