quarta-feira, 24 de março de 2010

Devo reclamar de um colega preguiçoso que ganha mais?

Gilberto Guimarães responde
24/03/2010

Trabalho com uma pessoa menos capaz e muito preguiçosa. Cheguei a pensar em contar isso para o meu chefe, mas decidi não fazer porque ele é um colega agradável e também não via benefício em criar uma intriga. Entretanto, por engano, abri o seu holerite e descobri que ele ganha 30% a mais que eu. Agora, estou furioso e quero fazer algo a respeito. Será que eu deveria abrir o jogo com o meu chefe e pedir um aumento e mais reconhecimento pelo meu trabalho ou vou parecer apenas um espião invejoso?

Administrador da área de seguros, 30 anos de idade

Resposta:

Existe uma máxima em gestão de pessoas que diz: "Para reter e mobilizar os melhores talentos para fazerem a coisa certa, consumir o mínimo de recursos e obter o máximo de resultados, você deve se livrar de algumas pessoas que não podem fazer parte de uma equipe de alta performance. Para isso livre-se dos preguiçosos; que falam muito, fazem pouco, vivem tendo grandes ideias, mas acabam sempre dando apenas boas desculpas pelo não feito..." Isso talvez precise ser dito ao seu chefe.

Mas, por outro lado, a mesma máxima continua e também diz: "Livre-se dos pretensiosos; que se creem melhores do que são, não ouvem e não aceitam a opinião dos outros, e para quem a culpa é sempre dos outros". E mais: "Livre-se também dos 'politiqueiros'; que falam demais, que julgam demais, que fofocam por tudo e com todos, e acabam desestabilizando as lideranças sem oferecer nada de volta." Finalmente, a máxima termina com um: "Tirando estes, todos os demais são bons parceiros de equipe."

Ooops! Talvez seja melhor não falar nada com o chefe pois, afinal, ele já deve mesmo saber. Possivelmente sua empresa e seu chefe ainda sejam daquela época em que o "tempo de casa" e a lealdade eram fatores fundamentais na avaliação e evolução dos salários e das promoções. Isso sempre provoca um efeito colateral perverso, porque profissionais antigos acabam tendo remuneração superior a de profissionais mais jovens, mais preparados ou mais eficazes. Além disso, a forma clássica de avaliação e remuneração era ligada ao esforço realizado. Hoje, na sociedade do conhecimento, uma pessoa não pode mais ser avaliada e remunerada assim. O novo modelo supõe o uso da inteligência, quando no anterior se consumia braços e pernas. Os trabalhadores do conhecimento são especialistas e sabem mais do que seus chefes.

A nova estrutura organizacional precisa incorporar flexibilidade e especialização. Não se consegue mais impor a antiga forma de gestão por números, valores e prazos, através de estruturas hierárquicas departamentalizadas. Não existe mais uma relação direta entre o desempenho e o volume de produção. Não faz sentido avaliar, por exemplo, um analista pela sua velocidade de digitação. Além disso, o trabalhador do conhecimento não é incentivado apenas por incentivos financeiros. O novo desafio é criar espaço e condições para reter os talentos, pela atualização permanente, pelo uso das técnicas e sistemas mais modernos, pela liberdade de atuação e pela valorização do conhecimento. Esta dificuldade acarreta uma inadequação dos sistemas clássicos de avaliação e remuneração. Os pagamentos devem variar, sobretudo, pelo resultado obtido pelas ações das pessoas e pelo desempenho da empresa. Quem traz resultados e lucros, deve ganhar mais. Mostre realizações positivas e você terá sucesso!

Gilberto Guimarães é diretor do MBA em liderança e gestão de pessoas da Business School São Paulo e presidente da multinacional francesa BPI no Brasil

Esta coluna se propõe a responder questões relativas à carreira e a situações vividas no mundo corporativo. Ela reflete a opinião dos consultores e não do Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.

As perguntas devem ser enviadas para:E-mail: diva.executivo@valor.com.br

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