quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Transparência de auditorias está no foco de reguladores

Entidade que reúne comissões de valores mobiliários quer mais informações sobre qualidade.

Por Fernando Torres, de São Paulo
11/02/2010
Davilym Dourado/Valor

Ana María Elorrieta, presidente do Ibracon: órgãos reguladores e empresas clientes já recebem informações
Os órgãos reguladores internacionais consideram que a falta de transparência das auditorias é uma questão que tem que ser atacada e estudam adotar uma série de medidas para aumentar o nível de divulgação sobre estrutura de governança, controle de qualidade e informações financeiras das firmas do setor.

Essa análise consta de uma consulta pública aberta no fim do ano passado pela Iosco, entidade que reúne as comissões de valores mobiliários de todo o mundo. Os comentários dos interessados foram entregues até o último dia 15 de janeiro.

A Iosco diz que é particularmente importante ter informações sobre a qualidade do trabalho das auditorias e sobre saúde financeira delas, em um cenário em que as quatro maiores empresas do setor - PricewaterhouseCoopers, Deloitte, Ernst & Young e KPMG -, auditam os balanços de 98% das 1,5 mil maiores empresas dos EUA e de 96% das 250 maiores companhias do Reino Unido, por exemplo. No Brasil, a concentração é de 58% entre as companhias abertas.

A Iosco menciona que há dúvida se essa concentração limita as opções das empresas e também se há o risco de haver uma falta de oferta de serviço de auditoria para grandes corporações se uma das quatro maiores "deixar o mercado".

Na lista de informações que a Iosco sugere que poderiam ser divulgadas, é possível fazer uma divisão em quatro áreas: governança e controle; pessoal e treinamento: indicadores do resultado do trabalho; e informações financeiras.

De forma geral, as auditorias não veem problemas em divulgar mais informações sobre os dois primeiros grupos, sobre governança e pessoal, que acreditam estar mais diretamente ligadas à avaliação da qualidade da auditoria.

Há mais resistência, porém, em fornecer informações financeiras, como balanço auditado das próprias auditorias, e também indicadores ligados ao resultado do trabalho, como a existência de litígios judiciais ou de procedimentos disciplinares, dados sobre aceitação e rejeição de clientes, número de balanços republicados etc.

A própria Iosco, ao apresentar várias dessas sugestões, questiona no relatório se essas informações contribuiriam ou não para a melhora da qualidade do trabalho de auditoria, ou se poderiam ter benefício limitado ao ou ser mal interpretadas.

Ao analisar o caso sob o ponto de vista local, a presidente do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon), Ana María Elorrieta, avalia que os auditores já são bastante transparentes com os reguladores e também com empresas clientes. "Conheço inúmeros casos em que o comitê de auditoria da companhia pede informações sobre controle de qualidade da firma, antes ou depois da contratação", afirma Elorrieta. Na visão dela, portanto, já existe essa transparência, embora apenas para os públicos restritos.

Para a presidente do Ibracon, a divulgação ampla dos demonstrativos financeiros, por exemplo, não contribui para a qualidade. "Na minha opinião, ter uma alta lucratividade não significa qualidade na profissão de auditor."

A CVM participa do grupo técnico da Iosco que vai avaliar as sugestões recebidas do mercado sobre esse assunto .Segundo Eduardo Manhães, superintendente de relações internacionais da autarquia, não há uma data pré-determinada para que haja uma conclusão. Mas se houver consenso na área técnica, um documento poderá ser levado para aprovação de todos os membros da entidade, na reunião anual de junho. Se aprovada, a resolução vira um princípio e cada CVM local buscará adotá-lo.

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