terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Composição dos conselhos ainda é questão a melhorar

Composição dos conselhos ainda é questão a melhorar

Silvia Fregoni, de São Paulo
02/02/2010
Daniel Wainstein/Valor

Os conselhos de administração passaram por grande evolução nos últimos anos, mas ainda têm muito a aprimorar, principalmente em relação à composição e à atuação. A conclusão é do estudo "Panorama da Governança Corporativa no Brasil", realizado pela consultoria Booz&Company em parceria com o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e que será apresentado hoje em São Paulo.

A composição dos colegiados está mais diversificada, na comparação com o primeiro levantamento desse tipo, realizado em 2003. A participação dos conselheiros proprietários diminuiu e a dos independentes aumentou, conforme manda a cartilha da boa governança empresarial. Entretanto, a existência de executivos nos conselhos de administração cresceu, o que não é uma boa notícia.

Em 2003, 48% das empresas abordadas no estudo tinham o proprietário no conselho. No ano passado, esse percentual era de 30%. As companhias com independentes subiram de 8% para 22% e as que têm executivos no órgão passaram de 10% para 14%.

"Com a menor participação dos donos, as empresas passaram a buscar outros conselheiros e há uma tendência de se achar que pessoas de fora não têm conhecimento suficiente sobre o negócio, o que é uma avaliação incorreta", afirma Paolo Pigorini, vice-presidente da Booz&Co.

Para ele, isso explica o maior número de indicação de executivos para a função, enquanto a recomendação é sempre de busca por conselheiros externos, que podem agregar novas visões à companhia.

Em relação à composição do colegiado, o estudo identificou ainda que a participação feminina continua muito restrita. Apenas 6% dos conselheiros são do sexo feminino e só 50% das empresas têm alguma mulher como membro do colegiado, contra mais de 85% na Suécia e na Finlândia, 82% no Reino Unido, 80% na Alemanha e 77% na França, por exemplo. "A diversidade, inclusive em gênero, é uma prática indicada", afirma Heloisa Bedicks, diretora executiva do IBGC.

A relevância do tema governança empresarial evoluiu muito nos últimos anos, com maior reconhecimento da importância do assunto pelas empresas, segundo o estudo. Apesar disso, houve uma deterioração na percepção dos administradores das companhias quanto ao funcionamento dos conselhos, sobretudo em relação às contribuições dadas. De cinco quesitos pesquisados, quatro pioraram, na avaliação dos entrevistados. São eles: registro e disponibilização das decisões do órgão; qualidade das informações disponibilizadas; definição da pauta das reuniões; e dinâmica das contribuições.

Para Heloisa , os gestores estão mais atentos à importância da atuação dos conselheiros no dia a dia. "As pessoas começaram a ficar incomodadas com aqueles conselheiros que entram mudos e saem calados. É uma visão mais crítica sobre o conselho, e não necessariamente uma piora do órgão", avalia.

A diretora do IBGC acredita que alguns acionistas, como fundos, escolhem conselheiros que não estão preparados para a função e não têm interesse no cargo. "Muitas vezes um conselheiro independente é escolhido quando o acionista sabe que ele não vai dar problemas ou levantar questionamentos."

A responsabilidade dos conselheiros mudou nos últimos anos. Enquanto em 2003 acreditava-se que uma das principais funções do órgão era refletir as crenças e os propósitos dos acionistas (71% dos entrevistados pensavam assim), hoje o destaque é para a estratégia, a gestão do desempenho da empresa e a administração de riscos.

"Não sabemos se a questão dos riscos ficou entre as responsabilidades por uma crença ou por reflexo do que aconteceu no mercado recentemente", afirma Pigorini, referindo-se à crise global e às perdas de empresas brasileiras com derivativos. "Mas é algo importante", completa.

O estudo envolveu 300 empresas de controle nacional, de capital aberto e fechado, com faturamento acima de R$ 200 milhões. São companhias de vários setores da economia.

Foram enviados questionários aos principais administradores dessas empresas e houve retorno de 137 formulários, representando 85 companhias, sendo 68% listadas na bolsa. Os questionários foram respondidos por presidentes executivos, presidentes dos conselhos de administração e fiscal e diretores de relações com investidores. Depois disso, foram feitas entrevistas pessoais com 20 participantes.

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