quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Marisa está pronta para aquisições em 2010

Com receita 18% maior, lucro cresce 92% no quarto trimestre, para R$ 81 milhões.
Marisa está pronta para aquisições em 2010

Por Claudia Facchini e Graziella Valenti, de São Paulo
04/02/2010
Regis Filho/Valor

A Marisa está pronta para aquisições e avalia diversos movimentos. Nem empresas maiores do que ela estão fora da mira. É assim que Márcio Goldfarb, diretor-presidente e sócio do bloco controlador da varejista de moda, define o atual estado de espírito da companhia. "Vou atrás do que eu quero", afirmou. "No ano passado, ofereceram muita coisa para gente e perdemos muito tempo analisando negócios [que não eram o alvo]."

No alvo da Marisa estão ativos que podem tanto expandir sua presença territorial como também ampliar seu posicionamento de mercado. Goldfarb sugere interesse por companhias com focos diferentes, como classes sociais de maior poder aquisitivo.

Mas não é só com aquisição que a Marisa pretende trazer crescimento para 2010. Depois de assistir a um ano de 2009 acima do esperado e um quarto trimestre muito forte, a companhia também ampliou a projeção de abertura de lojas de 28 para 39 neste ano, incluindo a Marisa Lingerie. Dessas, 22 serão de mix completo, 11 só femininas e seis de peças íntimas.

É o resultado do esforço de arrumar a casa e o desempenho das vendas que deixam Goldfarb animado e com apetite para crescer.

No quarto trimestre de 2009, a empresa teve lucro líquido de R$ 80,9 milhões, 92% acima que os R$ 42,1 milhões de igual período de 2008. O avanço da última linha reflete o ajuste nas contas financeiras, com redução do endividamento, a melhoria no desempenho do cartão Marisa e, em especial, a expansão das vendas que permitiram a recolocação dos preços dos produtos para o nível pré-crise.

A empresa teve receita líquida 18% maior de outubro a dezembro, somando R$ 533,7 milhões. O faturamento no conceito mesmas lojas avançou 13,3%, comparado a uma alta de 2,9% no quarto trimestre de 2008 e uma queda de 0,3% no terceiro trimestre. "Isso foi a classe C, nosso foco", disse Goldfarb. "E acerto de coleção, claro."

A força da retomada das vendas abriu espaço para que a empresa revertesse o posicionamento adotado durante a crise - e que permitiu crescimento mesmo durante o período mais crítico - de ampliar em 20% os gastos com marketing e reduzir o preço médio dos produtos. "Nas crises, as empresas se retraem achando que isso é a solução. Nós nos preocupamos em não perder participação de mercado", disse Goldfarb.

Agora, tanto os gastos de propaganda como o preço dos produtos voltaram para seus níveis históricos. O tíquete médio de compra da empresa subiu mais de 10% na comparação anual do quarto trimestre, de R$ 65,24 para R$ 72,12.

Com isso, as margens aumentaram. A margem bruta subiu de 53,1% para 54% e a margem do lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (lajida) avançou 3,7 pontos percentuais, para 23,8%. O lajida subiu 40%, para R$ 127,1 milhões.

Além da melhoria das margens operacionais, a redução da dívida também ajudou. A despesa financeira líquida recuou 80,5%, para R$ 1,5 milhão. A dívida bruta foi reduzida de R$ 404 milhões para R$ 250 milhões ao longo de 2009. Desde outubro de 2008, a companhia optou por não recorrer ao mercado e pagar os vencimentos. Com a redução dos compromissos, ficou com caixa líquido em R$ 106,3 milhões - tem mais dinheiro disponível do que dívida. Em 2008, tinha dívida líquida de R$ 48,3 milhões

Para os interessados em dividendos muito mais gordos pelo acúmulo de caixa, o relatório da administração já informa: "Diante da melhora do cenário econômico e da sólida estrutura de capital, a companhia entende que a melhor forma de remunerar seus acionistas é investir nos projetos de seu planejamento estratégico".

Outro destaque no balanço da varejista foi o cartão Marisa, que, em 2008, chegou a dar dores de cabeça à companhia devido ao aumento da inadimplência. Após tomar uma série de providências, como a mudança na forma de cobrança, as perdas voltaram para níveis bem mais saudáveis.

"Hoje, só temos alegrias com a operação de cartões", afirma Renata Isis Kater, gerente de relações com investidores. A Marisa, acrescenta, também está satisfeita com maneira com que estruturou sua parceria com o Itaú Unibanco. Diferentemente de outras varejistas, que formaram joint ventures com os bancos na área financeira, a Marisa preferiu fazer apenas um acordo comercial, que prevê divisão de lucros.

Segundo Renata, o modelo tem se mostrado positivo para ambos, com resultados até melhores. No quarto trimestre, o cartão trouxe R$ 22,4 milhões, 10 vezes mais do que no mesmo período de 2008.

Com as contas sob controle, Goldfarb avalia que as aquisições potenciais seriam pagas em dinheiro e com alavancagem, pois não tem planos de emitir mais ações nem para captar nem para usar como moeda de troca. "O mercado não reconhece nosso valor. Estamos muito baratos na bolsa." A despeito da percepção do executivo, a Marisa está próxima de seu maior valor em bolsa desde que abriu capital em 2007: R$ 2,4 bilhões, no fechamento de ontem.

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