quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Um bom exemplo de gestão, Vivo ganha atenção com resultado e dilema de sócios

Operadora, que arrumou a casa e virou a preferida dos analistas no setor, volta a ser foco de debates societários devido à consolidação.

Por Graziella Valenti, de São Paulo
20/01/2010

Leonardo Rodrigues/Valor

A Vivo está no centro das atenções do mercado entre as empresas setor de telecomunicações. A companhia, controlada em igualdade de condições pela espanhola Telefónica e pela Portugal Telecom (PT), é hoje a maior empresa do segmento em valor de mercado, avaliada em R$ 20,6 bilhões.

Nos últimos cinco anos, a Vivo mudou sua história, solucionando falhas estruturais. E de 2007 para cá, os resultados financeiros desse esforço começaram a aparecer. De patinho feio do setor, tornou-se a queridinha dos analistas. Para tanto, foi crucial que os sócios controladores andassem juntos, com foco na lucratividade.





Segundo dados da Bloomberg, dos 18 analistas que acompanham a empresa, 15 indicam a compra das ações e três, a manutenção. A média dos preços-alvo aponta que, na opinião desses especialistas, o valor potencial da operadora é de R$ 24 bilhões.

Mas bem agora, quando vive praticamente o auge de sua receptividade pelo mercado, a empresa volta ao foco das expectativas por questões societárias.

Por enquanto, não há notícias de que Telefónica e PT iniciaram qualquer tipo de negociação. Ao contrário, o que se fala é vivem sua melhor fase na relação. Porém, ganha cada vez mais força entre os analistas a avaliação de que o grupo espanhol precisará buscar a integração entre a operação fixa, a Telesp, e a móvel - e rápido.

A diferença é que, com as melhorias dos últimos anos, as apostas dos analistas são de que a Vivo pode sair do papel de consolidada dessa integração para ser a consolidadora, ou seja, ela absorveria a Telesp, no lugar do inverso.

Para chegar a atual situação, a Vivo teve de corrigir problemas nada pequenos como fraudes e clonagens, a troca do padrão tecnológico do CDMA para o GSM, os buracos de cobertura nacional em Minas Gerais e no Nordeste, unir societariamente cinco empresas diferentes e voltar a expandir a base de clientes com rentabilidade.

"A queda dos custos e a melhora dos números vieram da correção das falhas nos processos. Nunca olhei linha por linha do balanço escolhendo onde cortar. Foi consequência do ganho de eficiência", afirma Roberto Lima, presidente da Vivo, que assumiu o negócio em meados de 2005. Só o fim das fraudes e das clonagens fechou um ralo que sugava anualmente cerca de R$ 1,5 bilhão da companhia. "Quando você tem acionistas mais satisfeitos, começa a ter a liberdade de propor projetos", lembrou ele, destacando a migração de tecnologia, anunciada em 2006, que custou R$ 1,3 bilhão. Depois disso, ainda vieram as compras da Telemig Celular e das licenças no Nordeste, além do investimento em banda larga (3G).

Até setembro, último balanço disponível, a Vivo acumulava em 2009 receita líquida de R$ 12 bilhões, 4,3% maior do que em igual período de 2008, e o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (lajida) somava R$ 3,8 bilhões, 9,6% a mais que o mesmo intervalo do ano anterior. O lucro era de R$ 636 milhões.

Os primeiros resultados positivos da Vivo, desde sua criação, surgiram só em 2007, mas ainda modestos. Foi apenas em 2008 que a companhia entrou no azul mais consistentemente.

A rentabilidade operacional da Vivo está atualmente quase dez pontos percentuais acima da concorrente TIM, cujo balanço é o mais comparável por ser também o único puro de telefonia celular. De 2006 para cá, quando a Vivo unificou as cinco holdings que eram cotadas em bolsa, as rivais praticamente inverteram seus papéis. O valor em bolsa da Vivo subiu de R$ 15,7 bilhões para R$ 20,6 bilhões e o da TIM caiu de R$ 21,4 bilhões para R$ 14,8 bilhões.

Além disso, em 2009, a Vivo estabilizou sua participação de mercado entre 29,5% e 30%, embora os analistas afirmem que num universo de quatro grupos nacionais o natural é que cada um tenha perto de 25%. A empresa tem cerca de 51 milhões de assinantes e a base nacional é de 170 milhões de usuários de celular.

O aumento da pressão sobre a Telefônica pela integração deve-se às últimas novidades do setor. Desde que a Telefônica perdeu a GVT para a francesa Vivendi, é corrente nas considerações dos analistas que se tornou urgente para o grupo unir as operações de telefonia fixa e móvel. Esse seria o caminho mais simples para a empresa deixar de ser uma operadora regional paulista para ser nacional, a exemplo do que já fazem suas concorrentes.

A recente decisão do bilionário mexicano Carlos Slim de juntar as companhias América Móvil e Telmex colocou mais lenha nessa fogueira. Dono da Embratel e da Claro no Brasil, e ainda sócio controlador da Net junto com a Globopar, ele poderá integrar melhor a oferta de serviços, de telefonia fixa, móvel, internet e TV paga.

Enquanto o futuro societário da Vivo não se define - e Roberto Lima enfatiza que isso é assunto do acionista e não da empresa - os planos são de expansão contínua de receita e margem.

Banda larga deve ser a força motriz, junto com uma oferta maior de serviços de dados. Segundo o executivo, ampliar a oferta de serviço sobre a mesma base traz reforço de margem, pois dilui o custo de aquisição de clientes. Além disso, há mercado novo para conquistar. Apesar de não conseguir entregar a mesma capacidade que as operadoras fixas, a Vivo pode acessar regiões mais remotas, por ter uma infraestrutura mais flexível.

"A companhia tinha uma coisa do passado para resolver, que era cuidar do organismo do paciente. Agora, o que se coloca é como vai jogar com os outros jogadores", analisa Lima.

Ele se mantém fiel ao discurso de quando chegou à Vivo de que qualidade é o caminho do sucesso. Para Lima, o segredo agora está em gerir as disparidades da base de assinantes, que cada vez mais tem clientes de diferentes classes sociais. "Os grandes desafios se colocam na área de sistemas de informação para que você possa ter uma aproximação mercadológica mais flexível possível", explica. "Pronto, entreguei a estratégia para o concorrente!" (Colaborou Ana Luiza Mahlmeister)

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