quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Orçamentos de TI voltam a crescer

Cenário: Depois de apertar o cinto em 2009, grandes companhias retomam projetos pré-crise

André Borges e Cibelle Bouças, de São Paulo
20/01/2010

A indústria de tecnologia da informação recuperou o ritmo. Depois de um ano fustigado pela paralisação de projetos e a redução de orçamentos, o setor de TI prevê que os investimentos neste ano voltarão a crescer a um ritmo de dois dígitos, como vinha ocorrendo antes da crise, com expansão de até 15% sobre o ano passado.

O cenário positivo é confirmado por dez das maiores companhias do país - em faturamento e número de funcionários - que foram ouvidas pelo Valor. A relação é composta por Petrobras, Votorantim Industrial, Ambev, Bradesco, Itaú, Banco do Brasil, Braskem, Comgás, Klabin e Correios. Somando apenas parte dos orçamentos previstos (nem todas as empresas consultadas divulgam dados de investimento), chega-se a um volume de R$ 10 bilhões em recursos destinados à TI, o equivalente a aproximadamente 20% do que todo o setor - englobando equipamentos, software e serviços - prevê movimentar durante o ano.

Estima-se que o mercado brasileiro de TI movimentou cerca de R$ 60 bilhões em 2009, sendo R$ 12 bilhões oriundos do mercado de consumo residencial e R$ 48 bilhões de empresas. Segundo números preliminares da consultoria IT Data, esse resultado, praticamente idêntico ao de 2008, pôs fim à taxa de crescimento anual de 10% que vinha sendo registrada nos últimos anos.

Para 2010, as grandes empresas preveem ampliar ou pelo menos repetir o mesmo orçamento de tecnologia de 2008. O setor financeiro, historicamente o maior comprador de TI do país, continua a reger o andamento do mercado. Muitos bancos, envolvidos em projetos de longo prazo, optaram por não reduzir os gastos programados para o ano passado e atravessaram a crise financeira sem mexer no orçamento. Foi o caso de instituições como Banco do Brasil, Bradesco e Itaú, que têm renovado sua infraestrutura. "Tínhamos a meta de aplicar R$ 2,9 bilhões em TI em 2009 e mantivemos esse plano. Neste ano, o orçamento chegará a R$ 3 bilhões", diz Laércio Albino Cezar, vice-presidente do Bradesco. Um dos planos é comprar 8 mil caixas de autoatendimento (ATM).

No Itaú Unibanco, diz Alexandre de Barros, diretor-executivo de TI da companhia, a atenção está voltada para a fusão de sistemas entre os dois bancos. "Vamos concluir a última grande frente, que é a integração da rede de agências", diz. "O orçamento de tecnologia para 2010 está na casa de R$ 3,3 bilhões, com uma equipe de 6 mil pessoas."

No Banco do Brasil, uma das prioridades é iniciar a construção de um centro de dados em Brasília, que será usado para integrar operações com a Caixa Econômica Federal. Apenas esse projeto deverá consumir investimentos de aproximadamente R$ 250 milhões. No ano passado, o BB gastou R$ 1,3 bilhão com tecnologia da informação. "Neste ano, o plano é investir R$ 1,4 bilhão", diz José Luís Prola Salinas, vice-presidente de tecnologia e logística do BB.

Fora do setor financeiro, o investimento em infraestrutura também é puxado por muitas companhias que, devido à instabilidade do ano passado, adiaram a renovação ou ampliação de seus parques de equipamentos. A Petrobras planeja iniciar a operação de seu novo centro de processamento de dados, no Rio. Com investimento de R$ 1,14 bilhão para o setor em 2010 - no ano passado foi R$ 1,11 bilhão -, a Petrobras também fará a realocação de seu cabo óptico na Bacia de Campos, diz José Carlos da Fonseca, gerente executivo de TI e telecomunicações da companhia.

A ampliação da infraestrutura também está na agenda dos Correios, informa o diretor de tecnologia e infraestrutura da instituição, José Osvaldo Fontoura Sobrinho. Os Correios ampliaram o orçamento de TI para R$ 120 milhões neste ano, ante R$ 107 milhões em 2009. O foco é a renovação dos centros de dados que a empresa possui em Brasília e São Paulo, além da renovação de máquinas e atualização de softwares. Em março, a empresa pretende divulgar um edital de licitação para que uma fábrica de software produza sistemas planejados pela equipe de TI da estatal. Os Correios também devem lançar, no mesmo período, um edital para aquisição de computadores para renovar o parque, hoje de aproximadamente 50 mil máquinas.

Na petroquímica Braskem, o investimento de R$ 75 milhões reservado para TI deverá ser ampliado se fechada a aquisição da Quattor, transação que a companhia negocia em parceria com a Petrobras. Em 2009, a Braskem alocou R$ 84 milhões para TI - 10,7% a mais que o previsto para 2010 -, mas se levado em conta o faturamento da empresa, o percentual de recursos aplicados em tecnologia permanece inalterado. "Com a conclusão das aquisições, o orçamento poderá ser ampliado para manter o mesmo percentual de investimento em relação à receita", afirma o diretor de tecnologia da informação e serviços compartilhados da Braskem, Stefan Lepecky.

Além de infraestrutura, as grandes empresas demonstram grande interesse em outras áreas. Virtualização, computação em nuvem, mobilidade e integração de sistemas são os temas mais recorrentes.

"Temos 250 servidores [computadores com grande capacidade de processamento de dados] espalhados em 17 localidades. Neste ano vamos virtualizar boa parte dessas máquinas", diz José Geraldo, diretor de tecnologia da Klabin. A virtualização é uma técnica que permite, por meio de software, criar máquinas virtuais dentro de computadores reais, multiplicando seu poder de processamento. No ano passado, diz Geraldo, a crise financeira levou a Klabin a cortar pela metade seu orçamento de TI. "Nesse ano voltaremos ao patamar de 2008."

Na Petrobras, o novo centro de dados da empresa - que recebeu investimento de R$ 300 milhões - terá cerca de 6,1 mil servidores em dois anos, diz Fonseca, dos quais apenas 2,9 mil serão máquinas físicas. "Nosso objetivo é ter 55% de servidores virtuais até 2011."

O tema também está na pauta do Bradesco, que pretende reduzir pela metade um parque de 1,2 mil servidores que tem espalhado entre agências e escritórios. Na Ambev, a virtualização já alcançou os computadores de mesa. "Estamos investindo em um desktop virtual, que consome menos da metade da energia de um equipamento comum", diz Renato Nahas, diretor de TI e serviços compartilhados da companhia. Em paralelo, a Ambev vai ampliar o uso de equipamentos móveis. "Estamos em um processo de automação de força de vendas. Temos 6 mil vendedores que já usam computadores de mão, mas neste ano teremos mais mil pessoas usando esses equipamentos", diz Nahas.

Companhias como Comgás, Klabin, Ambev e Votorantim Industrial também avaliam com mais cuidado o trabalho de integração de recursos de TI de vários fornecedores e a computação em nuvem - modelo pelo qual os dados trafegam na rede, em vez de ficar no computador do usuário. Segundo Fabio Faria, diretor corporativo de TI da Votorantim, a companhia acaba de concluir a padronização dos sistemas que rodam em suas unidades do Brasil e do exterior. O software de gestão da empresa, que custou US$ 53 milhões para ser implantado, é usado atualmente por quase 10 mil funcionários. "Vamos aperfeiçoar nossos sistemas", diz Faria. "Neste ano triplicaremos os investimentos de TI em relação ao ano passado." (Colaborou Ana Luiza Mahlmeister)

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