terça-feira, 13 de abril de 2010

Um trilhão de razões explicam por que os "hackers" estão ganhando a guerra

Peter Burrows, BusinessWeek
13/04/2010

"Fatal System Error: The Hunt for the New Crime Lords Who Are Bringing Down the Internet" - Joseph Menn.

Public Affairs. 281 págs., US$ 25,95

Ivan Maksakov era um jovem de 21 anos magro e de cabelos despenteados que vivia com os pais em Balakovo, uma cidade perdida no interior da Rússia. Então, ele aprendeu sozinho como invadir computadores no mundo todo. Quando a máfia russa descobriu seu talento para invadir sites de jogos da internet, a menos que esses sites pagassem "proteção", fez dele um dos seus. Mas, em 20 de julho de 2004, autoridades britânicas e russas invadiram casas em três cidades russas e prenderam Maksakov. Ele concordou em revelar tudo que sabia, mas depois mudou seu testemunho e alegou que era inocente. No fim, ele e dois outros foram condenados a oito anos de trabalhos forçados.

A história da Maksakov é contada lá pela metade do excelente livro de Joseph Menn. O que torna a história assustadora é que a condenação bem-sucedida desse fraudador menor aparece como a maior das realizações, mencionadas no livro, daqueles que combatem o crime na internet. Foi o melhor que puderam fazer.

Menn fornece detalhes ricos sobre os criminosos mais perigosos que atuam na internet, e também ilustra os muitos motivos de tão poucos deles terem sido levados à Justiça - a falta de uma jurisdição internacional, o suborno de políticos locais e a proteção de funcionários governamentais mais interessados em explorar do que punir as técnicas dos hackers. "O governo russo, e possivelmente o chinês, tem acesso a mentes capazes de não só roubar milhões e milhões de dólares, como também de potencialmente paralisar a economia ocidental", escreve Menn, um jornalista do "Financial Times" e ex-repórter da Bloomberg News. "Por que eles não encorajariam mais pesquisas para desenvolver essa arma?"

Tais declarações poderiam parecer estranhas em algum outro momento, mas não hoje. Recentemente, o Google anunciou que, assim como outras companhias ocidentais, vinha sendo vítima do que poderia ser uma atividade de "hacking" patrocinada pelo Estado na China. E Menn argumenta de maneira convincente que Moscou sabe que "hackers" ligados a um grupo chamado "The Russian Business Network" foram responsáveis pelo fechamento da internet na Estônia em 2007, e na República da Geórgia pouco antes da invasão pela Rússia em 2008.

Tudo isso faz de "Fatal System Error" um livro oportuno. É também uma leitura prazerosa, construída ao redor de dois personagens. A primeira metade concentra-se em Barrett Lyon, um "nerd" disléxico da Califórnia que, quando adolescente, acidentalmente colocou a AOL de joelhos por três dias. Não demorou muito e, em 2002, ele criou uma empresa para ajudar corporações a se defenderem de ataques. Depois, conheceu Andrew Crocker, ex-boxeador que teve parte na criação da Unidade Nacional de Combate ao Crime Hi-Tech do Reino Unido. Com a ajuda de Lyon, Crocker abriu negócio semelhante na Rússia, onde se aproximou de representantes da lei certos para conseguir algumas raras condenações no país. Mais de uma vez, ele e um amigo russo ficam perto demais de prender figurões do crime na internet, mas são frustrados pela corrupção, segundo acredita Crocker.

A verdadeira conquista de Menn é que ele diverte enquanto educa. Um dos motivos da persistência do crime na internet é que é impenetrável demais aos olhos do público em geral para despertar sua ira - apesar de especialistas acreditarem que pode estar custando até US$ 1 trilhão por ano àquele mesmo público. Os leitores poderão não acompanhar cada movimento da história de Menn, mas vão reter o suficiente para ficarem assustados.

O livro termina com sugestões do que deveria ser feito para impedir o crime na internet. Entre as ideias de Menn estão: legalizar e regulamentar os jogos online; financiar programas escolares para o ensino do uso seguro do computador; e reorganizar a própria internet - possivelmente, incluindo um programa federal de identificação que impediria as pessoas de entrar anonimamente na rede.

Menn também pede uma maior vigilância da parte daqueles que surfam na internet todos os dias. "As pessoas que não deixam o gramado de sua casa crescer em sinal de respeito aos vizinhos precisam perceber que ligar um PC sem um 'firewall' forte e sem um sistema operacional e programas antivírus que se atualizem automaticamente é a mesma coisa que deixar uma arma carregada do lado de fora da porta de entrada, à disposição dos transeuntes. Isso praticamente garante que seus computadores serão comprometidos e usados para finalidades perversas."

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