sexta-feira, 16 de abril de 2010

Mesada e finanças da família são as duas noções básicas

A hora certa para falar de dinheiro com as crianças é quando ela começam a pedir "coisas"

Jacilio Saraiva, para o Valor, de São Paulo
16/04/2010

Davilym Dourado/Valor

Silvia Alambert: mesada a partir dos cinco anos, com valor pequeno que aumenta à medida que a criança cresce
Como criar filhos mais conscientes em relação ao dinheiro? A administração de uma mesada pode ajudar as crianças a cuidarem melhor das finanças no futuro? Quatro especialistas em educação financeira garantem que a mesada é uma iniciativa positiva, mas deve ser pontual e apresentada aos filhos a partir dos cinco anos de idade. Para manter o equilíbrio monetário no ambiente doméstico, os pais também devem evitar dívidas, planejar investimentos em poupança e previdência privada, além de manter conversas frequentes com os filhos sobre a real condição financeira da família. "É necessário quebrar o tabu de que não se conversa com criança sobre dinheiro", afirma a educadora financeira Silvia Alambert.

Para a especialista, a hora certa para falar de finanças com as crianças é quando elas começam a pedir "coisas". "A partir dos cinco anos, a criança vai ter uma percepção inicial sobre o dinheiro e já consegue realizar escolhas", diz. "Estará mais aberta a receber informações que poderão ser valiosas para o resto da vida."

Sílvia, que é diretora do The Money Camp Brasil, um programa de educação financeira que treinou mais de 2 mil jovens e crianças nos últimos quatros anos, acredita que o pagamento de mesada para os filhos é importante - mas a decisão depende de cada família.

"É uma ação positiva desde que os pais consigam transmitir conceitos de educação financeira e orientem as crianças sobre o uso do dinheiro", afirma. "A mesada permite que as crianças tenham contato com valores e sintam-se confortáveis com o seu manuseio, pois, ao crescerem, terão de lidar com esse assunto todos os dias."

De acordo com Sílvia, a mesada pode ser dada a partir dos cinco anos, com valores pequenos que aumentam à medida que a criança cresce. "Dessa forma, ela se sentirá responsável pelas próprias economias", diz. "A quantia não pode ser muito baixa a ponto de excluir a criança do seu grupo social, nem tão alta que o jovem não consiga realizar um esforço de planejamento para garantir objetivos maiores."

O importante, segundo ela, é que a oferta "caiba dentro do bolso da família" e passe a ser tratada como um acordo entre pais e filhos, com um dia marcado para o recebimento. "Caso contrário, se os pais quebrarem o trato, as crianças poderão entender as pessoas e o dinheiro como não confiáveis."

Segundo Reinaldo Domingos, presidente do Instituto de Educação Financeira (Disop) e autor dos livros Terapia Financeira e O Menino do Dinheiro, escrito para crianças, os benefícios da mesada valem o sacrifício. "Além de desenvolver o senso de responsabilidade, a administração de um pagamento mensal pode ensinar o quanto pode ser difícil fazer o dinheiro render quando não se tem controle sobre os impulsos de consumo", ensina. "Muitos adolescentes gastam além da conta e recorrem aos pais para conseguirem mais. Se a família ceder aos pedidos, os filhos acham que poderão gastar sem limites. Quando isso acontece, a mesada perde a função educativa."

Silvia diz que para criar filhos mais econômicos, deve-se mostrar a verdade sobre a condição financeira da família, conversar sobre como uma escolha poderá se refletir no futuro de todos e ainda apresentar a "logística" do dinheiro dentro de casa. Ela lembra que não é preciso que os pais digam quanto ganham, mas é importante não criar cenários falsos em relação à situação econômica familiar.

"Há pais que fazem contorcionismos para esconder momentos de dificuldade econômica ou, pior, só abrem o jogo quando a situação está à beira do precipício". Quando isso acontece, os filhos sentem-se enganados por terem sido excluídos de uma situação doméstica. "É necessário conversar sobre dinheiro. Os jovens têm uma percepção muito maior sobre o assunto do que os pais imaginam."

Além da mesada, os especialistas garantem que há outras formas de iniciar as crianças no caminho da educação financeira. "O uso dos cofrinhos para moedas também ajuda a criança a economizar", diz Domingos. "Os filhos precisam entender que, com o dinheiro guardado, poderão atingir objetivos da mesma forma que os adultos poupam para realizar seus planos."

Para o consultor de investimentos Márcio Nobre, os pais devem compartilhar com os filhos o orçamento da casa. "Esse assunto pode ser discutido e, se possível, até com a ajuda de uma planilha que mostre os gastos de energia, água e telefone", diz. "A economia é incentivada e deve ser explicado que, se as despesas continuarem altas, a mesada pode não ser mensal."

Os chefes da família precisam se organizar para pavimentar o futuro do casal e dos filhos. "O casal deve poupar parte dos ganhos para garantir despesas com estudos e com a aposentadoria". É recomendável, segundo ele, contribuir mensalmente com um plano de previdência privada, além de reservar uma economia para investir em renda fixa e variável - se o orçamento permitir. "Se não está sobrando nada para poupar, deve-se rever o orçamento doméstico para que sobre alguma coisa."

Para Nobre, entre as causas mais comuns de endividamento das famílias estão o hábito de não poupar e o incentivo desenfreado ao consumo. "Com a facilidade de crédito, o ato de gastar sem necessidade, apenas por causa de uma promoção ou pela facilidade de pagar em suaves prestações, leva ao acúmulo de contas", diz.

Quando a dívida for feita, é preciso eliminar primeiro as contas que cobram as taxas de juros maiores. Segundo pesquisa da Confederação Nacional do Comércio (CNC), a dívida mais comum é o cartão de crédito, com 72,5% do total das obrigações, seguido de carnês (27,4%) e financiamento de veículos (12,5%). "Por conta dos juros, as dívidas de cheque especial e de cartão de crédito devem ser evitadas a todo custo", diz Luiz Simões, professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi).

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