sexta-feira, 16 de abril de 2010

Especialistas apontam redes do Nordeste como foco da empresa para reconquistar espaço perdido

Especialistas apontam redes do Nordeste como foco da empresa para reconquistar espaço perdido

Magazine Luiza não quer cobra nem lagarto

Daniele Madureira, de São Paulo
16/04/2010
Davilym Dourado/Valor

Depois de perder o Ponto Frio para o Pão de Açúcar e a Insinuante para a Ricardo Eletro, ao Magazine Luiza restou crescer organicamente, o que pode ser bem demorado, ou buscar novos alvos. Partir para uma fusão ou ser comprada não são alternativas para a terceira maior rede de móveis, eletrodomésticos e eletroeletrônicos do país, afirma o seu superintendente, Marcelo Silva, que passou pelo Bompreço e pela Pernambucanas.

"Eu não acredito nesse negócio de juntar cobra com jacaré, isso não dá certo", diz o pernambucano de Palmares, 58 anos, que assumiu a empresa há exatamente um ano. Ser vendido, muito menos. "Jamais! O Magazine Luiza é a última virgem do mercado e não se deixará arrebatar por qualquer um". O qualquer um, no caso, poderia ser o Grupo Pão de Açúcar, um dos poucos no país com cacife para levar a empresa de R$ 2,8 bilhões de receita líquida em 2009, que reverteu o prejuízo de R$ 47,5 milhões de 2008 para um lucro líquido de R$ 50,4 milhões. O Pão de Açúcar vem dizendo informalmente que, se o negócio com a Casas Bahia for cancelado, a Máquina de Vendas e o Magazine seriam candidatos a uma nova associação.

Para Silva - que falou ao Valor pouco antes do anúncio, feito nesta semana, de revisão do acordo entre Pão de Açúcar e Casas Bahia -, quem se associa perde a identidade. "Eu fui do Bompreço, sei da força que esse nome tinha no Nordeste. Depois chegou o Walmart e o nome virou nada. Quando dois se juntam há sempre conflito de valores", diz. O Magazine não é um alvo fácil de levar, reconhece um executivo do varejo. "A Luiza [Trajano, presidente da empresa] tem muita personalidade e não iria se adaptar a uma associação", diz.

Silva sabe, é claro, que uma compra é diferente. "Numa aquisição eu imponho os meus valores sobre quem comprei, não preciso negociar", diz o superintendente, que pretende abrir 30 lojas este ano, para se somar aos atuais 456 pontos de venda presentes em sete Estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país. A questão é para onde voltar as baterias neste momento. Na opinião de especialistas e de fornecedores do varejo, o caminho natural para Magazine é o Nordeste, região que puxou as vendas de eletrodomésticos em 2009 e onde estão concentradas mais da metade das lojas da vice-líder Máquina de Vendas, resultado da fusão entre Ricardo Eletro e Insinuante.

Lá, varejistas como a paraibana Lojas Maia (140 lojas em nove Estados) e a pernambucana Credimóveis Novolar (39 lojas em três Estados) se destacam. Os competidores nordestinos estão a todo vapor: em março, a pernambucana Eletroshopping comprou a Hermol e passou a deter 140 lojas em seis Estados da região. A conterrânea Laser Eletro adquiriu a piauiense Armazém Nordestino para somar 146 pontos de venda no Nordeste.

Mas existem alvos atraentes no Sudeste, mercado original da Luiza e da Ricardo Eletro. A mineira Eletrozema, com 240 lojas, opera em Minas Gerais, São Paulo, Bahia e Goiás. A Edmil, dona de 54 lojas no sul de Minas, também poderia ser alvo. "A proposta deles [da Edmil] é ser a primeira loja de eletroeletrônicos de pequenas cidades", diz uma fonte.

No interior de São Paulo resiste a J. Mahfuz, criada em 1955 e dona de 38 lojas. Mas a joia da coroa do interior paulista e capital é a Lojas Cem, fundada em 1952, e que soma 170 lojas em São Paulo, Rio, Minas e Paraná. Sua controladora, a família Dalla Vechia não mostrou, até hoje, disposição de vender o negócio. "Estão bem consolidados, não têm problema de fluxo de caixa e conseguem ser competitivos", diz uma fonte da indústria.

Para um especialista em varejo, a gaúcha Colombo, dona de cerca de 360 lojas no Sul do país, em São Paulo e Minas, seria outro diferencial de peso. "É bem possível que a empresa caminhe para a venda, uma vez que o fundador, Adelino Colombo, não tem sucessores preparados para assumir e a rede vem se mostrando apática", diz uma fonte. "Qualquer administrador poderia, em pouco tempo, fazer crescer as vendas em até 15% lá".

No Rio, onde o Magazine Luiza não compete e a Máquina de Vendas pretende investir R$ 50 milhões para chegar a 100 lojas neste ano, existem outras oportunidades: Tele-Rio, dona de 28 lojas, e Casa & Vídeo, em recuperação judicial, mas dona de uma rede de mais de 70 lojas no Rio, em Minas e no Espírito Santo.

Um negócio fechado com qualquer uma dessas empresas seria mais um passo no movimento de quebra de paradigmas no varejo - um terreno tradicionalmente formado por empreendedores e marcado por estampar "a cara do dono", fosse ele Samuel Klein, Abilio Diniz ou Luiza Trajano. "Com as fusões, deixou-se um pouco de lado o ego, para se valorizar o crescimento do negócio", diz um consultor. Mas nem sempre essa conta fecha, como mostra a disputa entre Pão de Açúcar e Casas Bahia.

De qualquer forma, Ricardo Nunes e Luiz Carlos Batista, controladores da Ricardo Eletro e da Insinuante, respectivamente, dão mostras de que sempre é possível negociar. "São personalidades completamente diferentes que, por isso mesmo, mostraram maior capacidade de sinergia", diz o consultor. E a família Klein e Abilio Diniz? "Eles são diferentes, mas têm a mesma vontade de levar vantagem pessoal, o que sempre atrapalha".

Nenhum comentário:

Postar um comentário