quinta-feira, 15 de abril de 2010

Casas Bahia e Pão de Açucar, nova avaliação...

Nova conversa entre o Pão de Açúcar e os Klein para rever acordo deve ocorrer até o fim da semana

Sem avanços, Diniz vai se reunir com Casino

Adriana Mattos e Daniele Madureira, de São Paulo
14/04/2010

Os comandos do grupo Pão de Açúcar e da Casas Bahia estiveram ontem em reuniões fechadas, cada um em sua própria sede, na tentativa de avaliar pontos do acordo de fusão das companhias, para a criação da maior rede de varejo nacional. Não houve nenhum avanço. O acordo foi colocado em banho-maria até amanhã. Abilio Diniz, presidente do Conselho de Administração do grupo Pão de Açúcar, foi para a França na noite de segunda-feira, para uma reunião com o comando da rede francesa Casino, sócio da varejista com 50% das ações da varejista. Abilio aproveitou o encontro fechado da cúpula do Casino, que deve divulgar dados financeiros ao mercado hoje, para discutir o assunto com os sócios, segundo apurou o Valor.

Ontem, o Pão de Açúcar admitiu em comunicado ao mercado que as redes estão renegociando as cláusulas do contrato. "CBD e Globex consideram que o acordo de associação celebrado é válido e perfeitamente eficaz, tendo se manifestado no sentido de continuar em discussões com vistas a um entendimento de forma a assegurar a implementação da associação", relatou em nota. Procurada pelo Valor, a Casas Bahia informou que está "mantendo tratativas amigavelmente com o Pão de Açúcar".


Abilio Diniz deve deixar Paris amanhã e com o seu retorno, há uma expectativa dentro do grupo de que alguns dos pontos pendentes possam avançar após o encontro com os franceses. Uma nova reunião entre o comando do Pão de Açúcar, em São Paulo, e a família Klein deve acontecer até o fim dessa semana, na sede da Casas Bahia, em São Caetano do Sul (SP).

O anúncio oficial de revisão do plano de fusão entre Pão de Açúcar e Casas Bahia feito ontem foi o ápice de uma relação que já mostrava sinais de desgaste há pelo menos dois meses. No início de fevereiro, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) deu o sinal verde para o prosseguimento da operação entre as varejistas, depois de celebrar com as duas um Acordo Provisório de Reversibilidade da Operação (Apro). A partir daí, consultores contratados pelo Pão de Açúcar procuraram aprofundar os estudos de sinergia entre as empresas, que proporcionariam economias superiores a R$ 2 bilhões.

Mas há mais de dois meses a Casas Bahia mostra sinais claros de sua insatisfação. As redes discordavam em alterar pontos como a reavaliação do valor dos ativos da Casas Bahia, a serem integrados na nova empresa criada com a fusão. A Casas Bahia não aceita receber R$ 130 milhões em aluguel pelas mais de 500 lojas que farão parte da nova companhia. Além disso, a cadeia quer se desfazer de parcela maior das ações da nova empresa que tem em mãos. Pelo acordo original, ela só pode começar a fazê-lo em 2011.

Por outro lado, o Pão de Açúcar já deixou claro aos Klein que a situação não é tão simples. A rede terá que integrar a Casas Bahia à sua estrutura e isso vai levar tempo e dinheiro. As duas redes têm formas contábeis diferentes de calcular indicadores, como provisão de débitos e atraso de pagamentos. A taxa de inadimplência na Casas Bahia chega a 12% em algumas regiões do País e, na média, está em 10%. No grupo Pão de Açúcar essa taxa não passaria de 5%. Além disso, o Pão de Açúcar já ressaltou que será preciso investir na integração das redes, e essa conta é alta.

"A integração das redes foi sendo desenhada ao mesmo tempo em que os comandos das duas redes tratavam dos pontos do acordo que a Casas Bahia queria rever", conta um executivo próximo às negociações. "Mas não era possível avançar em questões operacionais, como a unificação do sistema de logística e distribuição, por exemplo, se a Casas Bahia fazia corpo mole na hora de contribuir com as informações necessárias para a fusão avançar", diz uma fonte que está acompanhando o acordo. Uma das mais importantes sinergias que já deveria estar funcionando ou, pelo menos, ter sido definida diz respeito ao sistema de logística e distribuição. Embora tenha havido a mudança de executivos do Ponto Frio e do Pão de Açúcar para São Caetano do Sul, sede da Casas Bahia, as operações de compra e logística, por exemplo, permanecem separadas. "Ninguém assinou contrato no escuro e a briga não é boa para nenhum dos dois", afirma um executivo que acompanha o acordo. "Abilio não é uma pessoa muito flexível, mas tem se mostrado propenso a escutar o que a outra parte tem a dizer."

Analistas acreditam que a Casas Bahia tem menos a perder com o possível fim da união do que o Pão de Açúcar. Foi por isso que a Ativa retirou o papel do Pão de Açúcar (PCAR5) da carteira da corretora. "Não temos certeza dos pontos do contrato que podem ter ajustes e vamos manter a recomendação 'neutra' para o papel até termos maiores informações", diz a analista Juliana Campos, da Ativa. As ações do Pão de Açúcar tiveram ontem a maior queda (4, 97%) entre os papéis do Ibovespa.

Daniela Bretthauer, responsável pela área de varejo da Raymond James Brasil, diz que não se surpreendeu com a notícia. "Fomos a única corretora a rebaixar a recomendação para a compra do papel Pão de Açúcar na época do anúncio de fusão", diz. Para ela, os termos não estavam claros o suficiente e a fusão foi fechada às pressas, sem demostrativo financeiro ou laudo de avaliação para o mercado. "Estava muito estranho: a família Klein, de repente, cede tudo para o Pão de Açúcar. Não faz sentido".

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