quarta-feira, 12 de maio de 2010

Engenharia brasileira é destaque nos planos da Ford

Montadora busca reduzir custos para manter
Marli Olmos, de Cuautitlán, México
12/05/2010

Depois de reduzir a estrutura nos Estados Unidos, a Ford precisa, para não deixar de crescer, acompanhar a expansão dos mercados emergentes. Com as finanças enxutas, a montadora vai passar a usar mais o trabalho das equipes de engenharia dos países de baixo custo, preferencialmente as que atingiram competência suficiente para desenvolver produtos mundiais. O time de engenheiros da fábrica da Bahia já começou a trabalhar sob esse conceito.

Para Jim Farley, no comando da operação na América do Sul há sete meses, essa nova organização para adequar o tamanho das operações da companhia à demanda de cada mercado exige muito cuidado à medida que busca fazer a empresa crescer sem aumentar os custos. "Isso nos leva à busca da engenharia competitiva e o time da Bahia tem padrão mundial", afirma.

A fórmula é semelhante à da General Motors, que há tempos passou a transferir a elaboração de projetos de engenharia da matriz para a filial brasileira. "Quando eu vejo aqueles incríveis engenheiros de 21 anos de idade na Bahia, eu penso: ' eles são o futuro da companhia ' ", diz o executivo.

Em poucos meses, a função do economista Farley mudou drasticamente. Depois de passar 20 dos seus quase 48 anos trabalhando na área de vendas da indústria automobilística nos Estados Unidos - 17 anos na Toyota e os três últimos na Ford -, no cargo que ele assumiu em setembro saber administrar os custos é fundamental. Além da América do Sul, as operações Ford no México e Canadá também estão sob seu comando.

Um fato curioso, que marcou a sua história, recentemente, tem um pouco a ver com as análises que o executivo faz a respeito do mercado brasileiro. Embora a aparência não negue a origem americana, Farley nasceu na Argentina. O pai se mudou para Buenos Aires para ajudar a abrir a primeira agência do Citibank fora de Nova York. Mas, em nova transferência do banco, a família voltou para a América do Norte quando o garoto completou oito anos. Apaixonado por Buenos Aires, o pai de Jim chegou a pensar em se mudar novamente para capital argentina. Mas na época Farley havia completado 16 anos e, como argentino, corria o risco de ser recrutado para combater na guerra das Malvinas.

Sem saber mais falar espanhol, Farley só voltou para a terra natal há pouco mais de um mês, junto com Alan Mulally, o presidente da Ford, que o "roubou" da Toyota em 1997. Ele acompanhou Mulally para anunciar à presidente Cristina Kirchner um novo plano de investimentos na fábrica da Argentina. O retorno à terra natal durou menos de 24 horas. No dia seguinte, a direção da Ford tinha que estar em Brasília, para anunciar outro investimento adicional, no Brasil, ao presidente Lula.

Mesmo nessa rápida passagem, Farley comparou o que viu com as recordações de menino e observou que a Argentina dos seus oito anos parecia mais importante que o Brasil. Agora a cena parece invertida.

O Brasil é a terceira operação para a Ford fora dos Estados Unidos. Mas tende, em breve, segundo o executivo, a passar à frente do Reino Unido, o segundo mercado, em volume de vendas, para a montadora. Farley vê o potencial brasileiro apoiado em dois pilares. O primeiro está no surgimento de novos clientes: "O governo de Lula e equipe colocou o mercado em posição de decolagem, abrindo espaço para uma nova geração de classe média que está comprando carro zero quilômetro pela primeira vez na vida".

A segunda base de sustentação do potencial, diz o executivo, vem na mistura do surgimento de legislações mais rigorosas em relação à segurança e níveis de emissões dos carros com o surgimento de consumidores mais exigentes: "Já estão sendo criadas leis que exigem carros mais limpos e equipamentos, como o airbag; e, além disso, o consumidor brasileiro conseguiu um poder aquisitivo mais elevado, que o permite exigir veículos melhores."

O Brasil está sendo inserido no conceito que a montadora criou recentemente, chamado One Ford, que é uma estratégia que busca ter uma linha de modelos mundiais sobre pequeno número de plataformas. A administração dos custos é essencial para o sucesso do plano.

Por meio dessa estratégia, a montadora americana pretende incrementar o intercâmbio de produtos e de componentes entre as fábricas, principalmente onde há acordos comerciais com impostos reduzidos.

Farley não comenta projetos que já estão em andamento, como, por exemplo, a criação de linhas de produção do modelo Ecosport, até aqui feito apenas no Brasil, em outros países, como a China. Também já há planos para utilizar os motores feitos em Taubaté (SP) em futuros lançamentos.

Segundo o executivo, com o programa de investimentos de R$ 4,5 bilhões destinado ao Brasil entre 2011 e 2015, a empresa pretende não apenas aproveitar o crescimento natural do mercado interno como também elevar a sua participação. Por enquanto, a fatia em torno de 11% ainda deixa a Ford muito distante das três maiores montadoras no país (Fiat, Volkswagen e General Motors).

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