quarta-feira, 12 de maio de 2010

Diniz põe mais R$ 1 bi na fusão com Bahia

Empresário concorda em ampliar injeção de capital na nova empresa e os Klein reterão mais recebíveis

Vanessa Adachi e Daniele Madureira, de São Paulo
12/05/2010

Gustavo Lourenção/Valor

Sem falar sobre os termos discutidos, Diniz disse ontem a investidores que a integração com as Casas Bahia não ocorre na velocidade desejada, mas haverá acordo
O grupo Pão de Açúcar vai injetar cerca de R$ 1 bilhão a mais que o previsto inicialmente na empresa resultante da associação com a Casas Bahia para manter o controle acionário, com 51% do capital. As negociações entre o empresário Abílio Diniz e a família Klein para rever as condições do contrato assinado em dezembro se aproximam do fim, embora ainda existam pontos pendentes.

Uma série de ajustes foi promovida e, como resultado final, haverá um realinhamento da avaliação dos ativos de lado a lado. O Pão de Açúcar amplia seu aporte de ativos na Globex, na formação da "nova" Casas Bahia, e os Klein reduzem o seu, tudo isso mantidas as mesmas fatias acionárias de 51% e 49%, respectivamente.

Segundo o Valor apurou, ficou acertado que, além de aportar os ativos do Ponto Frio e da rede Extra Eletro, o Pão de Açúcar fará uma capitalização extra de cerca de R$ 1bilhão na Globex. Esse aumento de capital deve ser feito parte em dinheiro e parte em créditos contra terceiros.

Os termos finais do acordo estão sendo encarados de duas formas. O lado dos Klein defende que, tudo somado, o negócio sairá mais caro ao Pão de Açúcar em mais de R$ 1 bilhão. Mas não é assim que Abilio Diniz enxerga o novo desenho. Do seu ponto de vista, já que o Pão de Açúcar será dono de 51% da nova empresa, terá direito a pouco mais de metade de tudo o que for colocado na nova companhia, inclusive o R$ 1 bilhão da capitalização adicional. Por esse raciocínio, metade da injeção de capital sairia de um bolso para entrar em outro do próprio grupo.

Além do aumento de capital pelo Pão de Açúcar, os Klein reterão uma fatia maior dos recebíveis de venda gerados pela Casas Bahia. Inicialmente, estava previsto que eles ficariam com R$ 1,067 bilhão dos recebíveis. Agora essa fatia subiu em R$ 100 milhões. Ou seja, a capitalização que a família faria na "nova" Casas Bahia diminuiu.

Outro ponto que estava sendo renegociado era o dos aluguéis dos imóveis ocupados pelas lojas da Casas Bahia, que ficaram fora da nova empresa. Os imóveis estão avaliados em R$ 1,9 bilhão. No novo acordo, o valor do aluguel acertado inicialmente, de R$ 130 milhões ao ano, será considerado um piso e poderá subir, segundo o desempenho de vendas das lojas.

O período de restrição durante o qual os Klein não poderão vender os papéis da nova empresa deve ser mantido em um ano. O Pão de Açúcar não terá opção de compra das ações da família Klein.

As mudanças indicam que os Klein estão conseguindo fazer valer parte das suas reivindicações. Especialmente na equiparação do valor dos ativos, um dos três pontos críticos em análise desde janeiro, quando a família pediu a revisão do acordo. A Casas Bahia vinha alegando que entrou praticamente com o mesmo valor do Ponto Frio no negócio (em torno de R$ 1,3 bilhão), mas que seu valor contábil é de R$ 2,7 bilhões. Com a capitalização feita pelo Pão de Açúcar e a retenção adicional de R$ 100 milhões em recebíveis, a distância inicial de R$ 1,4 bilhão seria encurtada.

Os Klein também conquistaram direito de veto em algumas decisões estratégicas - a governança era outro ponto sensível das conversas. Michael Klein é o presidente do conselho da nova empresa, mas não tinha ingerência sobre os rumos do negócio. "Ele não quer ser 'rainha da Inglaterra', ter poder mas não mandar em nada", diz uma fonte.

A família Klein ainda tenta assegurar uma "porta de saída" da sociedade. Como os papéis da Globex são pouco líquidos, uma venda das ações no mercado não é simples (hoje, apenas 4,5% dos papéis da empresa são negociados em bolsa). A Casas Bahia fez uma proposta de redesenho do capital da Globex no mercado, para dar mais liquidez à ação. Essa questão, porém, ainda não foi digerida pelo Pão de Açúcar. Questionada pelo Valor, a diretora de relações com investidores do Pão de Açúcar, Daniela Sabaag, afirmou que não existe a intenção no curto prazo de fazer uma nova oferta pública de ações da Globex.

"Agora não vamos deixar dúvidas"

O recado foi sutil, mas veio certeiro. Em teleconferência com analistas ontem, o presidente do conselho do Grupo Pão de Açúcar, Abilio Diniz, falou pela primeira fez sobre o caso Casas Bahia. "Já que estamos mexendo em contrato, nós resolvemos mexer profundamente, não deixando nenhuma dúvida pela frente", disse. O empresário ressaltou que, em uma operação, é preciso "levar ao extremo as negociações, ler tudo o que está escrito, pensar bem se aquilo é tudo o que a gente imagina".

A crítica velada foi dirigida a Michael Klein, presidente da Casas Bahia, que afirmou publicamente que o contrato escrito e assinado com o Pão de Açúcar em dezembro não correspondeu ao que foi acordado entre as empresas nas conversas iniciais. As negociações entre Pão de Açúcar e a Casas Bahia começaram em agosto, imediatamente após a saída de Saul Klein, primogênito do fundador Samuel, do negócio. "Eles não são bobos, mas estavam mal assessorados e não têm experiência no mercado de capitais", diz uma fonte.

Ontem, Diniz afirmou que o processo de integração com a Casas Bahia não acontece na velocidade desejada. "Mas vamos recuperar o tempo perdido quando a integração estiver concluída", afirmou. "Ao final, nós todos ficaremos satisfeitos", garantiu. Na segunda e terça da próxima semana, Abilio e toda a diretoria do grupo viajam aos Estados Unidos para um workshop de dois dias com o consultor Jim Collins. "Eu o considero o maior guru de negócios da atualidade", disse Abilio. Um dos seus lançamentos em 2009 foi o livro "How the mighty fall", ou "como as poderosas caem". (DM)

Nenhum comentário:

Postar um comentário