quarta-feira, 19 de maio de 2010

Furnas atrasa e Eletrobras divulga balanço incompleto

Alta do dólar no primeiro trimestre melhorou resultado financeiro e contribuiu para lucro líquido reportado de R$ 519 milhões.

Por Fernando Torres e Karin Sato, de São Paulo
19/05/2010

O caminho para que a Eletrobras melhore sua governança corporativa e se transforme na Petrobras do setor elétrico parece que será longo. Já atrasada em relação ao prazo oficial, a companhia apresentou na noite de segunda-feira o balanço relativo ao primeiro trimestre do ano sem incluir nas demonstrações o resultado de quatro controladas, entre as quais está Furnas, uma das mais importantes do conglomerado.

O motivo para a exclusão das empresas é o atraso no fechamento dos balanços individuais.

Dessa forma, o lucro líquido reportado de R$ 519,8 milhões para o intervalo de janeiro a março não pode ser comparado ao ganho de R$ 101,3 milhões referente ao mesmo período de 2009.

O parecer da auditoria PricewaterhouseCoopers (PwC) diz que a apresentação dos dados sem a inclusão dos números de Furnas está "em desacordo com as normas expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários - CVM, aplicáveis à elaboração das Informações Trimestrais".

As ações preferenciais (sem direito a voto) tipo B da estatal caíram 3% ontem, para R$ 26,19, praticamente em linha com o Ibovespa, mas de forma mais acentuada que a baixa de 1,45% do índice do setor elétrico.

Em teleconferência com analistas, o gerente de relações com investidores da Eletrobras, Arlindo Castanheira, disse que em breve será divulgado um novo balanço incluindo Furnas, mas não deu detalhes nem citou uma data.

De acordo com ele, se os números da subsidiária tivessem entrado no balanço, o lucro da Eletrobras teria sido substancialmente superior ao divulgado. Ele disse que Furnas possui um perfil "econômico-financeiro muito parecido com o da Chesf". "Isso nos dá uma ideia do quanto o lucro vai aumentar, uma vez incluída Furnas", afirmou.

No ano passado, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (lajida) da Chesf representou 35% do total consolidado pela Eletrobras, que foi de R$ 5,19 bilhões, enquanto o peso de Furnas foi de 24%.

Neste primeiro trimestre, a Chesf apresentou lucro líquido de R$ 433,8 milhões, contra os R$ 263,6 milhões obtidos em igual período do ano passado, o que equivale a um aumento de cerca de 65%. A receita líquida somou R$ 1,14 bilhão, praticamente em linha com um ano antes.

Já o lajida da Chesf aumentou de R$ 543,6 milhões no período de janeiro a março de 2009 para R$ 660,2 milhões nos primeiros três meses deste calendário.

Considerando os dados consolidados, o aumento do lucro líquido da Eletrobras até março se justifica principalmente pela mudança do resultado financeiro, beneficiado pela alta do dólar. Essa conta do balanço havia sido negativa em R$ 359 milhões no primeiro trimestre de 2009 e gerou ganho de R$ 348 milhões neste ano.

Somente a desvalorização do real em relação ao dólar produziu um efeito positivo em R$ 228 milhões no resultado financeiro, já que a estatal possui recebíveis em moeda estrangeira.

Em termos operacionais, a Eletrobras teve receita líquida de R$ 4,12 bilhões e despesas de R$ 3,63 bilhões no primeiro trimestre. Novamente, por conta da exclusão dos dados de Furnas, os números não são comparáveis à receita de R$ 6,09 bilhões e despesa de R$ 5,46 bilhões do intervalo de janeiro a março de 2009.

Durante a teleconferência, o gerente da companhia também mencionou a usina de Angra 3, projeto no qual foram investidos R$ 44 milhões no primeiro trimestre do ano, pela Eletronuclear.

De acordo com ele, as obras de construção da usina estão no início, de forma que a cifra divulgada representa um percentual muito pequeno em relação aos investimentos projetados. A usina deve começar a operar no fim de 2015.

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