quarta-feira, 2 de junho de 2010

Walmart propõe transportar os produtos do fornecedor até sua loja

Chris Burritt, Carol Wolf e Matthew Boyle, Bloomberg Businessweek
02/06/2010

O Walmart, maior grupo varejista do mundo, tornou-se famoso, e às vezes infame, pelo poder que adquiriu diante de seus fornecedores. Com vendas de US$ 408 bilhões no exercício encerrado em 31 de janeiro, a companhia tem muita força para convencer os fabricantes dos produtos vendidos em suas enormes lojas a criar embalagens ecologicamente corretas e tamanhos exclusivos de produtos, além de participar de campanhas conjuntas de propaganda.

Agora, o Walmart também quer ser o motorista dessas empresas. A companhia pretende assumir os serviços de transporte dos fornecedores nos Estados Unidos, num esforço para reduzir os custos nessa área. O Walmart está entrando em contato com todas as fabricantes que fornecem produtos para suas mais de 4 mil lojas nos EUA, e sua rede atacadista Sam's Club, afirma Kelly Abney, vice-presidente de transporte corporativo da Walmart.

O objetivo: conduzir as entregas dos fornecedores em casos em que o Walmart pode fazer o mesmo por menos, e usar o dinheiro economizado para reduzir os preços nas lojas, diz Abney. O Walmart acredita ter escala para transportar de tudo, de rações para animais de estimação a cadeiras de balanço, de uma maneira mais eficiente que as companhias que fabricam esses produtos. "Isso permite aos nossos fornecedores se concentrar no que eles fazem melhor, fabricar produtos para nós", diz ele. "Com custos menores, normalmente se tem vendas maiores".

Os fabricantes compensariam o Walmart com preços menores no atacado para os produtos transportados pela rede. O Walmart não informa quanto pretende economizar. No entanto, em um negócio de margens pequenas como o varejo, até mesmo pequenas eficiências ajudam nos lucros. Em 2009, o Walmart reduziu suas despesas em quase US$ 200 milhões ao agrupar e planejar de maneira mais eficiente sua frota de caminhões nos EUA, como lembra o porta-voz Lorenzo Lopez.

Até agora, os fornecedores vêm fazendo a maior parte das entregas aos centros de distribuição do Walmart. A companhia usa sua frota de 6,5 mil caminhões e 55 mil reboques para transportar as mercadorias dos centros regionais até as lojas. Com o novo programa, o Walmart vai aumentar o uso de veículos de empresas contratadas, além dos seus próprios, para buscar os produtos diretamente nas instalações dos fabricantes.

Isso permitirá ao Walmart transportar mais mercadorias por caminhão e melhorar as taxas de pontualidade das entregas, diz Leon Nicholas, diretor da consultoria Kantar Retail. A Walmart também terá mais força para negociar os preços dos combustíveis, graças aos maiores volumes que vai comprar, diz ele.

Os cortes de preços que o Walmart almeja são, em alguns casos, duas vezes maiores que os custos do transporte de mercadorias, afirmam funcionários de dois fornecedores. Nos dois casos, o Walmart pediu uma redução de 6% nos preços que paga pelos produtos, com base em seus próprios cálculos de custos, enquanto os fornecedores estimaram que as verdadeiras despesas chegam a cerca de 3%.

"Poderá haver uma defasagem quando formos discutir os custos", diz Abney, do Walmart. "Mas trabalhamos de uma maneira colaborativa. Assim que um fornecedor oferece seus dados, quase sempre essas diferenças são resolvidas rapidamente".

Abney diz que o Walmart possui milhares de fornecedores e a rede vem participando de negociações com mais de 100. Alguns fabricantes já transferiram suas entregas e custos associados à varejista, diz.

Um efeito colateral do plano do Walmart é que os fabricantes de produtos de consumo poderão enfrentar custos de transporte maiores nas entregas a outros varejistas, já que perderão economias de escala em suas próprias frotas de entrega, diz Randy Huffman, ex-executivo do Walmart que hoje comanda a GBD 360, consultoria do Arkansas que trabalha com fornecedores de grupos varejistas.

"Com isso, o Walmart retira custos da cadeia de fornecimento em seu benefício, e não de seus concorrentes", diz ele. "Os fornecedores terão que transferir o aumento dos custos dos fretes para outro lugar, de modo que é mais do que provável que eles serão repassados para outros grupos varejistas".

O Walmart está ansioso por reduzir suas despesas depois de ter anunciado em 18 de maio que suas vendas nos EUA, em lojas abertas há pelo menos um ano, caíram pelo quarto trimestre seguido. Mike Duke, que assumiu o cargo de executivo-chefe no ano passado, prometeu em outubro que os custos iriam subir menos que as vendas. Desde então, o Walmart se dedicou mais às despesas com logística, aumentando as negociações para assumir o transporte de mercadorias este ano, diz Abney.

O Walmart também tenta oferecer produtos como cereais e sabão em pó a preços mais em conta para atrair os consumidores. A redução dos custos com transporte abre espaço para isso. A estratégia é parte do que o Walmart chama de "salto de produtividade" - eficiência refletida em preços menores no caixa. (Tradução de Mario Zamarian)

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