sexta-feira, 25 de junho de 2010

Contadores viram foco da discussão

Rachel Sanderson, do Financial Times, de Londres
25/06/2010

Os contadores correm o risco de se tornar o centro das atenções na reunião deste fim de semana do G-20, o grupo das 20 nações mais industrializadas do planeta. A admissão recente dos formuladores de regras globais da profissão, o Iasb e o Fasb, de que não conseguirão atender o prazo de junho de 2011 estabelecido pelo G-20 para a criação de um único conjunto global de padrões contábeis de alta qualidade, vem recebendo críticas de alguns segmentos.

Michel Barnier, a principal autoridade reguladora contábil da Europa, e presidentes executivos de vários bancos já demonstraram sua insatisfação. No Institute of International Finance (IIF), William Rhodes, presidente do conselho de administração do Citigroup, pediu ao G-20 que "proporcione incentivos". "Sem padrões contáveis globais unificados, não se pode ter padrões reguladores internacionais bem sucedidos", disse.

Depois que a harmonia contábil se tornou o sustentáculo de uma reforma bancária mais ampla, a incapacidade dos formuladores de normas de chegar a um acordo sobre como fazer as empresas de todo o mundo usarem as mesmas regras assumiu um significado político incomum.

Alguns contadores reagem afirmando que o foco do G-20 torna mais difícil obter a convergência. Políticos americanos ou europeus não abrirão mão da soberania sobre as regras contábeis no momento em que o mundo todo está assistindo os acontecimentos, afirmam eles.

No entanto, o destaque dado à profissão pelo G-20 também poderá oferecer uma oportunidade. Poderá proporcionar uma plataforma para a resolução de falhas mais amplas nas demonstrações de resultados corporativos, que deverá precisar de algum tipo de ímpeto político para ser bem sucedida.

Contadores e investidores - e cada vez mais as autoridades reguladoras -, afirmam que as turbulências financeiras dos últimos anos mostraram que há necessidade de uma maior transparência não só nas regras contábeis, mas também nos relatórios anuais. Eles afirmam que o aumento do tamanho e das informações contidas nos relatórios corporativos acaba tornando confuso o quadro da saúde financeira das empresas.

O relatório anual de 470 páginas do HSBC ou os calhamaços de informações não auditadas sobre iniciativas de sustentabilidade sempre são lembrados como exemplos de excessos nas prestações de contas corporativas que acabam provocando confusão.

Numa tentativa de chamar atenção para o problema, o Chartered Institute of Management Accountants, a PricewaterhouseCoopers (PwC) e empresa de pesquisas Tomorrow's Company estão lançando este mês um estudo global sobre as prestações de contas das empresas.

Por meio de uma série de evidências que deverão ser divulgadas por associações espalhadas pelo mundo, o grupo está tentando conseguir a adesão internacional à reformulação das demonstrações financeiras, na esteira da crise mundial.

Suas questões são amplas mas o alvo é perceptível. Ao perguntar quais são os pontos fracos e os pontos fortes do sistema, as barreiras que impedem a evolução das prestações de contas corporativas e as possíveis soluções, o grupo quer identificar as limitações do modelo existente de prestação de contas e se concentrar nas barreiras para mudar esse modelo.

É difícil conseguir apoio suficiente de políticos e reguladores, investidores e contadores para a realização de mudanças significativas, conforme é possível observar. No entanto, o fato de a pesquisa coincidir com a reunião do G-20 e seu foco na contabilidade, poderá dar a ela uma chance maior de sucesso.

Uma pesquisa feita recentemente pela SAS e Thomson Reuters também dá uma ideia das mudanças que os investidores querem fazer. Apenas 12% dos entrevistados consideraram os relatórios anuais compreensíveis e objetivos. Cerca de 25% acham que os relatórios mostram claramente a estratégia da empresa.

E o mais importante: quase todos os entrevistados querem mais informações segmentadas e por divisões, mais transparência em relação à exposição a derivativos e hedging (mecanismos de proteção) e uma melhor compreensão geral dos potenciais riscos.

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