segunda-feira, 16 de maio de 2011

Por que é tão difícil acertar a senha do computador?

Lucy Kellaway é colunista do "Financial Times". Sua coluna é publicada às segundas-feiras na editoria de Carreira
16/05/2011

Ao voltar para a redação depois de um fim de semana prolongado, não consegui começar a trabalhar porque esqueci a senha do computador. Talvez tenha sido a combinação do entusiasmo com um casamento espetacular, com uma morte espetacular, mas meu cérebro não conseguiu se lembrar da sequência de sete dígitos.

Nos dias iniciais do computador eu jamais esqueci minha senha. Isso porque a palavra secreta escolhida por mim era "Kellaway", que eu achava que poderia lembrar facilmente, mesmo nos momentos mais tensos. As coisas começaram a dar errado quando os especialistas em segurança da computação me disseram que essa senha não valeria mais. Relutantemente, mudei para algo mais elaborado e, para ter certeza de que não iria esquecer, escrevi a palavra em um post-it e o colei em minha tela.

Mas agora os post-its são mal vistos e o computador insiste que minha nova senha precisa conter uma mistura de letras, números e rabiscos e ser alterada incessantemente. Para enfrentar essa situação, bolei um sistema: faço um rodízio com as pessoas de minha família, com letras maiúsculas, pontuação e idades.

Mesmo assim, conforme constatei, esse sistema não é à prova de falhas. Imagino que ele é simples a ponto de qualquer hacker decifrá-lo em um nanosegundo, mas é complicado o suficiente para me deixar frustrada. Não consigo me lembrar qual é o membro da família da vez, se devo digitar um ponto final ou uma vírgula, ou qual é a idade do familiar em questão.

Ter de lembrar uma senha já é muito ruim. Mas eu tenho ainda as senhas da conta do banco, e-mail, Amazon e tudo mais que compro pela internet. A maioria delas é formada por variações sobre um mesmo tema, algumas mais longas que outras. Mas qual é qual?

Há algum alívio no fato de que meu desempenho corretivo é melhor que o de algumas outras pessoas. Um estudo recente feito com 23 milhões de senhas mostrou que, de longe, a senha mais popular ainda é 123456. Em termos de palavras, o primeiro lugar ficou com "password" (senha), seguida de "Iloveyou" (amo você) e - de uma maneira embaraçosa - "princess" (princesa) e "rockyou" (algo como sacudir você, ou mexer com você).

Em breve, um novo aplicativo estará disponível para o iPhone, oferecendo fotografias que nos ajudarão a lembrar senhas aleatórias. Mas isso parece um pouco complicado para mim. Em vez disso, consigo imaginar um artifício de memorização mais simples, baseado na única coisa que sempre me lembro perfeitamente - letras de músicas dos Beatles.

Assim, uma senha excelente poderia ser H!Ins, H!Nja - ("Help! I need somebody, Help! Not just anybody"). Mas há dois problemas com isso. Primeiro, não tenho certeza de que a pontuação está certa e, segundo um estudo acadêmico recente, senhas mnemônicas podem não ser mais difíceis de serem decifradas por hackers do que as senhas com os nomes dos seus filhos.

Muitos sites tentam deixar as coisas mais seguras fazendo perguntas supostamente inesquecíveis. Mas eu acho que as respostas a essas perguntas tendem a não ser tão inesquecíveis assim. Na verdade, sempre tenho que inventar as respostas e anotá-las em meu diário para não esquecê-las. Qual o código postal da rua da casa em que você morava quando nasceu? Éééé..., não tenho ideia. Qual é o nome do meio de seu pai? Ele não tem nome do meio.

Piores ainda são os sites da internet que pensam que as preferências são mais seguras que os fatos. Sempre que quero conferir quanto dinheiro tenho na conta do banco, meu banco pergunta: Qual é a sua comida favorita? Como não tenho uma comida favorita, escrevo coisas como "comida maltesa", mas isso não me parece certo. Pior ainda é ser solicitada a fornecer o nome de sua melhor amiga.

Assim como a maioria dos adultos, eu já passei da fase de ter uma melhor amiga. Então o que devo fazer? Digitar o nome da minha melhor amiga na época da escola primária? Devo citá-la mesmo que tenhamos tido algumas desavenças?

No fim das contas, não importa quão obscura é a sua senha. Todos sabemos que ela não é segura. Seja quem for que "hackeou" a rede do PlayStation no mês passado, essa pessoa agora tem acesso a 100 milhões de senhas, e mesmo que aparentemente elas tenham sido "bagunçadas" - isto é, misturadas -, com um pouco mais de perícia elas supostamente podem ser "desbagunçadas". E como a maioria dos usuários provavelmente usa as mesmas senhas para tudo na vida, os hackers poderão muito bem se divertir entrando em contas bancárias e gastando o dinheiro dos outros na internet.

Os poucos técnicos que conheço vêm tentando se proteger comprando softwares que geram uma sequência sem fim de senhas aleatórias e se lembra de todas elas. Mas há um problema com isso também: você precisa se lembrar de uma senha mestra para entrar no sistema.

No final das contas, não consigo deixar de me perguntar por que tudo é tão complicado. Para fazer a coisa mais reservada de todas - por minhas mãos no meu próprio dinheiro -, tudo o que preciso é de um cartão de plástico e um simples código do sistema postal de quatro números. Não preciso saber qual é minha comida favorita ou lembrar das idades de meus filhos. Por que ainda não conseguimos fazer a mesma coisa com um computador?

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