segunda-feira, 20 de junho de 2011

Computação em 'nuvem' ameaça o futuro do PC

Richard Waters e Chris Nuttall - Financial Times, de San Francisco
Valor Econômico - 20/06/2011

A ascensão da tecnologia para tablet e smartphone parece ser o prego no caixão do computador doméstico. A maioria dos usuários é hipnotizada pelos PCs há tanto tempo que tem dificuldade para imaginar o momento em que ele não será mais o centro de seu panorama tecnológico pessoal.

Mas vislumbrar esse futuro não tem sido um problema para muitos no setor de tecnologia, irritados com o prolongado domínio da Microsoft e da Intel, as potências gêmeas do mundo dos PCs. Isso ajuda a explicar por que tantos andam querendo recentemente declarar o fim da era do PC.

Sob a bandeira de um mundo "pós-PC", um grupo diversificado de companhias de tecnologia e de internet vem se movimentando em direção a uma postura diferente. Nela, uma grande variedade de aparelhos "inteligentes", de telefones a televisores, passa a ser o ponto de acesso à informação digital, que reside na "nuvem da computação" - um termo para os centros de dados em escala industrial que estão assumindo as funções de armazenagem de dados e processamento via web.

Depois de mostrar o caminho com aparelhos como o iPhone e o iPad, o presidente-executivo da Apple, Steve Jobs, deu um grande empurrão nas coisas na semana passada com o iCloud.

Assim como acontece com a maioria das declarações radicais, o termo "pós-PC" é ao mesmo tempo menos e mais do que parece. É um exagero de mau gosto do declínio do resistente computador pessoal, que após mais de 30 anos ainda permanece forte. Mas é também um lembrete oportuno de como a influência dominante do PC sobre a maneira como as pessoas vivem suas vidas digitais está rapidamente diminuindo.

A própria máquina está longe de morrer. As vendas (quase 400 milhões de unidades previstas para este ano) estão crescendo de forma constante, graças em parte à entrada, pela primeira vez, dos PCs em muitos lares nos países em desenvolvimento. No entanto, nas fronteiras de seu império, o PC está sob ataque.

Os computadores tablet, liderados pelo iPad, deverão vender algo entre 50 milhões e 80 milhões de unidades este ano - uma faixa ampla que demonstra os problemas que muitos analistas ainda estão tendo para decidir quão grande será o impacto provocado pelo aparelho e a velocidade com que isso vai acontecer.

Quanto dessas vendas ocorrerão em detrimento do PC é também motivo de muita discussão, e um dos principais motivos que levaram à formação de uma nuvem negra sobre o preço da ação da Microsoft nos últimos meses. Segundo a empresa de pesquisas Goldman Sachs, que está entre as mais pessimistas em relação à questão, 35% das vendas de tablets substituirão as vendas de PCs este ano, e a "canibalização" poderá ficar pior.

O PC já enfrentou ataques como este antes - mais recentemente, dos aparelhos de baixo custo, os netbooks, embora esses tenham entrado na arquitetura tecnológica dos PCs.

A Microsoft adotou uma estratégia parecida na resposta ao mais novo pretendente a invadir sua praia: ela quer redefinir o tablet como um PC. No começo deste mês, a companhia exibiu sua nova versão do sistema operacional Windows pela primeira vez, rodando em um tablet - com uma interface de usuário adaptada para o mundo das tecnologias móvel e toque de tela, mas o interior de um PC capaz de rodar todos os aplicativos voltados para um PC.

A Intel também vem tentando ampliar as fronteiras do PC. No fim de maio, a maior fabricante de chips do mundo apresentou o projeto "ultrabook" - uma máquina leve que, segundo ela, vai responder por 40% das vendas de laptops no ano que vem e é resultado de pesadas influências dos tablets e do McBook Air da Apple.

Segundo declarou recentemente Phil Schiller, diretor de comercialização de produtos da Apple, sobre esse pedaço fino e prateado de elegância em computação: "Todo o setor quer copiá-lo". Roger Kay, analista da área de tecnologia, afirma que no final das contas discussões como essas, sobre o tamanho físico dos computadores pessoais, são irrelevantes. "Trata-se de um problema semântico", diz ele. "A definição de PC torna-se irrelevante, ela desaparece."

Os PCs continuarão sendo vendidos em grandes números, mas sua influência vem diminuindo rapidamente. Este ano, pela primeira vez, eles não venderão mais que os smartphones, que nos últimos quatro anos, desde que a Apple lançou o iPhone, vêm tendo uma ascensão extraordinária.

Com um novo formato de aparelho de computação pessoal sendo vendido em grande escala, não surpreende que o foco das atenções esteja mudando. "O PC não é mais o vínculo de inovação da indústria tecnológica", afirma Pat Gelsinger, um ex-diretor de tecnologia da Intel. Os desenvolvedores pararam de criar programas para a máquina e estão agora produzindo aplicativos que podem ser rodados em uma variedade de aparelhos.

A mesmo mudança está ocorrendo entre os consumidores. "Sabemos que estamos vendendo para muitos lugares onde as famílias simplesmente não têm um computador", disse na semana passada Scott Forstall, diretor da divisão de softwares da Apple. Com o iCloud, acrescentou ele, a Apple quer tornar mais fácil a execução de novos aparelhos digitais sem a necessidade de prendê-los aos PCs. "Portanto, agora, se você quiser cortar o fio você pode." Para o estimado computador pessoal, isso soou como mais um prego em seu caixão. (Tradução de Mário Zamarian)

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